Militares acusados dos homicídios do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, mudaram versões sobre o caso nos depoimentos que prestaram à Justiça Militar. O Jornal Extra teve acesso aos primeiros depoimentos prestados pelos homens que integravam a patrulha, horas depois dos crimes.
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Esses relatos foram colhidos na 1ª Divisão de Exército, em Deodoro, por um major que decretou a prisão em flagrante dos agentes à época. Nos depoimentos prestados nos últimos dois dias — oito meses depois — todos os militares se contradisseram em relação ao relato anterior ou acrescentaram informações antes omitidas.
O comandante da patrulha, tenente Ítalo Nunes, por exemplo, disse à Justiça Militar que a tropa foi atacada pelo catador Luciano no momento em que o carro de Evaldo já estava parado, próximo à Avenida Brasil. Ele disse ter atirado na direção de Luciano para revidar os disparos.
"Quando a gente se aproxima do carro, a cerca de 50 metros, a gente avista o assaltante saindo do banco do motorista, ele abandona o veículo atirando na gente e se esconde rapidamente no capô do carro . A gente já atira nele para neutralizar a ameaça", disse o tenente, na última segunda-feira.
Já no dia dos crimes, Nunes não disse ter visto Luciano atirar contra os militares. Ele disse ter "ouvido disparos de arma de fogo, aproximadamente sete", mas "não conseguiu identificar de onde vinham os tiros". Em seu relato ao Exército, o tenente não disse que atirou na direção do catador: afirmou que "realizou aproximadamente quatro disparos de fuzil na direção do veículo, por ser idêntico ao veículo onde os criminosos empreenderam fuga".
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O soldado Gabriel de Barros também mudou seu relato da mesma maneira. No dia dos crimes, disse que "não soube precisar de onde vinham os disparos" feitos em direção à patrulha. Em seguida, disse que "realizou disparos contra o carro". Já à Justiça, afirmou que disparou contra o "meliante que estava atrás do carro, atirando contra os militares".
Um dos acusados se contradisse ao afirmar à Justiça que não atirou durante toda a tarde do dia 7, quando Evaldo e Luciano foram baleados. O soldado Leonardo Delfino disse, no dia dos crimes na 1ª Divisão de Exército, que "realizou um único disparo com seu armamento" no momento em que diz ter presenciado um assalto, minutos antes do músico ser encontrado morto. Na ocasião, ele também afirmou que viu quando um "elemento que empunhava a arma apontou-a na direção da viatura e realizou disparos". Na audiência desta terça-feira, ele disse que não conseguiu ver a ação.
Outro ponto que gerou divergências entre os relatos é a cor da roupa que o homem armado — reconhecido como o catador Luciano por todos os militares nos depoimentos à Justiça — usava quando realizou um assalto. No dia dos crimes, quatro militares — os soldados Vitor Borges, Gabriel de Barros e João Lucas Gonçalo e o cabo Leonardo Oliveira — afirmaram que a bermuda do catador era de "cor clara" ou branca. Nos depoimentos à Justiça, nenhum deles manteve a versão: alguns alegaram que não se lembravam da cor da bermuda, outros disseram que era vermelha.
Os militares também acrescentaram informações nos relatos que deram à Justiça. Todos os agentes mencionaram que ouviram ou foram alvo de disparos do alto de um prédio localizado à frente do local em que o carro de Evaldo parou após o músico ser atingido. Nenhum deles havia fornecido essa informação no depoimento ao Exército.
Nenhum deles também havia dito, no dia do crime, que ouviu uma rajada de tiros enquanto se encaminhava para o local onde o carro de Evaldo parou. Já na audiência na Justiça Militar, esse detalhe foi lembrado nos depoimentos de todos os acusados. Alguns afirmaram ter ouvidos uma rajada de tiros, outros disseram somente ter sido informados por colegas que a rajada existiu.
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Todos os militares respondem ao processo pelos crimes de homicídio doloso e omissão de socorro em liberdade. A previsão da juíza Mariana Aquino, que preside o Conselho de Justiça — integrado por mais quatro juízes-militares —, é de que a sentença saia no primeiro semestre de 2020.
Em seus depoimentos, os militares acusaram o catador Luciano de atirar contra os homens do Exército e de ter assaltado um carro minutos antes de ser baleado. Todos os acusados negaram ter visto Evaldo dentro do carro fuzilado. Em seus relatos, os militares também chegaram a afirmar que os protestos de parentes do músico após o crime eram uma “artimanha do tráfico”.