Falhas na condução das investigações sobre a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, há uma semana, podem dificultar o trabalho da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) para chegar à autoria dos disparos que atingiram a criança de 8 anos no Complexo do Alemão.
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Um dos principais erros foi a polícia não ter apreendido, de imediato, a Kombi onde Ágatha foi baleada. Na madrugada do dia 21, cerca de 24 horas após o crime, o veículo chegou a ser lavado numa ducha da comunidade, na Avenida Itaóca, na subida da comunidade, antes de ser periciado.
Além disso, o carro só foi apresentado à DH um dia depois do crime, quando várias lotadas já tinham sido feitas após o episódio. Também houve a demora na apreensão de fuzis e pistolas dos policiais que estavam no local no dia em que a menina foi morta.
Segundo o advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que dá assistência à família da vítima e ao motorista da Kombi — que pediu para não ser identificado por se sentir ameaçado —, o delegado de plantão na DH no dia da tragédia não informou quando seria feita a perícia.
"Como a polícia não recomendou nada sobre a Kombi, ela foi limpa. Ela chegou até a rodar", afirmou Mondego.
O Globo localizou o dono da Kombi, que confirmou ter lavado o carro, que passou por duas perícias — a primeira no sábado, sem a presença do motorista e do dono do carro, e a outra na segunda-feira, dia 23.
"O carro estava sujo de sangue. Lavei de madrugada, lançando um jato, mas não deu para ver, porque estava escuro, se tinha mais alguma coisa. Estou acumulando dívidas, porque, embora não esteja sem o meu ganha-pão, estou muito triste com o que aconteceu com a família da Ágatha. O meu prejuízo foi material, mas o deles é de uma vida", disse o dono do veículo, que está sem trabalhar.
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Peritos constataram que o estado do fragmento da bala encontrada no corpo da menina inviabiliza o confronto balístico para saber de que arma saiu o disparo. Falta, justamente, o invólucro do projétil, que poderia estar na Kombi, antes de ser limpa.
No fim da tarde de sexta-feira, houve dois atos em memória de Ágatha . Um inter-religioso, na porta do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, e outro organizado por moradores, em frente ao Complexo do Alemão, em Ramos.