A manhã do dia 10 de março de 2013 mudaria a vida de David Sousa. Por volta das 5h30 da manhã, o jovem, na época com 21 anos, estava pedalando na ciclovia da Avenida Paulista para ir para o trabalho. Faltando cerca de 2km para concluir o trajeto, a viagem de David foi interrompida por um veículo que invadiu a ciclovia e atropelou a bicicleta de David, que teve seu braço direito guilhotinado. O motorista do veículo fugiu e arremessou o membro do ciclista no rio Pinheiros.
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David foi socorrido e levado para o hospital. Depois de ficar seis horas sedado, ele acordou e foi informado de que não foi possível reimplantar o braço. Depois de 14 dias, o jovem recebeu alta e voltou para casa para continuar a recuperação. Para ajudar na rotina, a mãe de David pediu dispensa do trabalho, já que o jovem não conseguia realizar tarefas do dia-a-dia sozinho.
“Não tinha força para abrir o chuveiro ou mesmo um creme dental. Tudo que não conseguia fazer sozinho eu tinha que pedir ajuda para minha mãe e para minha cunhada, a Camila”, afirmou o jovem.
Retorno ao mercado de trabalho e ao esporte
David contou que seu retorno ao mercado de trabalho não aconteceu logo depois do acidente . Por conta de sessões de fisioterapia, ele não conseguiu retornar à seu antigo emprego. Dois anos mais tarde, em 2015, ele recebeu uma proposta de emprego da mesma empresa para atuar em outro setor, mas recusou pois o salário seria quase metade do que ele recebia antes do acidente.
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Entretanto, o jovem afirma que não teve problemas maiores para se reinserir no mercado de trabalho. “Nunca tive problemas quanto minha condição física para conseguir emprego, pois as vagas destinadas as pessoas com deficiência físicas sempre são para recepção, telemarketing ou serviços administrativos”, diz David.
Já no âmbito esportivo, a gravidade do acidente, não impediu David de voltar a pedalar três meses depois de ter perdido seu braço. Após ganhar uma bicicleta do dono de uma loja especializada, o ciclista voltou a treinar e, cerca de um mês depois de seu retorno, o ciclista já conseguia pedalar entre 40km e 50km. Além da adversidade física, o jovem relatou que tinha que “fugir” de sua mãe para poder pedalar.
“Também tive que ‘dar perdido na minha mãe’ para pedalar, pois ela tinha medo de deixar eu andar no trânsito em São Paulo”, contou o ciclista.
Perspectivas para o futuro
Apesar das dificuldades, David quer entrar no mundo paraolímpico e viver do esporte como paraciclista. Um ponto que, segundo o ciclista, complicou a sua entrada no esporte profissional foi a falta de patrocínio. “Minhas maiores dificuldades para poder participar de competições eram sempre a falta do patrocinador, pois tudo tem custo: fazer manutenções, revisões ou trocas de peças, viagens, deslocamentos, acompanhamento médico e treinamento específico com preparador”, afirmou David.
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Por conta dessas dificuldades, o futuro paraciclista ressalta a importância de ser patrocinado por uma seguradora especializada em bicicletas para seguir tentando se tornar um paratleta.”Mas hoje, com o apoio da Argo Seguros e de outras pessoas que estão ao meu lado, me acompanhando e ajudando, acredito que o sonho de me tornar um atleta paraolímpico vai se tornar realidade”, completa David.
Além do lado esportivo, David deseja aperfeiçoar sua formação profissional, concluindo o técnico em segurança do trabalho e se formando no curso de Engenharia Ambiental. Construir uma família também é uma das vontades do jovem. “No futuro, realizando essas metas, estarei quase realizado. Vai faltar apenas me casar e construir minha família, com pelo menos dois filhos. Aí sim, estarei totalmente realizado!”, conclui David.