Os pais da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), morta no dia 14 de março de 2018, são contra a federalização das investigações do crime que provocou também a morte de Anderson
Gomes. Para o pai de Marielle, Antônio Francisco Silva Neto, a transferência das investigações para o âmbito federal é desnecessária, após um ano e meio de condução do caso
pelas autoridades do Rio de Janeiro. Ele questionou a proposta de federalização feita pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge
, faltando pouco tempo para ela deixar o
cargo.
“Porque vai para a esfera federal começar um inquérito que já tem esse longo período de investigação? Acho que não é necessário. Nós acreditamos nas autoridades no Rio de
Janeiro, que já deram passo importante na prisão dos dois envolvidos. Porque agora, no final do mandato dela pedir a federalização? Não vejo necessidade. Confiamos no pessoal do
Rio de Janeiro que já têm envolvimento com o pessoal da Polícia Federal na investigação. Se ela tinha esse interesse, deveria ter feito o pedido antes e não no final do seu mandato”, disse nesta quinta-feira (12) durante uma entrevista na sede da Anistia Internacional Brasil, na zona sul do Rio, o pai de Marielle
.
A advogada Marinete Silva, mãe da vereadora, reforçou o argumento. Segundo a mãe, a federalização não faz sentido no momento e seria mais doloroso para as famílias que são
contra. “Não tem porque sair. Até porque, isso indo para a esfera federal hoje, a gente não sabe na mão de quem vai cair este processo”, disse. “Se tem uma investigação há um
ano e seis meses, integrada com a Polícia Federal, não há porque sair do estado onde aconteceu todo o crime para ir à esfera federal”, acrescentou.
Conforme a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil
, Jurema Werneck, o que deve existir é uma integração das autoridades envolvidas com poderes investigativos. “Nós
não opinamos quem deve estar a frente da investigação. O que nós dizemos é que quem quer que seja tem que trabalhar de forma integrada e cooperada para trazer as respostas o
quanto antes”, afirmou.
Ofícios
Ainda na entrevista desta quinta, a Anistia Internacional divulgou os textos de dois ofícios, um encaminhado ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel , e o outro ao procurador-geral de Justiça, José Eduardo Gussem. Nos ofícios a entidade cobra informações atualizadas sobre as investigações do crime e informa que após seis meses das reuniões com as autoridades para tratar do crime, quando foi firmado o compromisso de aplicação de recursos e esforços para descobrir os mandantes do crime “não houve evoluções significativas, gerando dúvidas sobre a prioridade dada pelo governo a este caso”, como aponta o texto encaminhado a Witzel.
De acordo com a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, a entidade vai continuar com a cobrança até que sejam identificados os autores do crime. “Nós não vamos parar
até que essas respostas venham. Não vamos parar até que o governador do estado do Rio de Janeiro, até que o procurador do estado do Rio de Janeiro, que as autoridades responsáveis nos tragam a informação com as provas suficientes sobre quem mandou matar e porque mandou matar. Também não vamos descansar até que essas pessoas sejam levadas à
Justiça e sofram o julgamento justo e sejam responsabilizadas. Esse é o compromisso da Anistia Internacional. O que a gente quer reiterar aqui hoje é isso. A morosidade não é
resposta. O silêncio não é resposta”, apontou Jurema.
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Para Jurema Werneck, cabe às autoridades responderem quem são os mandantes e elas têm a obrigação de dizer se o procedimento aplicado na investigação está certo. “Do nosso ponto
de vista o que precisamos saber é quem mandou matar e porque e também se tudo que foi feito foi de forma adequada. Nós não vamos discutir se foi esse ou aquele. Não cabe a nós.
Cabe às autoridades envolvidas e encarregadas das investigações, vir a público e dizer se todas as matérias [jornalísticas], que saíram ao longo do tempo, são verdadeiras”,
explicou.
Em resposta ao pedido da Agência Brasil para uma declaração do governo do estado ao ofício encaminhado pela Anistia ao governador. A Secretaria de Estado de Polícia Civil,
escolhida para atender ao pedido informou apenas que “a investigação está sob sigilo”. Já o Ministério Público não respondeu até o momento da edição desta matéria.
18 meses
O crime completa um ano e meio no próximo sábado. Para o pai de Marielle é muito tempo sem respostas sobre os autores da morte da filha e do motorista Anderson .
“538 dias do assassinato da minha filha. Desde o início nossas perguntas são as mesmas. Quem mandou matar Marielle e por quê? Dois indivíduos estão presos e esperamos que sejam
levados a júri e condenados exemplarmente, porque se não forem condenados os assassinos e os mandantes, para nós será uma decepção muito grande para a sociedade nacional e
internacional da mesma forma. É inadmissível que uma defensora dos Direitos Humanos seja assassinada nos dias de hoje no Brasil e com toda tecnologia que temos não serem
descobertos os mandantes”, afirmou Antônio Francisco.
Na visão da mãe da vereadora apesar do tempo sem a solução do crime não é possível perder a esperança de que o caso vai ser resolvido. “Não posso deixar de ter esperança de saber quem mandou matar a minha filha. A gente tem que ter esperança sempre. Independente da minha dor profunda”, contou.
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A diretora da Anistia afirmou que durante todo esse tempo, várias vezes autoridades indicaram que a solução do caso estava próxima, mas não foi isso que ocorreu. “Em diferentes
momentos recebemos das autoridades essas informações. Em todos os momentos das autoridades não estavam falando a verdade como a gente vê até agora”.
Marinete está confiante também na audiência, prevista para o dia 4 de outubro, com o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz, apontados como suspeitos de
participar dos assassinatos de Marielle e Anderson e presos em unidade federal no norte do país. “Não quer dizer que eles vão delatar diretamente quem mandou, mas a gente já tem
alguma coisa para que sejam levados a júri e a gente tenha alguma coisa mais concreta em relação a morte da minha filha”, disse.