Policiais da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) prenderam, na manhã desta terça-feira (28), o homem conhecido como "Cão Açogueiro", que matou e esquartejou a estudante universitária Matheusa Passarelli, ocorrido no Morro do Dezoito, em Água Santa, na Zona Norte do Rio.
Manuel Avelino de Sousa Junior, o Peida Voa, trabalhava como porteiro em um condomínio a poucos metros da comunidade. Sem passagem pela polícia, ele não levantava suspeitas, mas, segundo a DDPA, era o esquartejador do tráfico e apelidado como " Cão Açogueiro ", pelo modo cruel de matar vítimas. Ele confessou e deu detalhes do crime.
"Ele foi o autor do disparo e também o esquartejador , confessando o crime . Ele é chamado de "Cão Açougueiro" porque é o "esquartejador oficial" dos traficantes . Quando não se tem o corpo a prisão é de extrema importância a confissão. Isso também tranquiliza a família", disse a delegada Elen Souto, titular da DDPA.
'Cão açogueiro' deu detalhes do crime
Em depoimento, o assassino falou que era segurança do gerente Genilson Madson Dias Pereira, o GG, e que estava de plantão no dia que Matheusa entrou na comunidade, por volta das 2h. Ele foi chamado para contornar a situação, mas que a estudante não estava agressiva, apenas "desorientada, nua, com os olhos muito abertos", mas que não conseguia falar nada.
Um gerente do tráfico do Dezoito "mandou dar uma surra e mandar embora", mas ele disse que não tinha necessidade. Cerca de uma hora depois, o "Cão Açougueiro" foi chamado novamente após supostamente Matheusa, já vestida, surtar e forçar a porta de um morador. O preso conta que ela o agarrou pelo pescoço e com a outra mão pegou o seu fuzil. Foi nesse momento que ele deu um tiro de pistola na altura do abdômen da estudante.
Caída no chão, o assassino ainda deu um tiro de fuzil em Matheusa, que ainda agonizou por cerca de 30 minutos no local. O gerente que havia mandado agredir a estudante determinou que "sumissem" com o corpo. Dois traficantes que exerciam a função de "atividade" no morro foram chamados e arrastaram a vítima até o alto do morro, onde usaram um facão para esquartejá-la.
"Conforme esquartejavam o corpo, foram colocando as partes em um tonel de aço. Após concluírem, o declarante ateou fogo no interior do tonel", disse "Peida Voa" no depoimento à DDPA. Ele afirma que depois de queimarem Matheusa, todos voltaram "normalmente" aos seus postos.
Foi cumprido um mandado de prisão expedido contra ele pela 1ª Vara Criminal da Capital pelo crime de homicídio e ocultação de cadáver. "É uma pessoa extremamente cruel, responsável pelos esquartejamentos no Morro do Dezoito, é uma prisão de extrema importância", reforçou a delegada.
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Na época do crime , o "Cão Açougueiro" deixou a comunidade por conta da grande repercussão do caso, mas a DDPA seguiu investigando a sua participação no crime. Com a cobertura do crime, ele contou em depoimento que decidiu abandonar o tráfico, inclusive porque sua mulher estava grávida.
Ele trabalhou na informalidade em num ferro velho e depois como ajudante de pedreiro. No final de outubro, quase dois meses após deixar o tráfico, ele começou a trabalhar de carteira assinada no condomínio onde foi preso nesta manhã.
Surto e execução no 'tribunal do tráfico'
Matheusa, estudante de Artes Visuais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi morta com um tiro de fuzil e esquartejado no Morro do Dezoito, em Água Santa, em abril de 2018. Desorientada e nua, ela foi capturada pelos criminosos e levada para o "tribunal do tráfico".
Ela foi interrogada Genilson Madson Dias Pereira, o GG, e "Peida Voa", sendo condenada por Messias Gomes Teixeira, o Feio, chefe do tráfico no Dezoito, e executada na localidade conhecida como Pedrão. Seu corpo foi esquartejado e incinerado e os restos mortais nunca foram encontrados.
A universitária tinha saído de uma festa no Encantado, onde iria fazer a tatuagem da aniversariante, que acabou cancelando o trabalho. Ela deixou o evento desorientada e começou a retirar as peças de roupa na rua, deixando um rastro pelo trajeto que fez até a comunidade.
Dois traficantes também foram identificados e tiveram a prisão preventiva decretada pela juíza Viviane Ramos de Faria, da 1ª Vara Criminal. Genilson Madson Dias Pereira, o GG, gerente do tráfico, e Messias Gomes Teixeira, o Feio, o chefe do tráfico no Dezoito, foram acusados por homicídio doloso e ocultação de cadáver. Feio já está preso e GG foi morto em confronto com a polícia, em março deste ano.
O caso teve grande repercussão e gerou comoção, inclusive na Uerj. A instituição manifestou pesar assassinato da estudante. O texto divulgado pela Uerj exalta o apreço da estudante pela educação pública e afirma que seu assassinato é mais uma manifestação "da realidade de violência e desigualdade que se alimenta das distorções econômicas do país".
"O amor de Matheus pela universidade pública, como espaço para realização do sonho profissional e de afirmação dos talentos das mais diferentes personalidades e perspectivas, foi declarado e vivido, sempre apaixonadamente, quando circulava pelos corredores da Uerj", diz o texto.