Mulher denuncia racismo após ser acusada de furto em farmácia de Salvador

Funcionário acusou cliente de ter roubado um creme; drogaria publicou uma nota e afirma que caso de racismo não reflete os valores do estabelecimento

Cliente fez denúncia por racismo na delegacia de Salvador
Foto: Facebook
Cliente fez denúncia por racismo na delegacia de Salvador

Uma moradora de Salvador denunciou um funcionário da farmácia Drogasil por racismo após ter sido acusada injustamente de roubar um creme, no último dia 17. Maria Angélica Calmon, de 54 anos, publicou o relato neste domingo (5). O texto viralizou nas redes sociais. 

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Maria Angélica, que trabalha como assessora de eventos e formaturas, entrou em uma das unidades da farmácia , localizada no Salvador Shopping, por volta das 19h15 do dia 17 de abril. Ela relata que foi encontrar a mãe, a filha e a neta, que estavam comprando remédios de uso diário para a mãe, que tem 86 anos e sofre de pressão alta e problemas cardíacos.

"Esperei passar o susto, melhorar o meu estado emocional, recuperar a minha autoestima, que estava em frangalhos, para compartilhar esta tragédia racista e caluniosa, que aconteceu comigo e a minha neta de 07 anos", escreveu nas redes sociais. 

As quatro saíram da drogaria e foram até a praça de alimentação. Quase duas horas depois, Maria voltou a praça central do shopping quando foi abordada por William, um funcionário da farmácia que a acusou de ter furtado um creme Bepantol. 

"Achei que era uma brincadeira, uma pegadinha de algum conhecido. Ainda falei para ele que era uma brincadeira de mau gosto, mas quando o sujeito falou que não, eu disse que ele devia estar me confundindo. Então, ele respondeu que tinha certeza, pois tinha me visto através das câmeras da farmácia. Percebi que não era brincadeira, e sim, algo sério", relatou.

"Nesta altura, minha neta estava apertando a minha mão com os olhos esbugalhados de medo. Perguntei para o sujeito se ele tinha ciência que estava me constrangendo por algo que tinha certeza absoluta de não ter feito, e ele tornou a repetir: 'nós vimos nas câmeras'". 

Maria disse ao funcionário que ele estava a constrangendo e perguntou se ele queria ver sua bolsa, recebeu um sim como resposta. Ela conta que jogou todos os itens no chão e, quando ele viu que não tinha roubado o creme, disse que "não precisava disso" e saiu em disparada.

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"Comecei a gritar: 'seu racista, mentiroso, preconceituoso, vou processar vocês, isto é crime de injúria e calúnia.' Até este momento ninguém do Salvador Shopping apareceu em meu socorro, só quando gritei, perturbando a paz e a ordem, apareceram 2 seguranças, mas enquanto eu estava sendo exposta, junto com a minha neta, ninguém apareceu, nem prestou qualquer tipo de auxilio ou ajuda", desabafou. 

Maria Angélica prestou queixa no serviço de atendimento ao cliente do local (CAC) e entrou com um processo criminal na 16ª Delegacia da cidade. Ela afirma ainda que o shopping se negou a fornecer as imagens das câmeras, solicitadas pelo seu advogado. "Não acreditei que isto pudesse ter acontecido comigo, pois, até então, me iludia, achando que em Salvador, por ter a maioria da sua postulação de negros, não existia racismo", argumentou. 

A vítima diz acreditar que o funcionário a acusou com o objetivo de humilhá-la, mesmo sabendo que ela não tinha roubado nada, por ter feito a abordagem 2h depois, sem provas e na praça central do Shopping, e não na porta da drogaria.

"O local, premeditadamente escolhido, foi a praça central, de maior circulação do Salvador Shopping, no qual o maior número de pessoas pudessem assistir à cena, já que era Páscoa e o shopping estava cheio , até mesmo acreditar que você, na condição de mulher, negra, com um turbante vermelho na cabeça, segurando a mão de uma criança branca, pudesse realmente estar furtando", escreveu.

Por meio de nota, o Salvador Shopping lamentou o ocorrido e afirmou que prestou assistência imediata à cliente. "O empreendimento é, inclusive, uma referência por desenvolver ações de combate ao racismo, tendo recebido por quatro anos consecutivos o Selo da Diversidade Étnico-Racial, concedido pela Secretaria da Reparação da Prefeitura de Salvador como um reconhecimento público de ações de promoção da equidade racial nas políticas de gestão de pessoas e marketing", justificou. 

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A Drogasil também publicou uma nota e informou que o comportamento do funcionário "não reflete de forma alguma" os valores do estabelecimento. "Pedimos desculpas à Sra. Angélica e informamos que a empresa está concluindo as averiguações e tomará as providências para que o fato não se repita", diz trecho do texto. A farmácia disse ainda que  é "uma empresa com 84 anos e com valores que prezam pela ética e as relações de confiança e respeito, e valorizam o ser humano dentro e fora da empresa".