Fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela não reduziu migração

Desde o dia 23 de fevereiro, mais de 20 mil pessoas já entraram no país por pontos clandestinos; Maduro fechou o lado venezuelano da fronteira para evitar a entrada de ajuda humanitária enviada por Brasil e Estados Unidos

Venezuela bloqueou fronteira para evitar entrada de ajuda humanitária, mas migração continua
Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Venezuela bloqueou fronteira para evitar entrada de ajuda humanitária, mas migração continua

Um relatório das forças de segurança que atuam na fronteira do Brasil com a Venezuela atesta que o fechamento da passagem entre os dois países , determinado por Nicolás Maduro em 23 de fevereiro, não reduziu a migração para o Brasil. Pelo menos 20 mil venezuelanos teriam cruzado para este lado da fronteira desde o início do bloqueio.

No início de abril, a migração venezuelana chegou ao mesmo patamar dos números registrados antes do início do bloqueio. Os imigrantes cruzaram a fronteira por pontos clandestinos de passagem. Dados da Polícia Federal e do Exército mostram que entre 350 e 500 venezuelanos têm pedido asilo ou refúgio diariamente no lado brasileiro da fronteira, em Pacaraima.

Só na última semana, foram registrados 1.557 oedidos, segundo dados da equipe da Organização das Nações Unidas ( ONU ), que atua na fronteira. Metade dos imigrantes entram no Brasil em situação extremamente precária, com sintomas de desidratação ou desnutrição. Cerca de 30% deles são crianças de zero a 14 anos.

Como nenhum venezuelano tem permissão para deixar seu país pela forma convencional, passando pelo posto de fronteira , todos têm de se arriscar por meio de vias clandestinas, nas trilhas abertas na vegetação e nas pastagens. Uma tropa da Guarda Nacional Bolivariana permanece no posto de entrada de Santa Elena do Uairen, no limite com Pacaraima, 24 horas por dia.

Com base nos relatos colhidos, os funcionários da ONU estimam que mais de 80% dos imigrantes, para deixar a Venezuela , precisam pagar propina aos soldados de Maduro, mesmo fazendo o caminho por trilhas.

"O que mudou com o fechamento da fronteira é que as pessoas têm de se submeter a riscos muito maiores. Todos passam por vias não oficiais para chegar ao Brasil. O fato de terem de pagar algum tipo de suborno aumenta o nível de precariedade em que eles chegam. Muitas vezes têm de deixar todo o dinheiro que têm com os guardas", diz Rafael Levy, chefe do escritório da ONU em Pacaraima.

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O desabastecimento na Venezuela, especialmente de medicamentos e alimentos, foi acentuado após o fechamento da fronteira. Isso porque o sul do país vizinho é quase todo abastecido por agricultores brasileiros.  Pelo menos 50 carretas com 30 toneladas cada entravam diariamente na Venezuela, de acordo com funcionários da Receita Federal que atuam em Pacaraima .