CNBB vai ampliar grupo proteção de menores para coibir abuso sexual

O grupo que já existe vai ganhar mais espaço em função de pedido do Papa Francisco; Brasil também vai implantar projeto-piloto do Vaticano

O presidente da CNBB, Sérgio da Rocha, acredita que são necessárias mudanças nos seminários da Igreja Católica
Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
O presidente da CNBB, Sérgio da Rocha, acredita que são necessárias mudanças nos seminários da Igreja Católica

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) informou que vai ampliar sua Comissão para a Proteção dos Menores para combater o abuso sexual contra crianças e adolescentes. A medida se deu em função de um apelo do Papa Francisco para que a Igreja Católica tome medidas concretas contra o abuso sexual cometido por clérigos.

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A Comissão já existia, mas até o momento era pouco relevante. Muitos dos próprios integrantes da Igreja Católica desconheciam o grupo. O cardeal Sérgio da Rocha, presidente da CNBB, afirmou à Folha de S.Paulo que o papa Francisco afirmou que “o santo povo de Deus está olhando para nós e espera de nós mais do que simples condenações". Sérgio estava no encontro “A Proteção dos Menores na Igreja”, que aconteceu no Vaticano em fevereiro deste ano, ocasião em que o Papa deu a declaração citada.

Sérgio acredita que o problema do abuso sexual dentro das igrejas exige medidas amplas para que seja plenamente combatido. "Embora um único caso seja sempre inaceitável, as situações variam. É necessário aprofundar o estudo dos fatores que têm levado a casos de abusos e a sua real dimensão nos diversos contextos socioculturais”, afirmou o presidente da CNBB à Folha . “O campo da formação nos seminários e o da formação permanente dos padres necessita de maior atenção, principalmente a formação humano-afetiva dos candidatos ao sacerdócio, assim como o acompanhamento dos que já são ordenados".

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Dom José Negri, bispo de Santo Amaro, é o responsável pela comissão que trata de abusos sexuais. A diocese de Santo Amaro cobre 112 paróquias no estado de São Paulo e é vizinha a diocese de Limeira que, por sua vez, é alvo de investigações tanto do Ministério Público quanto da própria Justiça canônica.

O bispo de Limeira, dom Vilson Dias de Oliveira, é suspeito de extorsão, de aumentar seu patrimônio e de acobertar o padre Pedro Leandro Ricardo, que foi denunciado por abuso contra menores. O padre foi afastado da Basílica de Santo Antônio, em Americana (SP), em janeiro, após as denúncias de abuso se tornarem públicas. Acredita-se que dom Vilson não tenha tomado atitudes em relação aos crimes do padre, e que este, em troca, silenciou sobre as infrações do superior. Ambos negam as acusações.

Além da comissão, a CNBB preparou um texto orientando seu corpo eclesiástico a como lidar com situações de abuso. "Cuidado Pastoral das Vítimas de Abuso Sexual". O documento foi aprovado em outubro pela Congregação para a Doutrina da Fé — setor da Cúria Romana que investiga crimes sexuais —, mas ainda não foi publicado.

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Na esteira dos projetos da Igreja Católica para atacar este problema, o Brasil vai ser um dos três países onde será implementado um projeto-piloto do Vaticano que funcionará como uma ouvidoria para vítimas de pedofilia. Ao lado de Zâmbia e Filipinas, o Brasil será um pioneiro neste novo projeto de combate aos crimes sexuais.