Ao receber denúncia contra o sargento reformado do Bope Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz , acusados pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, o juiz Gustavo Kalil, do 4º Tribunal do Júri do Rio, apontou "sofisticação" no 'modus operandi' dos criminosos.
O magistrado pôs os dois suspeitos no banco de réus por acusação de terem cometido dois homicídios triplamente qualificados consumados ( Marielle Franco e Anderson Gomes), além de um homicídio tentado duplamente qualificado (contra a assessora Fernanda Gonçalves Chaves, que sobreviveu ao ataque a tiros ocorrido há um ano, no Rio de Janeiro).
"O 'modus operandi', como informado pelo MP e indiciado nas investigações, revela sofisticação, devendo o Poder Judiciário agir com rigor a fim de garantir a ordem pública, evitando o cometimento de novos delitos, valendo notar que, de acordo com a cota ministerial inaugural, as investigações prosseguirão para a elucidação de possíveis outros delitos e outros potenciais envolvidos", escreveu Kalil em sua decisão.
A "sofisticação" citada pelo juiz decorre de uma série de descobertas feitas ao longo das investigações.
Após a análise de aparelhos apreendidos durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em endereços do ex-sargento do Bope, os investigadores constataram que Lessa era "bastante ativo" no uso do buscador Google. Por essa ferramenta, ele realizou pesquisas por termos como "morte ao PSOL", Lula enforcado", "Dilma Rousseff morta", "morte de Marcelo Freixo " e também buscas pelos nomes da esposa e da filha do hoje deputado federal pelo PSOL – que era amigo próximo de Marielle.
Nos dias anteriores à execução de Marielle e Anderson, ocorrida na noite de 14 de março do ano passado, Ronnie Lessa passou a realizar diversas pesquisas por endereços ligados a compromissos da vereadora.
O ex-sargento também fez buscas por uma série de aparatos para o crime, como um adesivo antirradar para aplicar na placa do carro usado na ação criminosa, um rastreador veicular, um silenciador para a arma e uma caixa para que ele pudesse enterrar a submetralhadora HK MP5.
Quanto à participação de Élcio Vieira de Queiroz nos assassinatos, os investigadores da Delegacia de Homicídios e do Ministério Público relataram haver "indícios de que ele teria concorrido para os crimes. "Considerando a dinâmica dos crimes, apenas alguém da estreita confiança de Ronnie poderia tê-lo auxiliado", apontam as autoridades policiais.
Em janeiro deste ano, Ronnie e Élcio foram chamados para depor na delegacia responsável pela apuração dos crimes. Os investigadores descobriram que os dois se encontraram em um restaurante, pouco antes das audiências, para combinar versões.
Segundo a denúncia que levou os investigadores ao nome do ex-integrante do Bope, Lessa teria recebido R$ 200 mil pela execução de Marielle.
Relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indica que a conta bancária de Ronnie recebeu depósito em dinheiro, na boca do caixa, no valor de R$ 100 mil em outubro do ano passado – sete meses após as mortes de Marielle e Anderson.
"Há indícios de que o acusado Ronnie Lessa levaria vida incompatível com seus proventos de sargento da PMERJ reformando, considerando seu alegado endereço residencial e, por exemplo, o suposto aluguel de casa de luxo para passar o carnaval, além da possível propriedade de bens móveis luxuosos em nome de terceiros", destacou o juiz Kalil.
O magistrado também reforçou a necessidade de manter Ronnie e Élcio presos por tempo indeterminado . Os dois estão desde a semana passada no presídio Bangu 1 e serão transferidos, em data ainda não definida, para penitenciária federal de segurança máxima.
"A prisão preventiva, por ora, se impõe seja como forma de assegurar a aplicação da lei penal e a ordem pública, seja para dar efetividade à própria instrução, considerando o contexto fático
tal como delineado até aqui. A gravidade concreta dos fatos tais como imputados indica que não há outra cautelar suficiente."
Para justificar a manutenção da prisão dos suspeitos pela morte de Marielle Franco , o juiz destacou que existe a "possibilidade de que outros crimes tenham/estejam ocorrendo" e também apontou "vínculos de amizade que ambos acusados teriam com agentes públicos da ativa, suspeitos de atividades ilícitas", referindo-se a milicianos.