Em metade dos casos em que alunos ou ex-alunos armados cometeram atentados em escolas no Brasil, os atiradores utilizaram armas que estavam armazenadas em suas casas. O dado foi divulgado em um levantamento do Instituto Sou da Paz, que também criticou a falta de controle do estado do arsenal de armas à disposição na sociedade.
Aos menos oito casos de atentados em escolas brasileiras aconteceram desde 2002. O mais recente foi no último dia 13 na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo . No episódio, ainda não foi determinado como o adolescente que realizou os disparos obteve as armas utilizadas no crime, entre elas, um revólver calibre 38 fabricado pela indústria brasileira Taurus.
Apesar de o levantamento ter analisado poucos tiros ocorridos em escolas no país – em comparação, nos Estados Unidos, no mesmo período, foram registrados 660 ataques a instituições de ensino, segundo levantamento da Escola Naval de Pós-graduação dos Estados Unidos – para o gerente do Sou da Paz, Bruno Langeani, os resultados continuam sendo relevantes.
“A diferença entre os Estados Unidos e outros países desenvolvidos foi a da disponibilidade de armas, que é muito maior em território norte-americano”, informou o gerente à Folha de S.Paulo .
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Segundo Langeani, os brasileiros têm acesso limitado a armas de grande porte, como fuzis e metralhadoras, e isso seria um importante fator para a diferença no número de atentados no Brasil e nos Estados Unidos. Dentre os casos brasileiros estudados pelo Sou da Paz, 77,7% envolveram o uso de revólveres, armas cujo comércio é permitido no País. No caso do massacre em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011, a arma foi comprada de um vigilante que possuía o revólver legalmente desde 1978.
O recente ataque acabou por movimentar o debate em relação à flexibilização da posse de armas de fogo. O decreto presidencial 9.685, assinado em janeiro deste ano, facilita a posse de até quatro armas por pessoa e estende o prazo de validade do registro, de cinco para dez anos.
Após o tiroteio em Suzano, aliados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) se manifestaram sobre o caso e defenderam o decreto de porte de armas . "Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor, servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia. Vamos, sem hipocrisia, chorar os mortos e discutir a legislação, e onde estamos sendo omissos", comentou o senador Major Olímpio (PSL-SP) durante reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.