Em metade dos massacres em escolas no Brasil, armas tiveram origem doméstica

Segundo levantamento do Instituto Sou da Paz, em 50% dos casos de ataques a escolas brasileiras, atiradores conseguiram armas dentro de casa; massacre em Suzano abriu espaço para debate em relação ao porte de armas de fogo

Jovens que entraram com armas em escola de Suzano roubaram veículo usado no crime em concessionária
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil - 13.3.19
Jovens que entraram com armas em escola de Suzano roubaram veículo usado no crime em concessionária

Em metade dos casos em que alunos ou ex-alunos armados cometeram atentados em escolas no Brasil, os atiradores utilizaram armas que estavam armazenadas em suas casas. O dado foi divulgado em um levantamento do Instituto Sou da Paz, que também criticou a falta de controle do estado do arsenal de armas à disposição na sociedade.

Aos menos oito casos de atentados em escolas brasileiras aconteceram desde 2002. O mais recente foi no último dia 13 na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo . No episódio, ainda não foi determinado como o adolescente que realizou os disparos obteve as armas utilizadas no crime, entre elas, um revólver calibre 38 fabricado pela indústria brasileira Taurus.

Apesar de o levantamento ter analisado poucos tiros ocorridos em escolas no país – em comparação, nos Estados Unidos, no mesmo período, foram registrados 660 ataques a instituições de ensino, segundo levantamento da Escola Naval de Pós-graduação dos Estados Unidos – para o gerente do Sou da Paz, Bruno Langeani, os resultados continuam sendo relevantes.

“A diferença entre os Estados Unidos e outros países desenvolvidos foi a da disponibilidade de armas, que é muito maior em território norte-americano”, informou o gerente à Folha de S.Paulo .

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Segundo Langeani, os brasileiros têm acesso limitado a armas de grande porte, como fuzis e metralhadoras, e isso seria um importante fator para a diferença no número de atentados no Brasil e nos Estados Unidos. Dentre os casos brasileiros estudados pelo Sou da Paz, 77,7% envolveram o uso de revólveres, armas cujo comércio é permitido no País. No caso do massacre em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011, a arma foi comprada de um vigilante que possuía o revólver legalmente desde 1978.

O recente ataque acabou por movimentar o debate em relação à flexibilização da posse de armas de fogo. O decreto presidencial 9.685, assinado em janeiro deste ano, facilita a posse de até quatro armas por pessoa e estende o prazo de validade do registro, de cinco para dez anos.

Após o tiroteio em Suzano, aliados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) se manifestaram sobre o caso e defenderam o decreto de porte de armas . "Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor, servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia. Vamos, sem hipocrisia, chorar os mortos e discutir a legislação, e onde estamos sendo omissos", comentou o senador Major Olímpio (PSL-SP) durante reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.