Brasileiras e negras, elas se destacam mundialmente em diferentes áreas do saber

No campo da ciência, da medicina, do direito ou ainda da filosofia, mulheres negras vêm reescrevendo "a história que a história não conta"; confira a lista

Neste Dia Internacional da Mulher, conheça cinco mulheres negras que estão fazendo a diferença em diversas áreas
Foto: iG Arte
Neste Dia Internacional da Mulher, conheça cinco mulheres negras que estão fazendo a diferença em diversas áreas

"Uma mulher negra diz que ela é uma mulher negra. Uma mulher branca diz que ela é uma mulher. Um homem branco diz que ele é uma pessoa”. A declaração – que muito revela sobre a necessidade de se falar em raça quando se fala em gênero – foi dada pela escritora portuguesa Grada Kilomba em uma palestra. Agora, é no Dia Internacional da Mulher que o iG ressalta a importância de se falar, em especial, a respeito das mulheres negras também nesta sexta-feira (8).

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Há algumas décadas, o movimento negro decidiu eleger uma data própria para falar a respeito da luta das mulheres negras , o Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha – criado em 1992 e celebrado todo o dia 25 de julho. Porém, muitas vertentes do mesmo movimento defendem que é necessária a participação dessas mulheres também nas pautas levantadas no, amplamente reconhecido, dia 8 de março.

Afinal, o Dia Internacional da Mulher é de todas as mulheres, mesmo que muitas delas tenham que encarar lutas diferentes daquelas que outras encaram. De acordo com o Atlas da Violência 2018, por exemplo, em 2016, a taxa de homicídios de mulheres negras no País foi 71% superior à de mulheres não negras.

Mas o lugar da mulher negra não precisa ser só no noticiário policial. Isso é o que mostrou a campeã do Carnaval 2019 do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira, que levou à Marquês de Sapucaí um enredo sobre os herois esquecidos da História do Brasil, apontando nomes de mulheres negras e indígenas que fizeram parte fundamental do passado brasileiro. A apresentação ainda ficou marcada por uma homenagem à vereadora Marielle Franco (Psol) – cujo assassinato completará um ano no próximo dia 14 de março.

Pensando nisso e de olho nos anos que estão por vir, o iG decidiu aproveitar o Dia Internacional da Mulher para separar uma lista de jovens e adultas negras que estão fazendo a diferença na história recente do Brasil, em diferentes áreas do conhecimento. Confira:

1. A advogada Lisiane Lemos

Foto: Reprodução/Facebook
Lisiane é uma das mulheres negras brasileiras que estão se destacando pelo mundo no ramo do direito

Especialista de soluções na Microsoft, a advogada Lisiane Lemos, de 29 anos, foi reconhecida em outubro do ano passado como uma das jovens negras mais influentes do mundo. Premiada na categoria empreendedorismo do Most Influential People of Africa Descent (MIPAD), da Organização das Nações Unidas (ONU), Lisiane criou a ONG Rede de Profissionais Negros, que trabalha pela inserção de pessoas negras no mundo corporativo.

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Em 2017, a advogada, que é natural de Pelotas, foi eleita pela revista Forbes , como jovem de impacto no Brasil, integrando uma lista de 91 nomes.

Formada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), ela concluiu sua graduação em janeiro de 2013 e, desde então, tem construído uma carreira alicerçada em temas como igualdade racial e de gênero. Hoje, acumula cargos de liderança no Comitê de Igualdade Racial no Grupo Mulheres do Brasil e de participação no grupo consultivo do Fundo de Populações das Nações Unidas Educação sobre igualdade.

2. A astrofísica Marcelle Soares-Santos

Foto: Fapesp
Marcelle é astrofísica e ganhou um prêmio neste ano por seu trabalho nos Estados Unidos; ela é do Espírito Santo

Capixaba, a astrofísica Marcelle Soares-Santos, de 37 anos, venceu um prêmio em fevereiro deste ano, da Fundação Alfred P. Sloan, e vai receber uma bolsa de US$ 70 mil para investir, da maneira que julgar melhor em seu trabalho. A fundação escolhe, desde 1955, os mais proeminentes jovens cientistas. Ou seja, hoje, a brasileira é reconhecida como uma das melhores jovens cientistas em atuação no mundo.

Doutora pelo IAG-USP, Marcelle é professora assistente de Física na Universidade Brandeis, nos Estados Unidos, e estuda a natureza da expansão acelerada do universo usando dados de alguns dos telescópios mais poderosos já construídos.

3. A filósofa Djamila Ribeiro

Foto: Christian Parente/Divulgação
Djamila é filósofa e fala sobre feminismo negro em seus dois livros; ela é tida como exemplo por várias mulheres negras

Mais conhecida pela imprensa, a filósofa Djamila Ribeiro, de 38 anos, também está entre as mulheres negras que têm feito a diferença na história do Brasil. Mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Djamila é autora de livros, escreve colunas e, recentemente, descobriu que será uma das homenageadas pelo governo francês pelo programa “Personalidade do Amanhã”.

A brasileira ganhou projeção nacional por produzir conteúdos nas redes sociais a respeito do movimento negro e da luta contra o racismo. Além disso, seus livros “O que é Lugar de Fala?” e “Quem tem medo do Feminismo Negro?” tem sido recordistas em vendas em todo o País.

4. A dermatologista Katleen Conceição

Foto: Divulgação
Dra. Katleen Conceição tornou-se a dermatologista número 1 quando se trata de pele negra

Filha de um militar e de uma dona de casa, Katleen Conceição – ou melhor, a Dra. Katleen, como é conhecida – trabalha em uma clínica no Brasil. No local, onde ela passa mais de 10 horas do seu dia, atende desde celebridades a pessoas anônimas que viajam de outras cidades do Brasil e do exterior para vê-la.

Dermatologista, Katleen se tornou uma das maiores autoridades no mundo quando o assunto é a pele negra. Atualmente, junto à Dra Paula Belloti, a brasileira criou um setor, dentro da clínica de dermatologia, especializado em pele negra, que utiliza a melhor tecnologia do mundo no assunto. 

5. A vereadora Marielle Franco (e seu legado)

Foto: Reprodução/Instagram
Em homenagem a Marielle, parlamentares eleitas nas últimas eleições adotaram placas em seu nome frente a gabinetes

Marielle foi assassinada a tiros, há cerca de um ano, no momento em que deixava um evento sobre mulheres negras no Rio de Janeiro. Sua história, sua trajetória e suas bandeiras já vêm sendo contadas e levantadas desde então, em todo o País. No entanto, mesmo depois de morta, a vereadora segue fazendo a diferença na história do Brasil, pois deixou um legado que se refletiu não só no Carnaval do Rio, mas também nas urnas.

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Nas eleições do ano passado, treze mulheres negras foram eleitas para cargos no Congresso Nacional: 12 para deputadas federais e uma para senadora. Dessas, três se declaram pretas, e 10 disseram que são pardas. Boa parte delas já deixou claro que deseja continuar o trabalho de Marielle Franco com direitos humanos.