"Não tenho nenhum motivo para temer a prisão de ninguém", diz presidente da Vale

Fabio Schvartsman se encontrou hoje com Raquel Dodge e apontou acordos extrajudiciais como caminho para atender vítimas de Brumadinho; executivo afirma que a sirene de barragem foi "engolfada" antes que pudesse tocar

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil - 29.1.19
Presidente da Vale, Fabio Schvartsman, durante entrevista coletiva, sobre rompimento de barragem em Brumadinho

O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, teve reunião na tarde desta quinta-feira (31) com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge , em Brasília. Segundo o executivo, o encontro serviu para discutir "todos os aspectos" sobre a tragédia decorrente do rompimento de barragem da mineradora no município de Brumadinho (MG).

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Schvartzman defendeu que sejam consturados acordos extrajudiciais como meio de agilizar a compensação às pessoas afetadas pela tragédia, mas concordou também que deve haver "celeridade" na busca por acordos indenizatórios às vítimas da lama da Vale . "Todos os aspectos foram discutidos. Concordamos que a primeira atenção deve ser às vítimas. Todo o resto é importante e tudo será cuidado, mas haverá essa prioridade", disse.

Questionado sobre a possibilidade de integrantes da atual diretoria da empresa virem a ser presos, o executivo deu de ombros. "Não tenho nenhum motivo para temer a prisão de ninguém."

Na terça-feira (29), dois engenheiros que atestaram a segurança da barragem do Córrego do Feijão foram presos . A juíza que autorizou as prisões temporárias apontou em seu despacho que a medida era necessária para avançar com as investigações sobre o desastre e assinalou que "havia meios de se evitar a tragédia" .

A própria Raquel Dodge chegou a afirmar que  executivos da empresa poderiam ser responsabilizados criminalmente pelo rompimento da barragem e propôs que a Vale fosse penalizada "severamente".

Sirene foi "engolfada" pela lama, diz presidente da Vale

Schvartsman explicou nesta quinta-feira a razão pela qual nenhuma sirene soou para alertar a população de Brumadinho sobre o iminente rompimento da barragem do Córrego do Feijão na última sexta-feira (25). Segundo o executivo, a ruptura se deu de maneira muito rápida e a sirene acabou "engolfada" pela lama antes mesmo que pudesse tocar.

"Em geral, no histórico de rompimento de barragens, isso acontece aos poucos. Aqui aconteceu muito rápido. A sirene que ia tocar foi engolfada", afirmou. "Estamos muito tristes com o que aconteceu e queremos minorar o sofrimento das vítimas."

Dodge havia se pronunciado mais cedo a respeito do encontro com o representante da mineradora. A procuradora-geral, que também se encontrou com movimentos de vítimas da tragédia de Brumadinho, fez apelo para que a empresa buscasse auxiliar as pessoas afetadas mesmo antes de decisões judiciais.

"O problema é complexo, demora a ser resolvido. As empresas precisam assumir, de forma muito séria, o compromisso de zelar pela rigidez dessas barragens para que novas vítimas não sejam atingidas. É preciso que a vida volte ao normal, e isso não é possível se a empresa não assumir, de forma muito clara, suas responsabilidades, independente de questões judiciais", disse Dodge.

O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, atualizou nesta tarde o andamento das ações anunciadas pela empresa no início da semana. Segundo Siani, as famílias de vítimas já estão sendo cadastradas e a mineradora buscará convênio com o Banco do Brasil para conseguir pagar  doação prometida pela empresa no valor de R$ 100 mil a cada família.

O executivo disse ainda que a Vale se comprometeu a pagar ao município de Brumadinho R$ 80 milhões ao longo de dois anos para compensar os impostos que deixarão de ser arrecadados devido à interrupção das atividades. A empresa também informou que já concluiu a construção de barreira de contenção no Rio Paraopeba para tentar evitar o avanço dos rejeitos de minério rio abaixo.

Além dessas medidas, a mineradora se comprometeu também a eliminar todas suas barragens construídas  com o método de alteamento a montante, tais como a de Mariana e de Brumadinho. A Vale estima que esse processo custe R$ 5 bilhões e leve de 1 a 3 anos para ser concluído, período no qual haverá perda de 40 milhões de toneladas de produção anual de ferro.