A Polícia Militar do Ceará confirmouque mais de 800 policiais aposentados se apresentaram até a última quarta-feira (16) para reforçar a segurança pública do estado após uma convocação do governo devido à série de ataques criminosos no estado que começou logo no dia 2 de janeiro.
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Nesta sexta-feira (18), os policiais da reserva participaram de uma reunião para traçar estratégias no Ginásio Paulo Sarasate, no Centro de Fortaleza, e ficou decidido que 150 agentes de segurança pública já iniciarão o trabalho nas ruas da capital do Ceará a partir de hoje.
A convocação dos policiais aposentados foi uma das medidas adotadas pela Secretaria de Segurança Pública do Ceará para tentar conter a onda de ações criminosos deflagrada no estado. Desde o dia 2 de janeiro, foram confirmados 210 ataques em 46 dos 184 municípios cearenses. Em contrapartida, as autoridades também informaram que 383 suspeitos foram capturados por envolvimento nos crimes.
Esse, no entanto, não foi o único reforço que a secretaria de Segurança Pública recebeu desde o início da série de atentados no estado. Após receber o pedido de ajuda do novo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), no próprio dia 2 de janeiro, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de 300 homens da Força Nacional ainda no sábado, 5 de janeiro. Depois disso, diante da gravidade da situação, outros 106 agentes também foram deslocados para o Ceará para reforçar o policiamento.
O novo governador da Bahia, Rui Costa (PT), também foi outro que contribuiu com a contenção da crise na segurança pública do Ceará, ao deslocar 100 policiais militares do seu estado para lá. Além destes, outros 43 policiais militares e agentes de inteligência do Piauí, Pernambuco e Santa Catarina também foram transportados para o estado.
Por fim, o governo federal também deslocou agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em duas ocasiões, totalizando mais de 1.500 agentes de segurança pública a mais nas ruas do Ceará para combater a onda de violência.
Transferência de presos e revistas em presídios do Ceará
Também para tentar conter a onda de violência no Ceará, o governo do Estado promoveu a transferência de 35 presos considerados chefes das principais facções criminosas que atuam no estado, como o Comando Vermelho (CV) e os Guardiôes do Estado (GDE), de Cadeias Públicas no interior do Ceará para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Vinte presos foram transferidos na madrugada de quarta-feira (9) em ação realizada em conjunto pelo governo estadual, o Departamento Penitenciário Nacional e a Polícia Rodoviária Federal. Já na madrugada de sexta-feira (11), outros 15 presos também foram transferidos. Após chegarem a Mossoró, parte deles ainda será transferida para presídios em outras regiões do Brasil.
A transferência foi somada à revista das celas com pente-fino que gerou a apreensão pelas autoridades de 407 aparelhos celulares nas unidades prisionais do estado realizadas por ordem do novo secretário de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, desde o dia 6 de janeiro.
Nesses celulares, foram capturados áudios compartilhados entre membros de facções criminosas que revelaram que as ordens para as ações contra ônibus, prefeituras e prédios públicos partiram de dentro dos presídios.
Em uma das gravações, um detento diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer justamente com que o secretário desista dessas medidas que tornam mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. "Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês", ameaça um criminoso.
Outros aúdios compartilhados em redes sociais também revelam o secretário Mauro Albuquerque ordenando apreensões de celulares e televisores nas unidades prisionais. "Vamos intensificar as gerais dentro das unidades. É pra estar dando geral aí até a gente estar arrancando esses celulares tudinho dentro da cadeia, tá ok?", ordena Albuquerque aos agentes penitenciários.
Origem da onda de violência no Ceará
A onda de violência começou no dia 2 de janeiro, após declarações do novo secretário de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, nomeado pelo novo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), de que o estado não reconheceria mais facções criminosas e os presos poderiam ser misturados nas mesmas alas dentro do presídio. Além disso, o novo secretário conduziu uma série de ações para comabter o crime dentro dos presídios e coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas.
O baixo número de mortes nos mais de 200 ataques reforçam a hipótese de que os ataques são um protesto contra o poder público, hipótese já confirmado também porque os ataques começaram focados em prédios públicos.
Enquanto isso, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), fez um pronunciamento oficial na tarde de sábado (5), após o terceiro dia consecutivo da onda de ataques no estado em que subiu o tom contra os criminosos e afirmou que não pretende recuar no combate ao crime organizado.
Em vídeo divulgado nas suas redes sociais, o governador afirmou ter "absoluta confiança nos mais de 29 mil profissionais cearenses que formam as forças de segurança do nosso estado, que têm se doado noite e dia para combater o crime, especialmente neste momento em que o Estado do Ceará toma medidas duras e necessárias de combate ao crime organizado, fora e dentro de unidades prisionais", disse o político.
"Criamos uma secretaria especialmente para a atuação rigorosa em todos os presídios, agindo com firmeza, dentro da lei e mostrando que o comando é do Estado", continuou o governador. "Endureceremos cada vez mais contra o crime", desafiou. Santana também disse ter total confiança nas forças de segurança de estado e fez questão de mencionar o apoio federal que o estado está recebendo.
"Aproveito para dar as boas-vindas aos agentes da Força Nacional de Segurança e tropas federais que começaram a chegar ao Ceará ontem para contribuir com nossa Polícia nesse enfrentamento", disse o governador.
Na sequência das medidas do poder público para tentar frear a onda de violência no Ceará, os deputados estaduais aprovaram, o governador já sancionou e o Diário Oficial do Estado (DOE) já publicou um pacote de medidas para aumentar a capacidade operacional da segurança pública do estado. A sessão extraordinária, inédita na história da Casa, realizada na tarde de sábado (12) foi convocada por Camilo Santana (PT) e prosseguiu no domingo (13).
Nela, os parlamentares aprovaram ações propostas como o pagamento de recompensa à população para incentivar o repasse de informações que auxiliem os órgãos de segurança estaduais nas investigações criminais. O dinheiro teria como fonte o Fundo de Segurança Pública e Defesa Social, a ser votado na sessão como lei complementar.
Além disso, também foi aprovado o projeto de lei para aumentar a disponibilidade de contingente das forças de segurança. Esse é o caso da proposta de convocação ao serviço ativo de militares aposentados (reserva) e da alteração nas leis que ampliam o limite de horas extras que o governo é autorizado a pagar aos policiais civis e militares, além dos bombeiros e agentes. Com a medida, o teto máximo de prorrogação de jornada dos trabalhadores da segurança pública passa de 48h para 84h mensais.
Por fim, o pacote de medidas aprovado inclui ainda restrições ao uso de áreas no entorno dos presídios do Ceará. Os deputados apreciaram a proposta que cria o Banco de Dados Estadual de Informações de Veículos Desmontados; e o PL que fixa Área de Segurança Penitenciária (ASP) no entorno dos 12 presídios do estado do Ceará, prevendo a restrição de uso dessas áreas.
Moradores e comerciantes sofrem com a violência no Ceará
Apesar do número reduzido de vítimas, os moradores do estado têm enfrentado uma série de transtornos. Isso porque, com o avanço dos ataques, os cidadãos estão tendo dificuldades para se locomover de casa para o trabalho. Segundo relatos, desde que policiais militares passaram a andar dentro dos coletivos, o transporte começou a se normalizar durante o dia, mas no retorno para casa à noite, o medo ainda toma conta já que é ao anoitecer que a maioria dos ataques tem sido realizados.
Há problemas também com o transporte escolar e a coleta seletiva de lixo. As empresas que atuam na limpeza do estado tiveram que reduzir a circulação de caminhões que recolhem os resíduos nas cidade e o lixo já se acumula nas ruas e principais avenidas de Fortaleza.
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Diante da violência no Ceará , o turismo também teve uma queda por conta da insegurança em plena alta temporada. A rede hoteleira que contava com 85% da capacidade ocupada, já contabiliza uma redução para 65% com o cancelamento de reservas. Os prejuízos, no entanto, só poderão ser contabilizados ao final da série de ataques, a princípio, ainda sem hora para acabar.