O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, afirmou que a corporação segue negociando com a defesa a apresentação de João de Deus, mas que isso não deve acontecer antes das 20h deste sábado (15).
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De acordo com o delegado, João de Deus não é considerado foragido, pois não há prazo no mandado de prisão para que ele se entregue e porque existe a negociação com a defesa para o cumprimento da ordem. “Para a Polícia Civil do Estado de Goiás, só falta definir o horário e o local. [Sobre horário] Aí eu não posso te definir, vai depender mais do contato que nós vamos fazer, mais no início da noite”, afirmou André Fernandes.
Ainda segundo ele, equipes seguem procurando pelo médium independentemente das negociações. “Apesar disso, temos equipes procurando. Tem equipe aí que está bem distante, viu?”. Questionado se a apresentação poderia acontecer antes das 20h, ele declarou: “Não, não acontece de jeito nenhum.”
A declaração vem pouco depois da divulgação de uma nota oficial divulgada pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás que diz:
"A Secretaria de Segurança Pública de Goiás informa que as negociaçõies para apresentação de João Teixeira de Faria continuam, sob a responsabilidade da Políci Civil do Estado de Goiás, para cumprimento do mandado de prisão expedido contra ele.
As buscas continuam, sendo realizada por equipe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC). Não há prazo específico para que ele seja considerado foragido.
Novas informações serão prestadas assim que houver novidades."
João de Deus vai se entregar, mas não se sabe onde nem quando
Mais cedo, o advogado que representa o médium João de Deus, Alberto Toron, disse que as autoridades "podem ter certeza" que seu cliente irá se apresentará "espontaneamente" à Justiça, mas não confirmou o local onde isso ocorrerá e disse que isso talvez não ocorra "dentro do prazo" estipulado pelo delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes que é às 14h de hoje.
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A prisão preventiva de João de Deus foi decretada ainda na manhã de sexta-feira (14) após a Justiça aceitar o pedido do Ministério Público de Goiás que já havia recebeu mais de 330 denúncias de mulheres que se dizem vítimas de abuso sexual por parte do líder espiritual João Teixeira de Faria, o João de Deus. Os relatos chegaram de pessoas de seis países diferentes, além de 13 estados do Brasil e do Distrito Federal .
Segundo informações reunidas pelas reportagens do portal G1 e do jornal O Globo , confirmadas pelo iG , o médium deverá se entregar em Goiás mesmo após ter sido procurado em 20 endereços diferentes em Abadiânia, onde realiza os atendimentos na Casa Dom Inácio Loyola, e em outras cidades do estado pela Polícia Civil ontem e hoje e não ter sido encontrado.
Além disso, há uma dúvida em relação ao prazo dado a João de Deus para que ele se aprensente voluntariamente antes de ser considerado um foragido da Justiça . O primeiro prazo dado foi até às 18h de ontem, mas depois o próprio delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, afirmou que ele teria até às 12h deste sábado para se apresentar.
No entanto, o próprio delegado também chegou a dizer na sexta-feira (14) que "a partir das 14h de amanhã (sábado), caso ele não se entregue, vamos considerar que está havendo uma manobra da defesa. Continuamos atrás dele, inclusive com troca de turno de policiais durante a madrugada". Um agende de plantão da polícia que falou com a reportagem confirmou que a corporação o espera até pelo menos às 14h de hoje.
Caso o médium não se apresente até este horário, uma reunião entre a Polícia Civil e o Ministério Público de Goiás deverá ser realizada por volta deste horário para decidir de João de Deus será considerado um foragido da Justiça. Para tomar essa decisão, as partes afirmaram que vão levar em consideração, "a disposição da defesa" de apresentar voluntariamente seu cliente. O paradeiro desconhecido de João de Deus, no entanto, pode pesar contra.
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Defesa de João de Deus está preocupada com prisão e negociando termos
Sobre isso, outro advogado que trabalha na defesa de João de Deus, Thales José Jayme Machado, afirmou ainda ontem que "é preciso que João se apresente, independente do resultado da liminar. Mas também temos que zelar pela integridade física dele."
A liminar, citada pelo advogado, diz respeito a uma decisão da justiça a respeito do pedido de habeas corpus (liberdade provisória) protocolado pela defesa contra a decisão que é considerada "ilegal e injusta" pelos advogados de defesa. "A impetração do habeas corpus não exclui a apresentação do senhor João de Deus", afirmou o outro defensor, Alberto Toron.
O advogado havia classificado a prisão preventiva como "assombrosa" por ter sido decretada antes mesmo que eles tivessem direito de acessar o caso. “Que a autoridade judiciária queira impor a [prisão] preventiva é compreensível, embora possamos discordar, mas negar acesso aos autos, chega a ser assombroso”, afirmaram no início da tarde de sexta-feira (12) alegando que ainda não receberam o número da ação e que não tiveram acesso aos depoimentos prestados por parte das centenas de mulheres que afirmaram ser vítimas de abusos sexuais cometidos pelo médium ao longo dos anos.
Mais tarde, a defesa disse que “só agora tive acesso à decisão do juiz que impôs a prisão preventiva contra o sr. João de Deus. Observo que apenas alguns depoimentos, de poucas vítimas, acompanham o pedido de prisão preventiva, ainda assim, sem os seus nomes.”
Os advogados também revelaram que temem pela integridade física de João de Deus na prisão. Segundo relato do adminsitrador da Casa Dom Inácio de Loyola, Chico Lobo, onde o médium prestava atendimento espiritual, "ele [João de Deus] está recolhido e medicado. Recolhido porque acabou passando mal ontem quando chegou na Casa [Dom Inácio de Loyola]. E medicado por causa dos picos de pressão que tem tido, mas tudo sob controle, tomando remédio e sem riscos de algo grave.
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Na ocasião, Chico Lobo afirmou que João de Deus estava numa chácara em Anápolis , a 55 quilômetros de Goiânia, mas os policiais foram até o local na última sexta-feira e não encontraram mais o médium de 76 anos de idade que é acusado de ter praticado abuso sexual contra pelo menos 335 mulheres, incluindo duas filhas.