O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellper, atribuiu ao governo federal a responsonsabilidade pelo incêndio que destruiu a instituição, na Quinta da Boa Vista , no Rio de Janeiro, na noite desse domingo (2). Em entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira (3), Keller protestou duramente contra a falta de "bom senso" das autoridades federais e disse que "parte dessa tragédia" teria sido evitada se o museu tivesse recebido os devidos recursos.
"Aqui sim é responsabilidade do governo federal. Não adianta dizer que não é. Porque é o governo federal que tem os recursos necessários. Nós não estamos pedindo, estamos implorando. Se nós tivéssemos esse terreno, parte dessa tragédia teria sido evitada. Bastava o bom senso", reclamou o diretor do Museu Nacional , que até esse domingo figurava como a maior instituição de história natural da América Latina.
Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição que é responsável pelo museu, também desferiu críticas ao Planalto e explicou que os recursos distribuídos à instituição vinham exclusivamente do Ministério da Educação (MEC), quando deveriam também haver aportes do Ministério da Cultura (MinC).
"O MinC não compreendeu a importância de abrir uma linha de financiamento. Queremos dialogar hoje com eles e esperamos que haja uma reavaliação das políticas públicas e do lugar dos museus, da cultura, e de toda a preservação da memória", afirmou Leher.
O reitor da UFRJ reconheceu que os repasses para o museu diminuíram nos últimos anos, por conta da "redução sistemática de orçamento" que, segundo ele, resultou em R$ 140 milhões a menos nas verbas da instituição nos últimos quatro anos.
Diretor do Museu Nacional pede perícia da PF
Kellner disse que tentará entrar no prédio junto aos bombeiros e à Defesa Civil para mensurar as perdas. Ele evitou falar sobre quais dos mais de 20 milhões de itens que compõem o acervo podem ter sido destruídos pelo fogo, sob pena de "ser leviano". Mas confirmou que o Meteorito do Bendegó, o maior já encontrado em solo brasileiro, resistiu ao incêndio.
Diante da destruição do prédio inaugurado há 200 anos, Kellner cobrou do governo federal a disponibilização de contêineres para que parte das atividades científicas desenvolvidas no museu tenham continuidade. "Nós perdemos parte do acervo, mas não podemos perder nossa história. Temos que ajudar o museu a se recompor e repensar como o Brasil olha para a sua história", disse.
O diretor do Museu Nacional cobrou perícia da Polícia Federal para investigar as causas do incêndio que levou mais de seis horas para ser controlado. O governo já confirmou que os especialistas da PF atuarão no caso.