Ao menos 1.200 venezuelanos cruzaram de volta a fronteira com o Brasil após o ataque a imigrantes promovido por um grupo de moradores do município de Pacaraima, em Roraima, nesse sábado (18). A informação foi divulgada neste domingo (19) pela Operação Acolhida, força-tarefa das Forças Armadas que atua no auxílio aos refugiados que estão no estado.
De acordo com a tenente Josiany Fiedler Vieira, que integra a operação, esses venezuelanos que retornaram ao seu país o fizeram por vontade própria, sem ameaças, e não sofreram novas agressões. A maioria desses imigrantes estava nas imediações do posto de identificação da Polícia Federal em Pacaraima no momento do ataque a venezuelanos ocorrido na tarde de ontem.
Em nota, a força-tarefa das Forças Armadas afirma que foi realizada reunião com organismos internacionais, entidades civis e ONGs para definirem medidas a serem tomadas para evitar novos episódios de violência. Ainda na noite desse sábado, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano cobrou do Brasil garantias à proteção de seus cidadãos.
"As Forças Armadas vão continuar cumprindo sua missão na área de fronteira, tanto em ação humanitária quanto em prevenção e combate a ilícitos transfronteiriços. Trabalham em prol da sociedade brasileira e repudiam atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade", diz nota da Operação Acolhida.
Pela manhã, o presidente Michel Temer (MDB) convocou para reunião de governo para discutir a crise agravada pelo ataque ao acampamento em Pacaraima. Foram convidados para o encontro os ministros Raul Jungmann (Segurança Pública), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores). Até o momento, não foram divulgadas informações a respeito dessa discussão no Palácio da Alvorada.
O Ministério da Segurança Pública já confirmou que irá enviar efetivo maior da Força Nacional para Pacaraima, onde as equipes já desenvolvem operação de apoio à Polícia Federal. A previsão é que o reforço chegue já nessa segunda-feira (20) à cidade onde ocorreu o ataque a venezuelanos com o uso de armas, bombas caseiras e o incendiamento de barracas.
O prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, reconheceu em declaração à Agência Brasil que a situação ainda não está controlada e que, segundo sabe, venezuelanos continuam a ser perseguidos até saírem da cidade. Torquato não está em Roraima neste fim de semana.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, também alertou que, se uma ação urgente não for tomada, há riscos de novas tragédias. Ele afirmou que conhece o local e que Roraima não dispõe de condições para receber os cerca de 800 venezuelanos que chegam diariamente ao estado.
"O momento é de atenção, por isso é preciso que haja solidariedade federativa para preservar brasileiros e venezuelanos de um agravamento do difícil quadro em que se encontram", disse Lamachia.
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Roraima volta a defender fechamento da fronteira após ataque a venezuelanos
O ataque a venezuelanos em Pacaraima se deu ao fim de uma manifestação contra a presença dos refugiados na cidade. O ato, realizado em frente ao Comando Especial de Fronteira do Exército, foi uma reação dos moradores ao assalto e espancamento de um comerciante, cujos autores supostamente eram quatro venezuelanos.
O governo de Roraima informou, em nota, ter enviado reforços da Polícia Militar para conter os ânimos, bem como profissionais de saúde e medicamentos para suprir as necessidades do hospital de Pacaraima. O texto também afirma ser “preciso que o Exército Brasileiro garanta a ordem” e volta a cobrar o fechamento da fronteira com a Venezuela e uma maior atuação do governo federal para lidar com a crise humanitária.
A Força-Tarefa Logística Humanitária - composta pelas Forças Armadas e integrada por organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis - divulgou nota em que diz prestar apoio aos atendimentos no hospital local e que “repudia atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”.
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*Com redação e reportagem da Agência Brasil