Mais da metade das mortes maternas no Brasil envolve mulheres negras jovens

Dados mostram que mulheres negras tem duas vezes mais chance de morrer por causas relacionadas à gravidez, parto e pós-parto do que as brancas

Doutora em saúde pública denuncia violência obstétrica com mulheres negras em evento em Brasília
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Doutora em saúde pública denuncia violência obstétrica com mulheres negras em evento em Brasília

Entre as mortes maternas no Brasil, mulheres negras de 15 a 29 anos representam mais da metade da taxa de incidência. Além de representarem 54% desses óbitos, a população negra feminina também tem duas vezes mais chance de morrer por causas relacionadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto do que as mulheres brancas.

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“Estas mulheres morrem com uma frequência maior, prioritariamente por hipertensão, um problema que poderia ser identificado lá no pré-natal. Mas, as  mulheres negras são as que menos têm informações sobre sinais de parto, que com mais frequência têm o pré-natal considerado inadequado e são aquelas que mais peregrinam até conseguirem vaga na maternidade para dar à luz”, destacou a doutora em saúde pública Fernanda Lopes, que apresentou os dados.

A especialista, que também integra o grupo de racismo e saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), também apresentou algumas variáveis que mostram a desigualdade racial no âmbito da saúde pública, baseadas em estatísticas do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Apesar de o Brasil ter reduzido consideravelmente os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não conseguiu atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de reduzir em 75% o índice de mortes até 2015. A cada 100 mil nascidos vivos, ainda morrem no país uma média de 60 mulheres em idade fértil.

Os dados foram destaque durante as discussões da 4ª Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial (Conapir). O evento, que conta com a presença de especialistas, pesquisadores e ativistas da causa racial de vários estados para levantar propostas de enfrentamento ao racismo está sendo realizado em Brasília desde segunda-feira (28) e vai até esta quarta-feira (30).

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Racismo institucional

De acordo com as informações apresentadas por Lopes, as diferenças entre mulheres brancas e negras durante o parto não param por aí. Foi constatado que há diferença entre os recursos usados para alívio da dor em relação a elas. Negras recebem com menos frequência anestesia e outros artifícios, como tomar água, andar, tomar banho ou ganhar massagem.

Além disso, de acordo com o levantamento apresentado por Fernanda, mulheres negras têm menos chance de ter um acompanhante durante o parto e na maternidade e estão mais sujeitas a ouvir expressões discriminatórias. Ela cita entre os dados coletados na pesquisa frases ouvidas pelas pacientes por agentes de saúde como "na hora de fazer não reclamou".

“Isso é racismo institucional , é violência obstétrica e é violência de gênero. É um tipo de violência que só as mulheres vivem”, ressaltou Fernanda. A pesquisadora explicou que o racismo institucional na saúde se expressa pela desigualdade no atendimento dos profissionais da saúde à mulher negra e na negação a ela de acesso a proteção e direitos. Este tipo de discriminação também tem impacto na organização e no funcionamento dos serviços de saúde.

“A violência obstétrica começa no pré-natal. Então, quando a gente está falando lá na atenção básica que estas mulheres têm menos acesso à informação, isso é expressão de violência institucional. Se estas mulheres peregrinaram mais até conseguirem vaga no hospital, é expressão do racismo institucionalizado”, detalhou.

No atendimento pós-parto, os índices também apontam para uma desvantagem das mulheres negras, principalmente as mais jovens, em relação às brancas. “Em uma avaliação da estratégia da família e da Rede Cegonha se observou que eram as mulheres mais jovens e negras que recebiam com menos frequência a visita da equipe de saúde da família durante o período de puerpério”, completou.

Entre as propostas para enfrentar o problema, a pesquisadora sugere que o país melhore as pesquisas sobre percepções das pacientes sobre atitudes discriminatórias nos serviços de saúde.

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