Suspeito de matar professor é preso e justifica "ele mexeu com meu cachorro"

Segundo a Polícia Civil, Gilmar César de Lima admitiu ser o autor do crime contra o indígena em SC; ele já era procurado antes mesmo do assassinato

Professor indígena dava aulas em uma escola indígena do município de José Boiteux, no Vale do Itajaí
Foto: professor indígena
Professor indígena dava aulas em uma escola indígena do município de José Boiteux, no Vale do Itajaí

Policiais civis de Santa Catarina prenderam na manhã de desta sexta-feira (12) um rapaz de 22 anos suspeito de matar a pauladas, o professor indígena Marcondes Namblá, 36 anos . O crime ocorreu na madrugada do primeiro dia do ano e teve grande repercussão depois que imagens registradas por câmeras de segurança vieram a público.

De acordo com a Polícia Civil, o suspeito Gilmar César de Lima admitiu ser o autor do crime, cometido por motivo fútil. “Ele alegou que a vítima mexeu com seu cachorro”, revelou o delegado responsável pelo inquérito, Douglas Barroco, descartando a hipótese de o professor ter sido assassinado pelo fato de ser índio.

De acordo com o delegado, Lima já era procurado antes mesmo de matar o indígena e havia um mandado de prisão em aberto contra ele, por tentativa de homicídio. Lima foi encontrado em Gaspar, a cerca de 50 quilômetros de Balneário Camboriú, no litoral norte do estado. Ele estava escondido na casa de uma irmã, a cerca de 50 quilômetros do local onde Namblá foi morto.

Assassinato

Marcondes Namblá Xokleng dava aulas em uma escola indígena do município de José Boiteux, no Vale do Itajaí. Formado pelo curso de licenciatura intercultural indígena da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Marcondes era identificado como uma das lideranças de sua comunidade, atuando para preservar a língua Laklãnõ-Xokleng.

Ele aproveitava o período de férias escolares para vender picolé em Penha, destino turístico bastante procurado nesta época do ano. As imagens registradas por câmeras de segurança instaladas próximas ao local da ocorrência exibem o momento em que o índio é abordado por um homem com um pedaço de pau na mão.

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Marcondes aparece próximo a uma esquina, com uma das mãos apoiadas contra um poste de sinalização. O desconhecido parece falar algo ao índio, que não esboça qualquer reação. De repente, o homem desfere uma primeira paulada contra a cabeça do índio, que cai no chão e continua sendo agredido. O homem ameaça deixar o local, mas retorna e volta a agredir o indígena após perceber que ele ainda se mexia.

O índio foi encontrado desacordado, com suspeita de traumatismo craniano e levado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Marieta Konder Bornhaunsen, em Itajaí. No entanto, não resistiu aos ferimentos e morreu.

Intolerância

A morte de Namblá e a revolta provocada pela divulgação das imagens levaram várias entidades a cobrar agilidade nas investigações, alertando para o que classificam como uma “onda de intolerância contra indígenas no litoral de Santa Catarina”.

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O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (Nepi), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) manifestaram, em notas, que o assassinato do professor um ano após uma criança kaingang de apenas dois anos de idade ser degolada por um desconhecido nos braços da própria mãe, em Imbituba (SC) decorre do contexto de intolerância étnica e anti-indígena no estado. “A violência aos povos indígenas é sistemática, diária, individual e coletiva”, sustentava o Nepi.

* Com informações da Agência Brasil