A ROTA é conhecida pela sua eficácia na condução de patrulhas individuais, feitas por um grupo de 4 Policiais dentro de uma viatura, que rondam as áreas com maior índice de criminalidade de São Paulo. Há cerca de três meses, o Comando das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar decidiu agregar um segundo tipo de estratégia de combate ao crime: as ações de saturação.
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Trata-se de grandes operações conjuntas, previamente desenhadas pelo Serviço de Inteligência da ROTA , onde dezenas de Policiais são usados simultaneamente numa mesma missão, que possui como alvo a destruição de grandes centros de distribuição de drogas e armas.
Semana passada o alto comando da ROTA colocou em prática um terceiro tipo de operação, algo que poderia ser descrito como “Presença Ostensiva Comunitária”. Diferente das outras modalidades de policiamento da ROTA, esse novo tipo de ação possui algumas características únicas: os Policiais patrulham a pé e não dentro das viaturas; a duração da missão é curta de apenas uma ou duas horas e o local escolhido é relativamente pequeno, mas com alta densidade de trânsito de pessoas.
O objetivo dessa terceira modalidade não é o ataque direto contra um alvo de grande porte da criminalidade, mas sim estabelecer presença em locais de grande aglomeração pública, passando a sensação de tranquilidade e segurança para a sociedade e ao mesmo tempo de medo e negação de espaço para a criminalidade, que não sabe quando nem aonde a ROTA irá aparecer em massa.
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Diferente de outros estados do Brasil, onde a Policia é impedida de chegar em determinados locais, os PMs do Batalhão Tobias de Aguiar acessam qualquer ponto do estado, no momento que julgarem necessário.
Operação Rodoviária do Tietê
Nos últimos meses, o Serviço de Inteligência da ROTA identificou um elo comum em algumas das dezenas de prisões e apreensões de drogas e armamentos que foram feitos pelos homens do Batalhão Tobias de Aguiar no estado de São Paulo: o Terminal Rodoviário do Tietê, citado várias vezes como ponto inicial de entrada e envio de drogas e armas para dezenas de destinos. Como essa é a maior rodoviária da América Latina, com cerca de 90 mil pessoas transitando diariamente, o Comando de ROTA decidiu fazer a primeira ação de presença ostensiva lá.
“Essa operação possui algumas características diferentes do que estamos acostumados a fazer, ela será inteiramente conduzida a pé e não estamos procurando pessoas ou locais específicos. Queremos estar próximos da população e interagir com as pessoas. Outra diferença é que faremos esta ação em conjunto com Canil da PM, pedimos a ajuda deles para identificar possíveis traficantes de drogas”, diz o Tenente Coronel Mello Alves, Comandante da ROTA, que conduziu pessoalmente a Operação Rodoviária do Tietê.
No Quartel da ROTA, durante o briefing para os Policiais, o Comandante Mello deixou claro que como se trata de uma área publica de intensa movimentação, o trabalho deveria ser desenvolvido sem interromper, atrasar ou atrapalhar as empresas de ônibus nem seus usuários.
Usando mapas, fotos e vasto material de inteligência sobre a rodoviária, o Comandante Mello explicou, para os Policiais envolvidos nesta operação, em detalhes, quais seriam os pontos de chegada das viaturas e quais os locais onde as equipes deveriam patrulhar.
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“Como sempre os PMs da ROTA e do Canil vão conduzir suas ações de combate ao crime dentro da mais estrita legalidade, seguindo todos nossos padrões de conduta. Vamos fazer isso de forma transparente, sob as vistas de milhares de pessoas que estarão lá na rodoviária observando nosso trabalho. Queremos que todos os paulistas conheçam como a ROTA atua e tenham orgulho da sua Polícia Militar”, diz o Comandante Mello.
Às 16:00hs, 16 viaturas com 64 Policiais de ROTA e mais 4 viaturas com 16 Policiais Canil e 4 cães partem em velocidade para a Rodoviária do Tietê. Na chegada, as várias equipes se dividem, vão para seus pontos pré-estabelecidos e iniciam suas rondas nas áreas de entrada e saída, embarque e desembarque, guichês, lanchonetes, lojas, banheiros e guarda volumes.
Dentre as várias situações que eu, e centenas de pessoas, pudemos ver envolvendo o trabalho dos Policiais e dos cães, destaco três que resumem bem os objetivos e resultados alcançados.
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1- O Viajante
Essa é uma daqueles histórias que se me contassem eu iria classificá-la como exagero e desconfiaria que tinha algo por trás. Mas eu estava lá, acompanhando esta operação, e por isso conheci pessoalmente um criminoso que literalmente se voluntariou para ser preso.
Logo na chegada das 20 viaturas, os 80 PMs (ROTA e Canil) e cães se dividiram em grupos de 3 a 6 Policiais e partiram para suas áreas de patrulha. Uma dessas equipes se posicionou numa das plataformas de desembarque. Centenas de pessoas saiam dos ônibus, e muitas delas ao ver o Policiais e os cães, paravam para cumprimentar e parabenizar o trabalho da PM.
No meio desta onda de pessoas chegando em São Paulo, um rapaz de cerca de 20 anos, descendo a escada de um ônibus que vinha da Bahia e imediatamente viu os Políciais. Ele hesitou por instante, mas decidiu desembarcar e ir direto ao encontro de um Policial de ROTA para pedir ajuda. Esse foi um dos múltiplos erros que ele cometeu nesse dia.
Ao se aproximar do PM de ROTA ele começou a olhar para baixo e para os lados, sem saber exatamente o que perguntar. Quando começou a falar, suas frases não possuíam muita lógica, disse que ia para casa de parentes, mas não sabia onde moravam. O azar do viajante estava prestes a piorar.
O PM que ele escolheu para tirar suas "dúvidas" era ninguém menos que o Comandante da ROTA! Não precisou de 1 minuto para o Comandante Mello conduzir uma revista e encontrar um revólver calibre .38, municiado, escondido na sua cintura, com o número de série raspado. O Rapaz foi preso e conduzido para uma delegacia.
Uma pessoa que se voluntaria para ser presa pela ROTA pode parecer um fato curioso, até engraçado, mas não é. Se as circunstancias fossem favoráveis, o criminoso não hesitaria em usar sua arma e atirar. Exagero? Leia a insólita e surpreendente abordagem abaixo, que participei do começo até o fim.
2- O Cadeirante
Enquanto eu acompanhava as várias abordagens que as equipes de ROTA e Canil faziam, era clara a sensação de segurança que estes Policiais Militares projetavam na população. Não era raro ver as pessoas acenando, dando positivo e as vezes até indo conversar com os PMs. Tudo bonito, até eu ver 3 Policiais de ROTA abordando um cadeirante bem magro, com todos os sinais de que a vida não o havia tratado bem nos últimos anos.
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Pensei comigo mesmo: “As coisas estavam indo tão bem, uma belíssima operação que está passando segurança e mantendo a população feliz, por que a ROTA decidiu abordar justamente um cadeirante entre 90 mil pessoas?” A resposta, ou as respostas, vieram rapidamente. Não sei exatamente o que chamou a atenção do Policiais, mas durante a conversa com o rapaz, ele disse ter cumprido 8 anos de cadeia por ter trocado tiros com a Polícia, e que um dos disparos o atingiu deixando-o paraplégico. Uma equipe do Canil se aproximou e assim que o cão farejou sua bagagem deu sinal de traços de drogas.
Na revista nada foi encontrado, mas como ele admitiu que era usuário, o que o cão sentiu foi o odor de resíduos. Confirmado que ele não era procurado, os PMs arrumaram sua mala, agradeceram a cooperação e liberaram o cadeirante que havia atirado na Polícia há cerca de oito anos.
Foi impossível não imaginar o que poderia ter acontecido se o cadeirante estivesse portando o revolver calibre .38 do viajante da Bahia (leia texto acima).
3- Dona Cidinha
Por volta das 17hs um ônibus de São Carlos encosta e seus passageiros começam a descer, entre eles uma senhora de 60 anos. Ao contrário do rapaz da Bahia, que ao ver a Policia hesitou, essa senhora correu direto em direção aos PMs de ROTA que estavam acompanhando o desembarque.
“Meu nome é Cidinha, vim passear aqui em São Paulo. Sempre ouvi falar dos Policiais de ROTA mas nunca tinha visto vocês antes . Estou emocionada, posso cumprimentar vocês?”.
Antes que alguém tivesse tempo de reagir, Dona Cidinha já estava cumprimentando todos os PMs com um enorme sorriso e esbanjando felicidade e orgulho.
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Uma hora após a chegada dos 80 Policiais na rodoviária, a operação termina e cada uma das 16 viaturas de ROTA e as 4 do Canil vão embora para conduzir suas patrulhas individuais e rotineiras em todos os cantos de São Paulo. A missão da ROTA em projetar segurança, se fazer presente aonde a população está e ao mesmo tempo negar espaço e sempre manter o crime com medo foi cumprida.
Um Mello prende. Outro Mello solta
No começo deste artigo mencionei o sucesso das novas ações de saturação que o Tenente Coronel Mello, Comandante da ROTA, implantou resultando em mais de 3 toneladas de drogas apreendidas. Como exemplo, destaco a Operação Limeira de 30 de julho que tirou de circulação 2 toneladas de entorpecentes.
Um mês mais tarde, no dia 29 de agosto, o juiz do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, concedeu liberdade a um indivíduo preso com 211kg (duzentos e onze quilos) de cocaína, em Rosana no interior de São Paulo.
Qual é a mensagem que o juiz Marco Aurélio Mello passa para os traficantes, para os Policiais, para as famílias dos 101 PMs cariocas assassinados em 2017 (até setembro) e para toda sociedade? A mensagem é uma só:
Enquanto o Comandante Mello da ROTA prende, o Juiz Mello do STF solta.
Ao entrar no 9 Distrito Policial, acompanhando a prisão do rapaz que portava o revólver calibre .38, me deparei como uma estátua de Don Quixote de la Mancha, o personagem da novela de Miguel de Cervantes datada de 1605. A analogia era gritante.
De um lado, a PM na sua incansável luta pela defesa da sociedade aplicando a lei, muitas vezes de forma desfavorável, tendo que enfrentar o próprio sistema que lhe deu o mandato para denfendê-lo.
De outro, a implacável realidade brasileira que permite que um traficante preso em flagrante com 211 quilos de cocaína seja solto. Que permite que políticos corruptos, filmados recebendo maços de dinheiro, não sejam presos em flagrante. Que concede o status de ficha limpa à Joesley Batista. Que solta um agressor sexual preso em flagrante (15 vezes reincidente no mesmo crime) e que dois dias mais tarde é novamente preso em flagrante, cometendo o mesmo crime. pela 17 vez.