Policiais nas ruas da Cracolândia
Reprodução/Prefeitura de São Paulo
Policiais nas ruas da Cracolândia

Temendo ações policiais, ativistas, usuários e a população local da Cracolândia, na Luz, no centro da capital paulista, fizeram na tarde de hoje (8) um churrasco colaborativo e uma roda de samba na Rua Helvétia, onde há o chamado “fluxo”, com maior concentração e aglomeração de usuários e vendedores de crack. Desde segunda-feira (2), ativistas se revezam em uma vigília na Cracolândia, principalmente à noite, para tentar impedir que o local seja palco de ações truculentas.

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Segundo o militante e artista visual Raphael Escobar, do Coletivo Sem Ternos, e que já desenvolveu trabalhos na Cracolândia, o temor ocorre porque ações violentas já ocorreram em gestões anteriores. “A maioria das políticas públicas na região, quando chegam, acabam com a anterior. Então, fazem uma 'limpeza' na região”, disse ele em entrevista à Agência Brasil. "Todos têm medo de outra ação violenta da polícia como teve com o Haddad [Fernando Haddad] e com o Kassab [Gilberto Kassab]. Nosso maior medo é com a galera do fluxo, com policiais e bombas, espalhando todo mundo ou [levando para] internar”.

Para o churrasco de hoje, cada um levou o que queria. “O cozinheiro é o Mineiro [que vive no local]. Quem vai fazer o churrasco não somos nós. É o cara do fluxo”, explicou Escobar. “Estamos torcendo para que todo mundo que venha traga carne”, falou.

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Além de um ato de resistência, o "Churrasco na Craco", como foi chamado o evento, questiona a falta de uma posição da nova gestão sobre o que será feito na região. Em entrevista à Agência Brasil no início da semana, a secretária municipal de Assistência Social, Soninha Francine, disse que haverá mudanças no programa da prefeitura realizado atualmente na Cracolândia: o De Braços Abertos (DBA), que tem uma abordagem focada na redução de danos. Além dele, há também na região o programa estadual Recomeço, que busca dependentes nas ruas a fim de levá-los para tratamento, com afastamento e abstinência, e reabilitá-los para o trabalho. Em casos extremos, são usadas internações involuntárias e compulsórias. Segundo a secretária, não há necessidade de que haja os dois programas. Ela também pretende focar o trabalho na região na questão da saúde.

Escobar diz que, além dos programas estaduais e municipais, há também ações de entidades religiosas ocorrendo no local. “Aqui é tudo muito complexo. Tem muitas nuances e discussões”, disse. “São três linhas [principais], em minha visão, que ainda estão atuando na Cracolândia: a redução de danos, a internação e a religião. No fundo, quem tem que escolher isso não é a gente ou o prefeito. Quem escolhe isso é o usuário. Tem gente que acha que a igreja vai funcionar. Quem sou eu para dizer que não vai?”, disse ele.

Atualmente, o DBA atende a 467 pessoas. De acordo com dados fornecidos pela gestão anterior da prefeitura, desse total, 84,66% estão em tratamento de saúde e 72,75% estão trabalhando. O balanço aponta ainda que 88% os beneficiados pela iniciativa reduziram o consumo de crack. A ação integra os usuários, de forma flexível, a frentes de trabalho, oferece alojamento em hotéis e remunera os participantes, por dia, pelos serviços prestados.

Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura informou que ainda não há programas ou ações previstos para a região da Cracolândia.

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