CPI da Covid: Ex-assessor de Pazuello no Ministério da Saúde presta depoimento

Airton Cascavel foi o 'braço direito' do ex-ministro e buscava se projetar politicamente no governo federal

Foto: Reprodução
Airton Cascavel foi o 'braço direito' do ex-ministro e buscava se projetar politicamente no governo federal

A CPI da Covid ouve, nesta quinta-feira (05), o ex-assessor do Ministério da Saúde, o empresário Airton Soligo, para esclarecer a atuação - formal e informal - dele na pasta. Conhecido como Airton 'Cascavel', ele era considerado o "ministro político" na gestão Pazuello, responsável pela articulação com deputados, senadores, governadores e prefeitos . Pessoas próximas dizem que o assessor queria usar o posto no governo Bolsonaro e se projetar politicamente para 2022.

Cascavel teria começado a atuar no ministério antes mesmo de sua nomeação, publicada em junho de 2020. Mesmo sem cargo oficial, Airton negociava em nome do ministério com estados e municípios.

Segundo interlocutores de Cascavel, ele aceitou o convite de Pazuello com o objetivo de retomar a carreira política. Ele já foi prefeito em Mucajaí, em Roraima, deputado estadual, vice-prefeito de Boa Vista e deputado federal. Nas eleições de 2018, disputa uma vaga na Câmara pelo PRB, mas não se elegeu.

Quando o ministro foi exonerado em março deste ano, Cascavel também saiu da pasta . Porém, logo foi nomeado secretário de Saúde de Roraima pelo governador Antonio Denarium, aliado do presidente Jair Bolsonaro. No dia 20 de julho, com o avanço da CPI da Covid—19, que o colocou na mira das investigações, Cascavel deixou a função da admnistração estadual.

Cascavel foi convocado pela CPI após o Ministério Público Federal (MPF) determinar que Polícia Federal (PF) abrisse um inquérito com prazo de 90 dias para investigá-lo. O empresário pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de não comparecer à CPI. Este pedido foi negado pelo ministro Gilmar Mendes . O magistrado, porém, determinou que a CPI assegure ao ex-assessor o direito ao silêncio, isto é, de não responder a perguntas que possam incriminá-lo — sendo proibido, no entanto, "faltar com a verdade relativamente a todos os demais questionamentos".

Articulador

Com bom trânsito entre políticos no norte do país, o empresário se aproximou de Pazuell, quando o general atuou na Operação Acolhida em Roraima. No Ministério da Saúde, tinha as portas de seu gabinete aberta a parlamentares, tarefa que Pazuello dizia não ter paciência para assumir. O ex-assessor também era requisitado por governadores e prefeitos que buscavam a pasta para despachar demandas durante a pandemia.

A Cascavel, por exemplo, é atribuída a organização do encontro de Pazuello com governadores em outubro do ano passado, no qual o ministro prometeu comprar a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo. No dia seguinte, Pazuello foi desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, que disse publicamente que não “compraria a vacina chinesa de João Doria” - ele acabou voltando atrás e adquirindo os imunizantes.

Em janeiro deste ano, no auge da crise da falta de oxigênio em Manaus, Cascavel emprestou o próprio apartamento na capital amazonense para uma reunião da equipe do ministério com representantes do Executivo local. Cascavel e Pazuello ^continuam mantendo uma relação de amizade.

A proximidade com Pazuello também causava ciúmes com o grupo militar no Ministério da Saúde. Embora o número 2 da pasta, coronel Elcio Franco, já conhecesse Cascavel desde Roraima, onde também foi secretário de Saúde, a relação entre eles era fria.

Investigação

Segundo o procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira, Cascavel pode ter cometido o crime de "usurpação de função pública", com pena de até cinco anos. A investigação tem por base uma representação feita pela presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, a partir de uma notícia de junho de 2020 publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo".

Em 8 de julho de 2021, o procurador Wellington de Oliveira, que atua na Procuradoria da República no Distrito Federal (PR/DF), solicitou um inquérito policial à Polícia Federal (PF).


"Airton Soligo teria se apresentado como responsável pela intermediação das demandas encaminhadas pelas secretarias municipais e municipais da saúde doravante o período da crise sanitária do COVID-19. Registrou-se que o noticiado esteve listado em encontro realizado entre o Ministro da Saúde e o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro. Ademais, foram anexadas à notícia, prints contendo referências a Airton Cascavel como "o número 02 do ministério da saúde" bem como outra contendo fotos e confirmando a participação de Airton junto a ações praticadas pelo Ministério da Saúde", diz trecho de despacho assinado pelo procurador.