Ilustração de Dominique Pelicot em tribunal de Avignon, sul da França, em 11 de setembro de 2024
Benoit PEYRUCQ
Ilustração de Dominique Pelicot em tribunal de Avignon, sul da França, em 11 de setembro de 2024
Benoit PEYRUCQ

Dominique Pelicot, o principal acusado do macrojulgamento por estupro na França, elogiou nesta segunda-feira (16) a "coragem" da ex-mulher, Gisèle, a quem ele drogou por uma década para estuprá-la com homens desconhecidos, em suas últimas palavras antes do anúncio da sentença na quinta-feira (19).

"Gostaria de começar por saudar a coragem da minha ex-mulher", afirmou o homem de 72 anos no último dia de audiências no tribunal de Avignon, sul da França, onde também pediu que sua família aceite suas "desculpas".

"Lamento o que fiz, fazer sofrer (minha família) por quatro anos (quando os crimes foram revelados), peço perdão", disse.

Com as últimas palavras dos acusados, o julgamento foi interrompido para aguardar a sentença. Os 51 acusados saberão se serão condenados a partir de quinta-feira às 8H30 GMT (5H30 de Brasília), afirmou o presidente do tribunal, Roger Arata, ao anunciar o início das deliberações dos magistrados.

A vítima Gisèle Pelicot, que se tornou um símbolo mundial da luta contra a agressão sexual contra as mulheres, saiu do tribunal sob aplausos e gritos de "bravo" e "obrigado" do público presente.

Desde o início, em 2 de setembro, o julgamento ganhou manchetes em todo o planeta, em particular devido à recusa de Gisèle de um processo a portas fechadas e seu apoio à divulgação das imagens de estupro, marcadas pela frase: "Que a vergonha mude de lado".

Seu agora ex-marido, contra quem a Promotoria pediu em 25 de novembro a pena máxima possível de 20 anos de prisão por drogá-la para fazer com que fosse estuprada por estranhos entre 2011 e 2020, nunca negou as acusações e nesta segunda-feira insistiu que contou "toda a verdade".

- "Covardia" -

Ele também agradeceu ao tribunal por permitir que ele utilizasse uma cadeira especial durante o julgamento devido ao seu estado de saúde frágil, o que deixou o processo em um cenário de incerteza por alguns momentos, e a sua advogada por ajudá-lo a "não baixar os braços".

"Teria sido uma demonstração de covardia para com a minha família e uma maneira fácil para os acusados provarem que tinham razão. Então, eu permaneci firme", acrescentou Dominique Pelicot, que durante o julgamento contrariou os réus que alegaram que não sabiam que sua agora ex-mulher estava drogada.

O acusado disse que "a privação de não ver (sua) família é pior do que a privação da liberdade".

"Posso dizer a toda a minha família que os amo. Isso é tudo. Eles têm o resto da minha vida em suas mãos", concluiu, dirigindo-se aos cinco juízes profissionais do tribunal.

Apesar da previsão de veredicto para a manhã de quinta-feira, Arata explicou que a data "teórica" pode ser adiada para quinta-feira à tarde ou para a manhã de sexta-feira, dependendo da "duração de nossas deliberações.

A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro com agravantes. O Ministério Público pediu entre 10 e 18 anos de prisão para 49 deles e quatro para o único acusado por "tocar" em Gisèle Pelicot.

    AFP

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