Fotos de desaparecidos coladas em um muro da prisão de Saidnaya, em Damasco, em 11 de dezembro de 2024
Yasin Akgul
Fotos de desaparecidos coladas em um muro da prisão de Saidnaya, em Damasco, em 11 de dezembro de 2024
Yasin AKGUL

A prisão de Saidnaya, ao norte de Damasco, é tristemente famosa por suas condições desumanas e seu papel central na repressão violenta exercida pelo clã Assad, especialmente desde o início da guerra civil em 2011.

Este centro penitenciário, onde ocorreram diversas execuções extrajudiciais, torturas e desaparecimentos forçados, simboliza as atrocidades cometidas pelo presidente Bashar al Assad contra seus opositores.

No domingo, após entrarem em Damasco, os rebeldes sírios anunciaram que tomaram o controle da prisão de Saidnaya e libertaram detidos, alguns encarcerados desde os anos 1980.

Segundo a Associação de Detidos e Desaparecidos da Prisão de Saidnaya (ADMSP), mais de 4 mil prisioneiros foram libertados pelos rebeldes.

As imagens de prisioneiros desnutridos e desorientados, alguns carregados por companheiros devido à extrema fraqueza, deram a volta ao mundo, revelando as terríveis condições desse centro penitenciário que a Anistia Internacional qualificou de "matadouro humano".

- Tortura e crematório -

A prisão foi construída nos anos 1980 durante o mandato de Hafez al Assad, pai de Bashar.

Originalmente destinada a abrigar prisioneiros políticos, principalmente opositores ao governo, incluindo membros de grupos islamistas e ativistas curdos, foi se tornando ao longo do tempo um símbolo do controle impiedoso do Estado sírio sobre seus cidadãos.

Em 2016, investigadores da ONU declararam que "o governo é responsável por atos que constituem extermínio e são equivalentes a um crime contra a humanidade", incluindo os cometidos em Saidnaya.

Em 2017, a Anistia Internacional documentou milhares de execuções na prisão, referindo-se a uma "política de extermínio".

Pouco depois, os Estados Unidos apontaram a existência de um "crematório" utilizado para destruir os restos de milhares de prisioneiros executados.

Em 2022, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou que aproximadamente 30 mil pessoas foram detidas em Saidnaya, muitas submetidas a torturas extremas. Somente 6 mil delas foram libertadas.

- Execuções e necrotério improvisado -

A ADMSP estima que mais de 30 mil prisioneiros foram executados ou morreram em Saidnaya entre 2011 e 2018 devido a torturas, falta de atendimento médico ou fome.

A associação acusa as autoridades de criarem necrotérios improvisados para conservar os cadáveres com sal, na ausência de câmaras frigoríficas.

A maioria dos detidos restantes é oficialmente considerada desaparecida. As famílias raramente recebem certificados de óbito, a menos que paguem subornos exorbitantes em um esquema generalizado de extorsão.

Em 2022, a ADMSP publicou um relatório que descreve pela primeira vez as "câmaras de sal" criadas em Saidnaya.

Segundo o relatório, a primeira câmara de sal foi estabelecida em 2013, um dos anos mais sangrentos do conflito sírio.

- Estrangeiros presos -

A prisão de Saidnaya, para a qual foram até domingo milhares de familiares de desaparecidos na esperança de encontrar seus entes queridos em celas subterrâneas, está agora vazia.

Vários estrangeiros estiveram detidos nas prisões sírias, como o jordano Usama Beshir Hasan al Bataynah, repatriado na terça-feira após passar 38 anos preso na Síria. Ele foi encontrado "inconsciente e amnésico", segundo Amã.

De acordo com a Organização Árabe de Direitos Humanos na Jordânia (OADHJ), "o número de jordanianos detidos nas prisões sírias chega a 236, a maioria em Saidnaya, perto de Damasco".

Um libanês, Suheil Hamawi, de 61 anos, retornou na segunda-feira ao seu país após passar 33 anos em prisões sírias, incluindo Saidnaya.

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