Donald Trump em um comício em Nevada em 31 de outubro de 2024
CHIP SOMODEVILLA
Donald Trump em um comício em Nevada em 31 de outubro de 2024
CHIP SOMODEVILLA

Donald Trump está prestes a retomar a sua complicada relação com as Forças Armadas americanas como comandante em chefe após retomar a Casa Branca. Para esse segundo capítulo, prometeu não enviá-las a conflitos no exterior, mas já insinuou que avalia usá-las em casa.

Assim como em muitas outras questões, o bilionário republicano, que saiu vencedor das eleições presidenciais de terça-feira, fez comentários contraditórios sobre as Forças Armadas, elogiando o seu poder, mas também dizendo que está enfraquecido e precisa de ser reconstruído.

Durante o seu mandato anterior (2017-2021), desentendeu-se com os generais e chocou o público ao chamar de “perdedores” aos soldados mortos em combate, acusações que negou.

Recentemente, um dos seus assessores causou polêmica ao empurrar um funcionário no cemitério militar de Arlington, considerado o cemitério mais sagrado dos Estados Unidos.

Durante a campanha presidencial, Trump sugeriu que poderia enviar as Forças Armadas para as ruas dos Estados Unidos para lidar com a agitação interna ou com os migrantes.

Se ele insistir em manter a sua palavra, os militares podem ficar em apuros, disse Kathleen McInnis, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

“Os soldados são obrigados a não seguir ordens ilegais, mas a linha entre o legal e o ilegal pode ser tênue em alguns casos”, disse.

No início deste ano, Trump disse à revista Time que planeja realizar deportações em massa de imigrantes sem documentos com a ajuda da Guarda Nacional, uma força militar de reserva.

“Mas se eu achar que as coisas começam a ficar fora de controle, não terei problemas em usar as Forças Armadas regulares”, acrescentou.

Mais recentemente, disse à Fox News que a Guarda Nacional ou o Exército deveriam ser utilizados, se necessário, contra o que define como um “inimigo interno”, prometendo ir atrás dos “loucos e malucos da extrema esquerda”.

- O grande ponto de interrogação -

O republicano também tem falado regularmente da ideia de utilizar os serviços de operações especiais para acabar com os barões da droga no México.

Trump assumirá o cargo em um momento em que o mundo está mergulhado em grandes conflitos no Oriente Médio e na Europa, que prometeu resolver em um piscar de olhos, sem nunca explicar como o fará.

Ninguém sabe o que Trump vai realmente fazer quando estiver na Casa Branca, mas alguns dos funcionários responsáveis durante o seu primeiro mandato acreditam que ele tem tendências cada vez mais autoritárias.

John Kelly, o seu antigo chefe de gabinete na Casa Branca, afirmou que o magnata corresponde à definição de fascista, uma acusação que foi repetida, sem sucesso, pela sua rival nas eleições, a democrata Kamala Harris.

O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA durante o primeiro mandato de Trump, descreveu o republicano como “fascista até a medula” e a “pessoa mais perigosa deste país”.

Mas é difícil saber como ele é visto pelos militares, que são obrigados a manter o sigilo.

“Os generais e almirantes que trabalharam para ele durante o seu primeiro mandato descreveram uma relação complicada”, acrescentou McInnis.

Em um dos seus últimos discursos antes das eleições, a vice-presidente Harris prometeu “honrar sempre e nunca difamar o sacrifício” das nossas tropas e das suas famílias.

Em todo o caso, os analistas apostam em grandes mudanças nas relações entre os EUA e a Otan, assim como no apoio de Washington à Ucrânia na guerra com a Rússia

“Espero ver algo semelhante a uma 'retirada silenciosa' da Otan, o fim da guerra na Ucrânia forçando os ucranianos a ceder, e uma maior atenção à China e a Taiwan”, prevê McInnis.

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