A relação entre Madri e Caracas estava muito perto da ruptura nesta sexta-feira (13), depois que o governo venezuelano convocou sua embaixadora na capital espanhola para consultas, uma decisão que o Executivo espanhol se limitou a chamar de "soberana" se recusou a comentar.
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, anunciou nas redes sociais a decisão de "convocar para consultas" a embaixadora em Madri, Gladys Gutiérrez, em resposta às declarações da ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, que chamou o governo de Nicolás Maduro de "ditadura" durante a apresentação de um livro em Madri.
Gil também informou que "convocou" o embaixador espanhol em Caracas, Ramón Santos, a comparecer nesta sexta-feira à sede do Ministério das Relações Exteriores e descreveu as palavras de Robles como "insolentes, intervencionistas e grosseiras".
A tensão na relação Espanha-Venezuela aumentou nos últimos dias, depois que o candidato da oposição venezuelana Edmundo González Urrutia chegou ao país europeu no domingo para solicitar asilo. Ele passou um mês escondido em seu país.
Na quarta-feira, o Congresso da Espanha, por iniciativa da oposição conservadora, aprovou uma medida que pede ao governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez que reconheça González Urrutia como vencedor das eleições de 28 de julho contra Maduro.
O presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, respondeu com a proposta de rompimento dos vínculos diplomáticos, consulares e comerciais.
- "Nada a comentar", responde Espanha -
O Executivo de Sánchez não reconhece a vitória que Maduro reivindica nas eleições, mas também não reconhece o triunfo de seu rival, e insiste, na mesma linha adotada por outros países europeus, em exigir a publicação das atas de votação, que a oposição afirma que demonstram sua vitória.
O ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel Albares, não imitou as convocações para consultas do homólogo venezuelano, medidas que chamou de "decisões soberanas".
"Convocar um embaixador, eu já fiz isso em diversas ocasiões, e chamar para consulta são decisões soberanas de cada Estado e, portanto, não há o que comentar", declarou à rádio pública RNE.
"O que posso dizer é que trabalhamos para ter as melhores relações possíveis com o povo irmão da Venezuela", acrescentou Albares.
Ao ser questionado se compartilhava da opinião da ministra Robles, o chefe da diplomacia espanhola se recusou a comentar.
"O ministro das Relações Exteriores não é um catedrático de Direito Constitucional, nem um cientista político. E, claro, os ministros das Relações Exteriores são as últimas pessoas que devem usar qualificativos", disse.
- Sanções dos Estados Unidos -
Na quinta-feira, o socialista Pedro Sánchez recebeu González Urrutia no Palácio de La Moncloa, sede do governo em Madri e afirmou que a "Espanha segue trabalhando a favor da democracia, do diálogo e dos direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela".
Quase 280 mil venezuelanos vivem na Espanha, incluindo vários líderes da oposição. O número não inclui as pessoas com dupla cidadania.
A crise com a Espanha coincide com o anúncio do governo dos Estados Unidos de sanções contra 16 funcionários do regime venezuelano, incluindo a presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Caryslia Rodríguez, além de autoridades eleitorais e integrantes da cúpula militar e dos serviços de inteligência.
Entre os alvos das sanções estão o chefe do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas, general Domingo Hernández Lárez, e o juiz que ordenou a detenção de González Urrutia por "conspiração" e "sabotagem".
Washington, que também exige a divulgação das atas de votação da eleição presidencial venezuelana, afirma que os funcionários afetados pelas sanções "impediram um processo eleitoral transparente e a publicação de resultados eleitorais precisos".
Caracas condenou a medida, que chamou de "ato grosseiro, que busca se congraçar com uma classe política que lançou mão de práticas fascistas e violentas para derrubar, sem sucesso, a democracia bolivariana".