Estudantes se encontram pela primeira vez em Daca, Bangladesh, em 18 de agosto de 2024, após semanas de manifestações
LUIS TATO
Estudantes se encontram pela primeira vez em Daca, Bangladesh, em 18 de agosto de 2024, após semanas de manifestações
LUIS TATO

A primeira coisa que fizeram os alunos de uma escola de Daca que voltaram às aulas após semanas de manifestações estudantis em Bangladesh foi render homenagem a um colega morto durante os movimentos de protesto.

Shafiq Uddin Ahmed Ahnaf, de 17 anos, estava na linha de frente das manifestações em agosto quando morreu baleado.

Embora a incerteza política reine no país desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina foi destituída após 15 anos no governo e teve que fugir para a Índia em 5 de agosto, a reabertura no domingo (18) das escolas significou um retorno à normalidade após semanas de distúrbios violentos.

A maior parte das vítimas fatais, especialmente por disparos da polícia, foi de estudantes como Ahnaf.

No domingo, o primeiro dia da retomada das aulas depois das manifestações, os companheiros de classe do jovem morto honraram sua memória depositando um ramo de flores no lugar que ocupava, informou a imprensa de Daca.

Mazeda Begum, chefe de outro estabelecimento escolar público de Daca, ressaltou que os alunos tinham pressa de retornar às aulas depois de "viverem o traumatismo durante um mês".

A diretora prevê instalar um programa cultural para que "possam recuperar sua força mental".

- 'Orgulho pela coragem' dos manifestantes -

Seu colega, Riah Hyder, professor de inglês, cancelou suas férias para estar em suas funções com a retomada das aulas.

"O mais importante para nós é que os alunos retornaram para a escola", declarou. Muitos estudantes dizem que se inspiraram na "coragem" dos manifestantes.

"Estou orgulhoso deles, pois tiveram a coragem de protestar contra as práticas ruins" em matéria de governo, destacou Mahiba Hossain Rahee, de 16 anos.

A jovem, com uniforme azul e tranças, disse à AFP que "passou noites sem dormir pensando no povo" de seu país durante as manifestações.

"Foram jornadas muito duras", acrescentou, e disse que espera que o país mude para melhor. "Não queremos mais sangue derramado. Queremos uma nação feliz", ressaltou.

- 'Nasce um novo país' -

Naifa Tahin, de 16 anos, que passou semanas trancada em sua casa em Daca, conta que o retorno às aulas foi como "um retorno para casa".

A jovem se mostrou feliz por retornar às aulas e voltar a ver seus amigos, à espera de um novo começo para seu país.

"Durante as últimas semanas não pudemos voltar à escola, assistir às aulas nem ver nossos companheiros", acrescentou a estudante que disse ter ficado muito nervosa durante esse período.

"É formidável poder retornar finalmente", acrescentou.

Agora é preciso ter paciência, diz. "Nosso país está dando os primeiros passos, como um recém-nascido."

O chefe de governo interino, o economista e prêmio Nobel da paz Muhammad Yunus, de 84 anos, retornou da Europa a Bangladesh para assumir a imensa tarefa de levar a cabo reformas democráticas em um país cujas instituições se degradaram.

    AFP

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