Esta combinação de imagens criada em 26 de julho de 2024 mostra uma imagem sem data obtida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos de Ismael “El Mayo” Zambada García (à esquerda), cofundador do Cartel de Sinaloa
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Esta combinação de imagens criada em 26 de julho de 2024 mostra uma imagem sem data obtida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos de Ismael “El Mayo” Zambada García (à esquerda), cofundador do Cartel de Sinaloa
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O narcotraficante mais procurado termina na prisão, um parlamentar é assassinado e um governador vira alvo de suspeitas: a captura de Ismael "El Mayo" Zambada tem todos os elementos de um "thriller", mas há brechas na história que aumentam a desconfiança mútua entre México e Estados Unidos.

"Quando li a carta, parecia um romance", diz o ex-agente da agência antinarcóticos americana (DEA, na sigla em inglês) Mike Vigil, sobre um texto divulgado pelo narcotraficante mexicano no último sábado, no qual ele afirma ter sido "sequestrado" e entregue aos Estados Unidos por Joaquín Guzmán López, filho de Joaquín "El Chapo" Guzmán, que está preso.

Chefe do Cartel de Sinaloa, Zambada, que tem 76 anos e evitou a prisão por décadas, chegou no dia 25 de julho com Guzmán López ao Novo México em um avião particular. Nada se sabe sobre o piloto.

Desde então, surgiram várias versões. Estados Unidos e México negam ter planejado a operação, embora o governo mexicano tenha mencionado conversas anteriores entre "Chapito" e funcionários americanos.

No texto publicado por sua defesa, “El Mayo", por quem Washington oferecia 15 milhões de dólares (R$ 82,3 milhões), disse ter sido emboscado quando ia se encontrar com o governador de Sinaloa, Rubén Rocha, aliado do presidente Andrés Manuel López Obrador, em uma fazenda perto de Culiacán.

Guzmán López - afirmou - havia pedido para mediar um conflito entre Rocha e o deputado opositor eleito Héctor Cuén, que, segundo o narcotraficante, era um "velho amigo" e foi "assassinado" no mesmo local da emboscada.

- Manobra legal -

Mas Rocha negou qualquer "complicidade" com o cartel fundado por "El Chapo" e "El Mayo" nos anos 1980 e garantiu que no dia da suposta reunião estava em Los Angeles, Estados Unidos. López Obrador e a presidente eleita, Claudia Sheinbaum, o apoiaram.

O México tem um extenso histórico de narcopolítica. Genaro García Luna, secretário de Segurança durante o governo de Felipe Calderón (2006-2012), foi condenado em Nova York por proteger o Cartel de Sinaloa e pode receber uma pena de prisão perpétua em outubro.

O Ministério Público de Sinaloa divulgou, por sua vez, na segunda-feira um vídeo que mostra um atirador atacando Cuén supostamente no dia 25 de julho em um posto de gasolina em Culiacán, reforçando sua versão inicial de um hipotético roubo.

A trama inclui também o desaparecimento de dois seguranças de Zambada, segundo seu relato, incluindo um suposto chefe policial de Sinaloa. Embora os fatos tenham ocorrido nesse estado, a Procuradoria-Geral do México assumiu as investigações.

O caso Zambada ilustra que o narcotráfico "não ocorre à margem" de atores estatais, "mas precisa de corrupção para existir e crescer", aponta Cecilia Farfán, do Institute on Global Conflict and Cooperation.

A versão de “El Mayo", no entanto, seria uma manobra para evitar um julgamento nos Estados Unidos, onde ele já rejeitou acusações de narcotráfico e lavagem de dinheiro, entre outras.

A defesa argumentaria que "houve uma aplicação extraterritorial da Justiça americana para contestar um julgamento", opina o consultor David Saucedo.

Mas essa alegação "não terá valor aqui nos Estados Unidos", aponta Vigil, designado ao México em vários períodos.

Vigil menciona o caso de um mexicano julgado há duas décadas nos EUA pelo assassinato do agente da DEA Enrique Camarena em 1985, apesar de alegar uma prisão ilegal.

O suspeito foi libertado por falta de provas neste crime atribuído ao Cartel de Guadalajara, antecessor do de Sinaloa, que tem várias facções.

- Desconfiança -

Vigil também vê inconsistências na versão de "El Mayo", como o fato de que "o narcotraficante mais procurado do mundo" teria ido a uma reunião com quatro seguranças para supostamente se encontrar com outros filhos de "El Chapo", seus inimigos, para resolver um problema particular.

Para ele, a hipótese mais plausível é que Guzmán López entregou Zambada porque estava negociando benefícios para ele próprio e seu irmão Ovidio, extraditado em 2023, e como "vingança" por um irmão e um filho de "El Mayo" terem testemunhado contra "El Chapo" Guzmán durante o julgamento que o condenou à prisão perpétua.

Enquanto outras peças do quebra-cabeça surgem, o caso parece fragilizar ainda mais a cooperação antidrogas, diante de suspeitas de que o governo mexicano adotou uma postura de "braços cruzados" para capturar grandes narcotraficantes, aponta Saucedo.

López Obrador, que acusa a DEA de falhar em sua estratégia antidrogas, reiterou na segunda-feira (12) que a prisão de narcotraficantes não resolve o problema e denunciou um "modus operandi" de Washington para vincular governos ao narcotráfico e assim "submetê-los".

O governante esquerdista, que encerrará seu mandato em 1º de outubro, defende atacar a criminalidade desde a raiz - segundo ele, a pobreza - sob o slogan "abraços, não balas".

Em meio a essas divergências, que levaram a limitar o papel da DEA no México, López Obrador reconhece, no entanto, que o caso Zambada ajudará "muito a conhecer todas as ligações" entre a política e o narcotráfico.

    AFP

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