A Rússia ordenou nesta segunda-feira (12) a saída de mais moradores de uma região na fronteira com a Ucrânia , enquanto tenta conter uma ofensiva sem precedentes iniciada pelas tropas de Kiev em seu território.
A Ucrânia iniciou na semana passada uma operação surpreendente em larga escala no oblast (província) russo de Kursk, na fronteira, dois anos e meio após o início da invasão ucraniana e depois de meses de recuo perante as forças russas no front leste.
Esta ofensiva, que provocou a fuga de dezenas de milhares de pessoas, é o maior ataque de um Exército estrangeiro em território russo desde a Segunda Guerra Mundial.
A operação pretende "desestabilizar" Moscou e dispersar as forças mobilizadas na invasão da Ucrânia, afirmou no domingo uma fonte dos serviços de segurança de Kiev à AFP.
A ofensiva pareceu pegar desprevenido o Exército russo, que no domingo reconheceu que a Ucrânia entrou profundamente em seu território, ao afirmar, em comunicado, que tinha impedido "tentativas de avanço" em Tolpino, Zhuravli e Obshchi Kolodez, três cidades localizadas cerca de 30 km da fronteira com a ex-república soviética.
Os avanços foram contidos por bombardeios aéreos, drones e artilharia, assim como pelo envio de contingentes do agrupamento "norte", destacados na província ucraniana de Kharkiv, segundo a mesma fonte.
"O objetivo é deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia – porque eles são incapazes de proteger suas próprias fronteiras – e transferir a guerra para o território russo", disse um funcionário do serviço de Segurança ucraniano no sábado, sob condição de anonimato.
O funcionário assegurou que "milhares" de soldados ucranianos participam da operação.
A Rússia anunciou nesta segunda-feira a saída dos moradores de um distrito na região fronteiriça de Belgorod. "Há atividades inimigas na fronteira do distrito de Krasnaya Yaruga", disse o governador Vyacheslav Gladkov no Telegram.
"Pela segurança da vida e da saúde da nossa população, estamos começando a transferir os habitantes do distrito", acrescentou.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta segunda-feira que seus sistemas de defesa aérea destruíram 18 drones ucranianos, 11 deles sobre a região de Kursk.
Incêndio na central de Zaporizhzhia
No domingo à noite, Kiev e Moscou trocaram acusações sobre um incêndio na central nuclear de Zaporizhzhia, sul da Ucrânia. Mas as duas partes, assim como a agência nuclear da ONU, descartaram o risco de vazamento.
"Não foi relatado nenhum impacto na segurança nuclear", afirmou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que tem um grupo de especialistas no local.
A AIEA solicitou que uma equipe da agência tenha "acesso imediato à torre de refrigeração para avaliar os danos".
Kiev e Moscou também indicaram que não foi detectado nenhum aumento nos níveis de radiação no entorno da usina, ocupada pelas tropas russas desde o início de sua ofensiva militar.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e, desde então, mantém uma ofensiva implacável, ocupando áreas do lese e do sul do país, com ataques diários de artilharia, mísseis e drones contra cidades ucranianas.
O ataque ao oblast de Kursk foi a maior e mais bem-sucedida ofensiva transfronteiriça de Kiev até agora.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, admitiu pela primeira vez no sábado o envolvimento de seu país na incursão na Rússia, afirmando que a operação visa "deslocar a guerra para o território do agressor".
Segundo Moscou, que prometeu uma "resposta severa", os ucranianos atiraram, na noite de sábado, um míssil contra um prédio na cidade de Kursk, ferindo 15 pessoas.
A Rússia já anunciou a retirada de mais de 76 mil pessoas da região.
A operadora ferroviária russa fretou trens de emergência de Kursk para Moscou, a 450 km de distância, para quem quiser deixar o local.
"Dá medo ter helicópteros sobrevoando a sua cabeça todo o tempo. Quando foi possível ir embora, parti", declarou Marina, que chegou à capital russa de trem no domingo. Ela se negou a revelar seu sobrenome.
"Que descubram o que é a guerra"
A Ucrânia, por sua vez, pediu a retirada de pelo menos 20 mil civis da província de Sumy.
Em um centro para deslocados na capital regional homônima, Mykola, um aposentado de 70 anos que deixou sua aldeia - Khotyn, a cerca de 26 km da fronteira com a Rússia - afirmou, no domingo, que a ofensiva em território russo lhe deu uma dose de ânimo.
"Deixemos que descubram o que é. Não entendem o que é a guerra. Deixemos que provem dela", declarou.
Segundo analistas, Kiev provavelmente iniciou o ataque para aliviar a pressão sobre suas tropas em outras partes do front, superadas em número e escassez de armas.
Mas, por enquanto, a incursão não fragilizou de forma significativa a ofensiva russa no leste da Ucrânia, onde Moscou ganha terreno há meses, informou o alto funcionário de segurança ucraniano.
A Rússia impôs o estado de emergência no oblast de Kursk e anunciou o início de uma "operação antiterrorista" na localidade e em outras províncias fronteiriças.
O funcionário de segurança ucraniano admite que a Rússia "deterá" cedo ou tarde as tropas ucranianas em Kursk
Também afirmou que a Rússia, em resposta à incursão, prepara um ataque maciço com mísseis contra "centros de comando" na Ucrânia e assegurou que Kiev havia informado seus aliados ocidentais sobre a operação.
O funcionário ucraniano também assegurou que Kiev respeita "estritamente o direito humanitário" em sua ofensiva e que não tem a intenção de anexar as áreas que ocupa atualmente.
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