O presidente francês, Emmanuel Macron, assiste às provas de atletismo dos Jogos Olímpicos de Paris no Stade de France, em 10 de agosto de 2024
KIRILL KUDRYAVTSEV
O presidente francês, Emmanuel Macron, assiste às provas de atletismo dos Jogos Olímpicos de Paris no Stade de France, em 10 de agosto de 2024
Kirill KUDRYAVTSEV

O sucesso dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 superou os sonhos mais loucos de muitos na França, mas, nas próximas semanas, o presidente Emmanuel Macron voltará à realidade: um bloqueio político com sua polêmica antecipação eleitoral.

Pouco antes do evento olímpico, os franceses elegeram um Parlamento dividido em três blocos - coalizão de esquerda, aliança de centro-direita de Macron e extrema direita -, todos eles longe de alcançar a maioria absoluta sozinhos.

O governo da situação, dirigido pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, continuou no cargo durante os Jogos, apesar de ter apresentado sua demissão, mas cinco semanas depois das eleições, a pressão aumenta para nomear um novo.

Macron esperava que Paris-2024 e os bons resultados dos 'Bleus' dessem impulso à sua imagem deteriorada, como a Copa do Mundo de futebol de 1998, celebrada e vencida pela França aumentou a popularidade do então presidente conservador Jacques Chirac.

Embora os Jogos Olímpicos, à espera dos Paralímpicos (de 28 de agosto a 8 de setembro), tenham levantado os ânimos na França, não é certo que deem novo impulso aos três anos restantes do segundo mandato de Macron.

"O fato de as coisas irem bem, de que nos vejamos belos e com sucesso no exterior, tocou a fibra sensível de um país que se sentia em decadência e incapaz de fazer grandes coisas coletivamente", afirma o analista político Emmanuel Rivière.

"Isso muda o clima coletivo, mas não a situação política. Esta continua bloqueada, os eleitores estão frustrados... Os franceses sabem fazer a diferença e continuam muito incomodados com Emmanuel Macron", acrescenta o renomado comentarista.

Os índices de aprovação de Macron se mantêm abaixo de 30% e o presidente manteve um perfil discreto durante a campanha eleitoral e os Jogos, que passou em grande parte na residência presidencial de férias no Mediterrâneo.

"O país precisava deste momento de união", explica à AFP um ministro do governo em fim de mandato de centro-direita, pedindo para não ser citado. Os Jogos, "não podemos transformá-los em um sucesso partidário", reforça outro.

- "Mudança política" -

A prioridade número um para o presidente será nomear e obter a aprovação na Assembleia (Câmara baixa) de um novo primeiro-ministro e de um novo governo, um processo que parece seguir tão bloqueado quanto antes dos Jogos Olímpicos.

A Nova Frente Popular (NFP), de esquerda, que se tornou o bloco mais numerosos após as eleições, manifestou seu desejo de que a economista Lucie Castets seja a nova primeira-ministra.

A aliança de Macron mostrou pouco interesse na ideia e defende se aliar à direita tradicional, que já foi crucial para aprovar reformas polêmicas na legislatura passada, como a migratória ou o atraso da idade de aposentadoria.

A ministra da Igualdade em fim de mandato, Aurore Bergé, citou como possíveis primeiros-ministros o presidente regional Xavier Bertrand, o negociador do Brexit Michel Barnier e o presidente do Senado, Gérard Larcher, todos eles procedentes da direita.

A líder ecologista, Marine Tondelier, membro da NFP, acusou Macron de aproveitar a "trégua" política que impôs para os Jogos para "ganhar tempo" e "obstruir qualquer tentativa de mudança política".

A pressão aumenta e se esperava que Macron pudesse nomear o novo primeiro-ministro no período compreendido entre os Jogos Olímpicos, que terminam neste domingo (11), e a inauguração dos Paralímpicos.

Mas o presidente "continua refletindo", segundo uma pessoa de seu círculo. Enquanto isso, milhares de parisienses e turistas aproveitam os últimos instantes para tirar uma foto na pira olímpica, antes que a chama volte a acender a vida política francesa.

    AFP

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