Na praia de Kadoda, perto do vilarejo de Pulu Papan, onde vivem pescadores Bajau, em 3 de julho de 2024, na Indonésia
Jack MOORE
Na praia de Kadoda, perto do vilarejo de Pulu Papan, onde vivem pescadores Bajau, em 3 de julho de 2024, na Indonésia
Jack MOORE

Os pescadores nômades indonésios do povo Bajau, capazes de mergulhar até 15 metros de profundidade, estão abandonando as águas turquesas para ganhar a vida em terra firme, vítimas da pesca exagerada e da mudança climática.

"Mudamos de ofício. Somos pescadores que trabalham em uma fazenda", diz Sofyan Sabi, membro dessa comunidade que navega nas águas da Celebes (Sulawesi, centro) há séculos.

"A agricultura dá lucros melhores porque posso plantar muitos produtos", acrescenta esse homem de 39 anos que planta milho e bananas.

Os Bajau vivem uma vida nômade em seus barcos com teto de palha no ritmo das ondas entre a Indonésia, a Malásia e as Filipinas.

Desde a infância, eles aprendem a mergulhar a profundidades de 10 a 15 metros para capturar peixes ou polvos que podem render até 500.000 rúpias por peça (28 euros ou 172 reais).

Os cientistas atribuem sua capacidade para mergulhar por muito tempo e em grande profundidade a uma provável mutação genética que teria aumentado o tamanho de seus braços, possibilitando seu sangue armazenar mais oxigênio.

Mas para centenas de Bajau do pequeno povoado insular de Pulau Papan, o modo de vida único de seus ancestrais praticamente desapareceu.

"Às vezes, não ganhamos nada indo ao mar", disse Sofyan à AFP.

A pesca excessiva e a alta das temperaturas tornaram as capturas no mar cada vez mais imprevisíveis, revela Wengki Ariando, pesquisador da Universidade Chulalongkorn de Bangcoc (Tailândia), para quem os Bajau "estão enfrentando uma diminuição dos recursos marinhos".

Com a alta das temperaturas, os hábitos de migração dos peixes mudam, os corais ficam esbranquecidos e a cadeia alimentar se modifica.

O resultado é que as reservas de peixes nas águas indonésias caíram 500.000 toneladas em cinco anos, passando de 12,5 milhões de toneladas em 2017 a 12 milhões em 2022, segundo o Ministério da Pesca.

"As reservas de peixes diminuem porque muita gente os captura", lamenta Arfin, pescador de 52 anos que, como muitos indonésios, tem apenas um nome.

O povo Bajau começou a se estabelecer na ilha de Pulau Papan há três gerações, diz Davlin Ambotang, que mora lá.

"Eles viram essa ilha como propícia para a construção de casas quando se estabeleceram lá. Eles não são mais nômades", diz ele.

Mas a vida em terra firme traz seus próprios desafios. Seu irmão administra um pequeno albergue, mas o estabelecimento recebe poucos visitantes, que são sistematicamente direcionados para as estruturas administradas pelas autoridades.

"Não há renda extra. O governo controla tudo", suspira Sofyan, que diz haver 'muitos conflitos entre as autoridades e os moradores locais'.

Até então apátridas, os Bajau se estabeleceram gradualmente em vilarejos semelhantes na esperança de obter o reconhecimento das autoridades.

"Os Bajau mudaram seus meios de subsistência porque, para serem aceitos como um povo na Indonésia, eles precisam ser sedentários", acrescentou Ariando. A campanha para registrá-los oficialmente começou na década de 1990, durante a ditadura de Suharto.

    AFP

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