Um homem carrega um galão de água que recebeu em um centro de distribuição em Houston, no Texas, em 11 de julho de 2024
Mark Felix
Um homem carrega um galão de água que recebeu em um centro de distribuição em Houston, no Texas, em 11 de julho de 2024
Mark Felix

Sem energia sequer para ligar um ventilador, Josh Vance sente o calor consumindo sua casa em Houston, a maior cidade do estado do Texas, onde quase um milhão de pessoas continuam sem energia após a passagem do furacão Beryl.

Enquanto os trabalhadores se esforçam para restabelecer o serviço, centenas de moradores se refugiam em locais públicos com ar-condicionado habilitados como "centros de resfriamento", após cinco dias sem luz. Outros enfrentam enormes filas de carros em busca de um pouco de gelo, água e alimentos.

O furacão Beryl chegou aos Estados Unidos na segunda-feira (8) e deixou pelo menos oito mortos, sete deles no Texas, onde atingiu a costa. Sua próspera indústria petrolífera não foi afetada, mas bairros e estradas foram inundados, árvores arrancadas pela raiz e postes e linhas de transmissão sofreram danos.

Antes de perder força, Beryl deixou mais de dois milhões de pessoas sem energia. Quase metade deles ainda não teve o serviço restaurado, de acordo com o site poweroutage.

Em Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos, Josh Vance, de 43 anos, vive com seus dois filhos e sua gata. Durante o dia, ele busca abrigo em um centro comunitário com ar-condicionado, enquanto as temperaturas externas chegam perto de 40°C.

Mas à noite precisa voltar para sua casa, que tem sido castigada pelo sol. "Lidar com o calor em casa é terrível. Estamos sofrendo. Tento manter o ânimo alto para meus filhos, mas não vou mentir. Este calor está nos matando. Está sugando a vida e a alma do meu corpo", explica.

Josh deixou todas as janelas abertas e mesmo assim encontrou sua gata "quase morta". "É uma das coisas mais miseráveis que já senti na minha vida. Acordei esta manhã [quinta-feira] com os olhos quase inchados, fechados e vermelhos, não sei por quê", conta.

"Estamos acostumados com energia e, sem ela, é como viver no inferno", ele explica.

- A autonomia do Texas -

Os Estados Unidos têm duas grandes redes elétricas: uma para o leste e outra para o oeste. Cada rede está conectada a diferentes fontes de energia e, se um estado enfrenta problemas, outro da mesma rede pode oferecer suporte. Mas o Texas é o único estado com uma rede elétrica autônoma.

Em fevereiro de 2021, uma onda de frio incomum fez o sistema elétrico deste estado entrar em colapso, devido à alta demanda por aquecimento. O serviço de gás natural também foi afetado. Dezenas morreram de frio.

Em Houston, a rede de transmissão e distribuição é gerida pela empresa CenterPoint. Funcionários e cidadãos questionaram a demora em restabelecer o serviço, considerando que foi um furacão de categoria 1, a menor na escala.

"Sinto que subestimaram o impacto da tempestade (...) Parece que não estavam tão preparados como deveriam ter estado", disse na quinta-feira o vice-governador do Texas, Dan Patrick, que anunciou uma investigação.

"Entendo o quanto é frustrante ficar sem eletricidade, especialmente com este calor (...) Mas estou orgulhoso do progresso que alcançamos", disse ao jornal Houston Chronicle o diretor-executivo da empresa, Jason Wells, explicando que o serviço já foi restaurado para metade dos afetados.

Enquanto as discussões continuam, a comida na geladeira de Maria Dionisio está estragando. Ela foi para um "centro de resfriamento" no sul de Houston com seu bebê para se refrescar e receber um pouco de gelo e água.

"A luz acabou, ficamos com medo e foi complicado. Fiquei muito assustada pelo meu bebê, sim. A luz não voltou, está complicado (...) Não há mais nada para comer, todos os alimentos na geladeira estragaram", diz essa guatemalteca, em um estado onde 40% da população é latina.

No norte da cidade, uma fila de mais de um quilômetro de carros se forma para receber água e alimentos. Brittany Nave, de 40 anos, está com seus três filhos esperando por suprimentos.

Ela diz que tem sido difícil dormir confortavelmente. "Tem feito muito calor e estamos procurando coisas para fazer. Mas estamos agradecidos pela água e pelo gelo", diz.

Mas nem todos estão otimistas. "Peço a Deus que não haja outro [furacão] depois deste porque, se houver, estaremos em apuros. Nem conseguimos lidar com um de categoria 1... É loucura", assegura Josh.

    AFP

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