O jornalista americano Evan Gershkovich, detido na Rússia sob acusação de espionagem, antes de uma audiência em um tribunal de Moscou, em 20 de fevereiro de 2024
Natalia Kolesnikova
O jornalista americano Evan Gershkovich, detido na Rússia sob acusação de espionagem, antes de uma audiência em um tribunal de Moscou, em 20 de fevereiro de 2024
NATALIA KOLESNIKOVA

O Ministério Público da Rússia anunciou, nesta quinta-feira (13), que o jornalista americano Evan Gershkovich, preso desde março de 2023, será julgado em breve em um tribunal nos Urais por "espionagem", após ser acusado de coletar informações sobre uma fábrica de tanques para a CIA.

Gershkovich, que tem 32 anos e é repórter do The Wall Street Journal, foi detido pelos serviços de segurança russos (FSB) enquanto fazia uma reportagem em Ecaterimburgo e desde então permanece recluso na famosa prisão de Lefortovo, em Moscou.

O jornalista, seus familiares, seu empregador e a Casa Branca negam as acusações.

Washington e Moscou indicaram que estão em contato para conseguir uma troca de prisioneiros que permita sua libertação, mas até o momento não parece haver nenhum acordo.

Em um comunicado nesta quinta-feira, o procurador-geral da Rússia acusou o jornalista de trabalhar para a CIA e "coletar informações secretas" sobre o fabricante de tanques Uralvagonzavod, na região de Sverdlovsk, onde foi detido.

"A ação penal foi encaminhada ao tribunal regional de Sverdlovsk para análise do mérito", disse o gabinete do procurador, sem detalhar quando o julgamento ocorrerá. O tribunal deverá marcar a data de início do processo.

O Wall Street Journal chamou o anúncio de "escandaloso".

"Evan Gershkovich enfrenta uma acusação falsa e sem sentido. A decisão da Rússia de realizar um julgamento fraudulento é, como era de se esperar, muito decepcionante e não deixa de ser menos escandalosa por isso", declararam, em um comunicado, a editora-chefe, Emma Tucker, e os principais executivos do jornal.

A direção do veículo acrescentou que espera que o governo dos Estados Unidos “intensifique os esforços para conseguir a libertação de Evan”.

- Contatos "constantes" -

Os Estados Unidos afirmaram nesta quinta-feira que as acusações contra Gershkovich não têm "nenhuma credibilidade".

"As acusações contra ele são falsas, e o governo russo sabe disso. Ele deveria ser libertado imediatamente", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também afirmou que o jornalista "deveria ser libertado".

O repórter, que trabalhou para a AFP em Moscou em 2020 e 2021, rejeita as acusações de "espionagem", que podem resultar em até 20 anos de prisão.

Gershkovich se tornou o primeiro jornalista ocidental desde a era soviética a ser preso por espionagem na Rússia.

Moscou não forneceu anteriormente nenhum detalhe público sobre o caso contra Gershkovich e apenas indicou que o jornalista foi "pego em flagrante".

Washington acusou Moscou repetidamente de prender cidadãos americanos na tentativa de trocá-los por russos detidos no exterior por crimes graves.

O governo dos Estados Unidos declarou que Gershkovich foi detido injustamente, o que significa que, na prática, o considera um preso político.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que estava disposto a trocar o jornalista por Vadim Krassikov, que cumpre prisão perpétua na Alemanha pelo assassinato de um ex-comandante da guerra da Chechênia em Berlim no ano de 2019.

No início de junho, Putin afirmou que os contatos eram "constantes" entre Rússia e Estados Unidos para chegar a um acordo.

Entre outros cidadãos americanos detidos na Rússia está a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva, presa no ano passado por não se registrar como "agente estrangeiro".

O ex-marinheiro Paul Whelan, preso na Rússia desde 2018, também aguarda uma troca e rejeita as acusações de espionagem que lhe valeram uma sentença de 16 anos de reclusão.

A família de Evan Gershkovich declarou este ano à AFP que contava com uma promessa "muito pessoal" do presidente Joe Biden para trazê-lo de volta para casa.

    AFP

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