Palestinos deslocados caminham ao lado de prédios destruídos no campo de refugiados de Al Bureij, no centro da Faixa de Gaza, em 12 de junho de 2024
Eyad BABA
Palestinos deslocados caminham ao lado de prédios destruídos no campo de refugiados de Al Bureij, no centro da Faixa de Gaza, em 12 de junho de 2024
Eyad BABA

As condições impostas pelo Hamas para alcançar uma trégua com Israel em Gaza começam a gerar críticas contra o movimento islamista entre alguns habitantes do devastado território palestino, que reprovam a falta de um acordo para acabar com a guerra que assola suas vidas.

O Hamas "conduziu os palestinos a uma guerra de devastação", declarou à AFP Umm Ala, de 67 anos, que foi deslocada duas vezes durante os mais de oito meses de guerra entre Hamas e Israel.

"Se os líderes do Hamas estivessem interessados em pôr fim a esta guerra e acabar com o sofrimento do povo palestino, teriam aceitado [um acordo]", acrescentou Umm Ala, que buscou refúgio em Khan Yunis, a principal cidade do sul da Faixa de Gaza.

Os palestinos que falaram com a AFP deram suas opiniões sobre se o Hamas também era responsável pelos atrasos em conseguir um novo cessar-fogo.

Desde a trégua de uma semana alcançada no final de novembro do ano passado, as esperanças de outro cessar-fogo, mesmo que temporário, foram regularmente frustradas.

Sem rejeitar nem aceitar a última proposta, apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o Hamas indicou na terça-feira que sua resposta pedia "um cessar total da agressão atual em Gaza". Uma fonte próxima às negociações disse à AFP que a resposta do Hamas incluía emendas ao plano proposto.

A guerra estourou em 7 de outubro, quando combatentes islamistas mataram 1.194 pessoas e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.

O Exército israelense estima que 116 reféns ainda estão detidos em Gaza, dos quais 41 estariam mortos.

Durante a trégua de novembro, mais de 100 reféns foram libertados em troca de 240 prisioneiros palestinos encarcerados em prisões israelenses.

- "Zombam de nós" -

A operação de retaliação lançada por Israel contra o Hamas em Gaza deixou 37.232 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

Mas alguns moradores de Gaza, que vivem em um estado de medo e restrições desde que o Hamas assumiu o poder no território em 2007, culpam o movimento islamista pela destruição causada pela guerra.

"Eles zombam de nós, da nossa dor e da destruição das nossas vidas", afirmou à AFP Abu Eyad, de 55 anos, que mora no norte de Gaza.

Este pai de três filhos, que vivem com diferentes familiares e em lugares separados, criticou duramente os líderes do Hamas que, no exílio no Catar, "dormem confortavelmente".

"Alguma vez tentaram se colocar no nosso lugar?", questionou ele, apontando o contraste entre a vida em Doha e a dos cerca de 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, dos quais metade foi deslocada pela guerra.

Os mediadores no conflito, Estados Unidos, Egito e Catar, voltaram a iniciar uma rodada de negociações com Israel e Hamas para tentar obter um acordo que acabe com a guerra.

- "O que estão esperando?" -

Washington busca dar um novo impulso ao plano de cessar-fogo, apresentado por Biden em 31 de maio, mas ainda não conseguiu a aceitação das partes no conflito.

Israel e Hamas continuam acusando um ao outro pelo fracasso nas tentativas de encerrar a guerra.

"Estamos cansados, estamos mortos, estamos destruídos e nossas tragédias são incontáveis", declarou Abu Shaker, de 35 anos.

"O que estão esperando?", perguntou, dirigindo-se ao grupo islamista. "O que querem? A guerra deve acabar a qualquer preço. Não aguentamos mais", desabafou.

Apesar das críticas, uma pesquisa em Gaza e na Cisjordânia ocupada mostrou que o Hamas segue sendo a força política com mais apoio nesses territórios, com 40% de preferência, seguido por 20% para o Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que domina em Ramallah.

Além disso, 73% dos entrevistados consideram que o Hamas tomou a "decisão certa" ao atacar Israel em 7 de outubro, segundo a pesquisa realizada pelo Palestinian Center for Policy and Survey Research, publicada na quarta-feira.

No início de maio, o Hamas anunciou que havia aceitado um acordo de trégua, provocando celebrações espontâneas em Gaza, seguidas depois por um sentimento de decepção.

Os moradores da Faixa de Gaza que falaram com a AFP estão desesperados e só querem o fim do conflito.

Umm Shadi, de 50 anos, exortou o Hamas a "acabar com a guerra imediatamente, sem tentar controlar e dirigir Gaza".

"O que ganhamos com esta guerra além de morte, destruição, extermínio e fome?", questionou.

    AFP

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