Papa Francisco em 12 de junho de 2024 na Praça de São Pedro no Vaticano
Isabella BONOTTO
Papa Francisco em 12 de junho de 2024 na Praça de São Pedro no Vaticano
Isabella BONOTTO

O inesperado convite ao papa Francisco para falar sobre inteligência artificial (IA) na cúpula do G7 demonstra o interesse do Vaticano nesta tecnologia revolucionária, que a Igreja quer promover e ao mesmo tempo alertar para seus perigos.

Francisco dará uma conferência sobre o assunto no segundo dia da cúpula do G7, que acontecerá de quinta-feira a sábado, na região da Apúlia, no sul da Itália. Esta é a primeira participação de um papa em um evento deste tipo.

Entre outros, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, irão ouvi-lo.

A priori, o octogenário líder religioso, à frente de uma instituição criada há dois mil anos, não parece o mais adequado para falar de tecnologias avançadas. Mas para o papa, IA é um desafio crucial para a humanidade.

"A Igreja segue considerando o ser humano como centro da sua missão. Nesta perspectiva, fica claro que o que lhe interessa não é a ferramenta técnica, mas como e em que medida pode afetar a vida humana", explica à AFP Paolo Benanti, conselheiro do papa e principal especialista em IA do Vaticano.

Segundo este franciscano, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e membro do órgão consultivo das Nações Unidas sobre IA, esta tecnologia funciona como um "multiplicador", especialmente na pesquisa médica, e tem a capacidade de "garantir um maior bem-estar social".

O Vaticano cercou-se de especialistas em IA para estudar seu impacto, especialmente em questões éticas.

Muitos são líderes neste campo, como o pesquisador britânico Demis Hassabis, diretor do Google DeepMind e membro da Pontifícia Academia das Ciências desde março.

- Neutralidade -

Em 2020, o Vaticano promoveu o 'Apelo de Roma para a Ética da IA', um manifesto assinado pela Microsoft, IBM, ONU, Itália e diversas universidades que pede transparência nesta tecnologia e respeito à privacidade.

Segundo Eric Salobir, padre francês e presidente do comitê executivo da Human Technology Foundation, o Vaticano tem legitimidade neste debate.

"Paradoxalmente, o fato de não existir uma 'Vatican Tech' é uma vantagem em termos de neutralidade: a Igreja não tem uma agenda oculta, nem uma economia digital, nem procura criar uma 'start-up nation’ ou atrair investimentos", ressalta.

Em 2023, Francisco dedicou sua mensagem do Dia Mundial da Paz a esta questão e pediu à comunidade internacional que adotasse, alinhado à regulamentação anterior aprovada pela União Europeia, um tratado para regimentar sua utilização diante de "riscos graves" como campanhas de desinformação ou interferência em processos eleitorais.

A Igreja ainda possui ferramentas próprias, como CatéGPT e HelloBible, que ajudam os fiéis a aprender a doutrina católica.

- "Ética dos algoritmos"-

O papa Francisco pediu em 2023 uma "ética dos algoritmos" frente à "sombra de uma nova escravidão".

A Itália, país anfitrião do G7, quer que a IA seja um tema fundamental da cúpula, especialmente por seu impacto no mercado de trabalho.

A primeira-ministra Giorgia Meloni disse em abril estar convencida de que "a presença do Santo Padre será uma contribuição decisiva à definição de um marco regulatório, ético e cultural para a inteligência artificial".

Assim como a migração e o meio ambiente, Francisco "parece ter uma espécie de antena que faz perceber onde a humanidade está vivendo as situações de maior desafio", aponta Paolo Benanti.

Eric Salobir, também autor do libro "Dios e Silicon Valley", aponta que o papa reforçará ao G7 seu "apelo a considerar os riscos e a regular, sem ser alarmistas".

O próprio papa foi objeto de imagens virais geradas por IA, nas quais aparecia com um casaco branco, em uma casa noturna e até se casando.

    AFP

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