Várias pessoas seguem para um edifício destruído do hospital Al Shifa, em Gaza, em 11 de junho de 2024
Omar al Qattaa
Várias pessoas seguem para um edifício destruído do hospital Al Shifa, em Gaza, em 11 de junho de 2024
Omar al Qattaa

Israel é responsável por crimes contra a humanidade em Gaza, em particular de "extermínio", afirmou nesta quarta-feira uma comissão de investigação da ONU, que também acusou as autoridades israelenses e os grupos armados palestinos de cometerem crimes de guerra desde 7 de outubro.

A comissão, criada em maio de 2021 pelo Conselho de Direitos Humanos, conclui em um relatório que as autoridades israelenses cometeram "crimes contra a humanidade de extermínio; assassinato; perseguição de gênero contra homens e meninos palestinos; transferências forçadas, atos de tortura e tratamentos desumanos e cruéis".

Ao contrário do genocídio, os crimes contra a humanidade não têm necessariamente que estar direcionados contra um grupo da população, mas podem ser direcionados contra qualquer população civil, segundo a ONU. No entanto, devem ser cometidos como parte de ataques em larga escala, ao contrário dos crimes de guerra, que podem ser atos isolados.

Segundo os investigadores da ONU, Israel e sete "grupos armados palestinos", incluindo o Hamas, cometeram "crimes de guerra".

"É imperativo que todos os que cometeram crimes sejam responsabilizados", afirmou a presidente da comissão, a sul-africana Navi Pillay, em um comunicado.

"A única maneira de acabar com os ciclos recorrentes de violência, incluindo as agressões e as represálias das duas partes, é garantir o respeito estrito do direito internacional", acrescentou Pillay, que já foi Alta Comissária para os Direitos Humanos, presidente do Tribunal Penal Internacional (TPI) para Ruanda e juíza do TPI.

A comissão, criada após a guerra de 11 dias entre Israel e Hamas em maio de 2021, também tem mandato para estudar todas as causas profundas do conflito israelense-palestino.

O organismo também acusa as autoridades israelenses de "obstruir" suas investigações e negar acesso a Israel e aos territórios palestinos ocupados.

O relatório da comissão é baseado em entrevistas com vítimas, que aconteceram de maneira remota e durante uma missão na Turquia e no Egito, e em documentos que incluem relatórios forenses e imagens de satélite.

- "Esquemas de violência sexual" -

Pillay pediu a Israel o "fim imediato das operações militares e ataques em Gaza, incluindo o ataque a Rafah".

Ela também pediu ao Hamas e aos grupos armados palestinos que "interrompam imediatamente os lançamentos de foguetes e libertem todos os reféns". "A tomada de reféns constitui um crime de guerra", acrescentou.

A embaixadora de Israel nas instituições da ONU em Genebra, Meirav Shahar, acusou a comissão de "discriminação sistemática" contra o Estado hebreu.

O órgão "demonstrou mais uma vez que suas ações estão todas a serviço de uma agenda política focada contra Israel", afirmou a diplomata em um comunicado.

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos do grupo islamista Hamas assassinaram 1.194 pessoas e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais. O Exército israelense afirma que 116 reféns permanecem em cativeiro em Gaza, mas 41 estariam mortos.

A operação de resposta de Israel em Gaza deixou mais de 37 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo de Gaza, liderado pelo Hamas.

No que diz respeito ao dia 7 de outubro, a comissão acusou os grupos armados palestinos de terem cometido vários crimes de guerra, incluindo ataques contra civis, assassinatos e atos de tortura.

Também identificou "esquemas de violência sexual", que visaram em particular as mulheres israelenses, e concluiu que não foram incidentes isolados.

Ao comentar a ofensiva israelense em Gaza, a comissão afirmou que as autoridades de Israel são "responsáveis por crimes de guerra" e citou, entre outros elementos, o uso da fome como arma de guerra, os ataques intencionalmente direcionados contra civis, a violência sexual, a tortura e as transferências forçadas.

Na Cisjordânia, a comissão constatou que as tropas israelenses "cometeram atos de violência sexual, tortura, tratamentos desumanos ou cruéis e atentados contra a dignidade pessoal, que constituem crimes de guerra". Também afirmou que o governo e as tropas israelenses "permitiram, encorajaram e incitaram uma campanha de violência por parte dos colonos".

O relatório também cita declarações de autoridades israelenses – "incluindo aquelas que refletem a política de infligir uma destruição generalizada e matar um grande número de civis" – que podem constituir crimes internacionais graves, como a incitação ao genocídio, discriminação e violência.

    AFP

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