A comissão eleitoral conta os votos em uma assembleia de voto em Joanesburgo, em 29 de maio de 2024, durante as eleições gerais sul-africanas
Michele SPATARI
A comissão eleitoral conta os votos em uma assembleia de voto em Joanesburgo, em 29 de maio de 2024, durante as eleições gerais sul-africanas
Michele SPATARI

O Congresso Nacional Africano (ANC), partido histórico de Nelson Mandela, aguarda neste sábado (1º) a confirmação iminente de que perdeu a maioria absoluta que tinha desde o fim do apartheid, há três décadas, e terá que procurar alianças para se manter no poder.

Com mais de 98% dos votos apurados, o ANC, liderado pelo atual presidente Cyril Ramaphosa, tem apenas 40,15% dos votos, uma queda catastrófica face aos 57,5% que obteve em 2019.

Este seria o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o emblemático líder da luta contra o apartheid Nelson Mandela e que governa com maioria absoluta desde então.

"Temos conversado com todos, mesmo antes das eleições", disse na sexta-feira a vice-secretária-geral do ANC, Nomvula Mokonyane, afirmando que o órgão de decisão do partido definiria o rumo a seguir após o anúncio dos resultados finais.

"Tudo deve ser baseado em princípios e não em um ato de desespero", acrescentou.

Dados da comissão eleitoral mostraram que a oposição Aliança Democrática (DA, centro liberal) permaneceu em segundo lugar, com 21,71% dos votos.

É seguida, com 12,6%, pelo partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que foi a grande surpresa nestas eleições, realizadas na quarta-feira.

Em quarto lugar está a esquerda radical Fighters for Economic Freedom (EFF), com 9,4%.

Os resultados finais deveriam ser anunciados oficialmente no domingo, mas com mais de 98% dos votos apurados, os políticos começaram a se concentrar nas perspectivas de uma coalizão liderada pelo ANC.

- "Ideais diferentes" -

O ANC dominou a democracia sul-africana desde o fim do regime do apartheid, com uma série de cinco presidentes.

Se Ramaphosa, de 71 anos, quiser permanecer à frente do país, terá de decidir se procura aliados à direita ou à esquerda do espectro político.

Uma aliança com a DA, liderada pelo político branco John Steenhuisen, poderia encontrar resistência dentro do ANC. O seu programa, que apoia o mercado livre e o fim dos programas de empoderamento econômico para a população negra, está no extremo oposto do partido no poder.

O neto de Mandela, Mandla Mandela, deputado do ANC, disse que a DA tinha "ideais diferentes" que complicavam uma aliança e que era mais provável que colaborasse com a EFF ou MK. No entanto, estas opções também poderiam provocar rejeição nos setores de mais moderados do partido.

Para a analista Susan Booysen, as exigências da EFF de Julius Malema, um ex-militante do ANC, são vistas como "muito erráticas" e "imprevisíveis".

E uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, de 82 anos, que foi forçado a renunciar à presidência em 2018 devido a acusações de corrupção, também não parece fácil.

O porta-voz do MK, Nhlamulo Ndhlela, concordou. "Vamos colaborar com o ANC, mas não com o ANC de Cyril Ramaphosa", disse ele.

O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel de liderança na derrubada do regime de segregação. Mas para muitos eleitores, o partido que durante muito tempo encarnou o sonho do acesso à educação, à moradia e a outros serviços básicos não cumpriu com as suas promessas.

A sua queda é explicada, segundo analistas, pelo aumento da criminalidade, da pobreza e da desigualdade. Os casos de corrupção envolvendo autoridades do partido também minaram a confiança já gravemente prejudicada.

    AFP

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