Mulher palestina segura nos braços o corpo amortalhado de um menino morto em um bombardeio israelense, em uma clínica em Rafah, sul da Faixa de Gaza, em 26 de maio de 2024
Eyad BABA
Mulher palestina segura nos braços o corpo amortalhado de um menino morto em um bombardeio israelense, em uma clínica em Rafah, sul da Faixa de Gaza, em 26 de maio de 2024
Eyad Baba

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se declarou, neste domingo (26), "firmemente" contra o fim imediato da guerra em Gaza, antes de uma reunião do gabinete de guerra e em meio a pressões diplomáticas para se conseguir uma trégua e a libertação dos reféns nas mãos do Hamas.

O Crescente Vermelho palestino afirmou que um "grande número" de pessoas morreram ou ficaram feridas em um bombardeio israelense em uma área designada como humanitária perto da cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.

O escritório de imprensa do governo do Hamas em Gaza reportou ao menos 30 mortos neste ataque e a Presidência palestina acusou Israel de "atacar deliberadamente" um centro para deslocados em Rafah.

O exército israelense, por sua vez, afirmou ter lançado ataques aéreos contra um acampamento do Hamas nesta cidade palestina e que está a par dos informes de que civis ficaram feridos na ação.

Durante o dia, as sirenes de alerta soaram pela primeira vez em meses em Tel Aviv e no centro de Israel.

O exército israelense informou que foram disparados ao menos oito foguetes de Rafah e que "alguns foram interceptados".

Horas antes, Israel bombardeou Gaza, particularmente Rafah, apesar de a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter determinado na sexta-feira que os israelenses suspendessem as operações nesta área, essencial para o encaminhamento de ajuda humanitária.

Antes da informação sobre este bombardeio, o Ministério da Saúde do território palestino reportou que pelo menos 81 pessoas tinham morrido nas últimas 24 horas devido aos ataques.

O exército israelense anunciou, por sua vez, a morte de dois soldados, elevando para 289 suas baixas desde o início do conflito.

A guerra teve início em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Os milicianos também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem sequestradas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.

Em retaliação, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva contra Gaza, matando até o momento 35.984 palestinos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério de Saúde de Gaza.

- Pressões -

O governo israelense enfrenta uma pressão internacional crescente e tenta incluir a libertação dos reféns para alcançar um acordo com o Hamas.

Milhares de israelenses participaram à noite dos funerais de um refém, Hanan Yablonka, morto em 7 de outubro, cujo corpo só foi recuperado na sexta-feira pelo exército israelense em Gaza.

"É preciso trazer todos de volta para casa", disse Avivit Yablonka, dedicando esta marcha ao seu irmão e pedindo "a libertação de todos os reféns".

Antes da reunião do gabinete de guerra, Netanyahu acusou o líder do Hamas em Gaza, Yaha Sinwar, de "continuar exigindo o fim da guerra e a retirada das forças de defesa israelenses, deixando o Hamas intacto para que possa praticar uma e outra vez as atrocidades de 7 de outubro".

O primeiro-ministro "se opõe firmemente" a essa exigência, informou seu gabinete em um comunicado.

As negociações indiretas, com mediação de Estados Unidos, Egito e Catar, estagnaram no começo de maio, pouco depois do início das operações terrestres em Rafah.

Veículos de comunicação israelenses noticiaram que o chefe do Mossad - o serviço de inteligência -, David Barnea, acordou, durante reuniões em Paris, com o diretor da CIA, William Burns, e o primeiro-ministro catari, Mohamed bin Abdulrahman al Thani, um novo marco para os diálogos.

O presidente americano, Joe Biden, disse estar "comprometido com uma diplomacia de emergência" para conseguir um cessar-fogo e a libertação dos reféns.

Funcionários cataris preveem se reunir com uma delegação do Hamas nos próximos dias, segundo o site de notícias americano Axios.

Espanha, Irlanda e Noruega vão reconhecer a Palestina como Estado na terça-feira, segundo anunciaram na quarta-feira passada.

"O povo palestino [...] tem direito a ter um Estado, assim como o povo de Israel tem esse direito", avaliou, neste domingo, em Bruxelas, o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel Albares.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, defendeu uma Autoridade Nacional Palestina (ANP) "forte" para alcançar a paz.

A ANP administra parcialmente a Cisjordânia ocupada, mas é o único interlocutor reconhecido pela comunidade internacional, enquanto o Hamas, no poder em Gaza, é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e a UE.

Os ministros das Relações Exteriores da UE vão se reunir na segunda-feira em Bruxelas com seus pares de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Jordânia, assim como com o secretário-geral da Liga Árabe.

- "Falta cruel de ajuda" -

O exército israelense iniciou, em 7 de maio, operações terrestres em alguns setores de Rafah, onde afirma que o Hamas mantém os últimos bastiões.

Cerca de 800.000 pessoas fugiram da cidade, segundo a ONU, que adverte para a situação humanitária catastrófica em toda a Faixa, com risco de fome e hospitais fora de serviço devido ao cerco israelense.

"Sofremos [...] fome, sede e uma falta cruel de ajuda", disse à AFP Moaz Abu Taha, um palestino de 29 anos em Rafah.

O procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, afirmou, em entrevista, que "ninguém tem licença para cometer crimes de guerra ou crimes contra a humanidade", dias depois de ter emitido uma ordem de prisão contra Netanyahu e dirigentes do Hamas por supostos crimes de guerra.

O Egito, que se negava a reabrir a passagem de Rafah enquanto as tropas israelenses controlassem o lado palestino, anunciou, neste domingo, que permitiu o tráfego de caminhões de ajuda através da passagem israelense de Kerem Shalom.

    AFP

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