Um prédio desabado no bairro de Al Daraj, em Gaza, por uma bomba israelense, em 21 de maio de 2024
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Um prédio desabado no bairro de Al Daraj, em Gaza, por uma bomba israelense, em 21 de maio de 2024
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Sob pressão direta de Washington, Israel voltou atrás nesta terça-feira (21) em sua decisão de cortar o sinal ao vivo da agência de notícias americana The Associated Press sobre Gaza, devastada por mais de sete meses de guerra entre o Exército israelense contra o movimento islamista palestino Hamas.

"Ordenei anular a decisão e devolver o equipamento à agência AP", declarou o ministro israelense de Comunicações, Shlomo Karhi, pouco depois de ter ordenado a interrupção das transmissões por suposta violação da nova lei de imprensa, já utilizada recentemente para fechar no país a emissora de televisão catariana Al Jazeera.

A Casa Branca havia expressado mais cedo sua preocupação com o corte do sinal da AP e pediu às autoridades israelenses que o restabelecessem.

"A Associated Press condena veementemente as ações do governo israelense para cortar nossa transmissão ao vivo que há muito tempo mostrava Gaza e confiscar equipamentos da AP", afirmou a agência em um comunicado.

A AP atribuiu a medida "ao uso abusivo, por parte do governo israelense", da nova lei votada no início de abril que autoriza a proibição da transmissão em Israel de meios estrangeiros que coloquem em risco a segurança do Estado.

- 'AP cumpre as regras' -

O Ministério das Comunicações de Israel havia alegado em nota que a AP capturava regularmente fotografias da Faixa de Gaza a partir da varanda de uma casa em Sderot, na fronteira com o território palestino, "inclusive focando nas atividades dos soldados [israelenses] e na sua localização".

Karhi disse, ao anunciar a revogação da medida, que o Ministério da Defesa "deseja examinar a questão da retransmissão [...] em relação ao risco" para as tropas israelenses que operam em Gaza.

A censura militar de Israel proíbe a publicação de imagens ou informações que possam comprometer a localização de soldados ou instalações militares israelenses.

"A AP cumpre as regras de censura militar de Israel, que proíbem a transmissão de detalhes como movimentos de tropas que possam colocar os soldados em risco", declarou a agência.

O Ministério das Comunicações também indicou que a Associated Press estava "infringindo a lei" ao permitir que a Al Jazeera "recebesse seu conteúdo".

Em resposta, a AP afirmou que a rede do Catar é "um dos milhares de clientes das transmissões de vídeo ao vivo enviadas pela agência".

No início do mês, a Al Jazeera saiu do ar em Israel depois que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu votou a favor de fechá-la por causa de sua cobertura da guerra em Gaza.

- Condenações -

A ONU considerou "terrível" o corte do sinal da AP, que "deveria poder fazer o seu trabalho livremente e sem restrições", disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) classificou a decisão das autoridades israelenses como uma "censura escandalosa".

Já o diretor global de notícias da Agence France-Presse (AFP), Phil Chetwynd, afirmou que a decisão de Israel é "um ataque à liberdade de imprensa".

"A livre circulação de informações verificadas procedentes de fontes confiáveis é vital no contexto atual", declarou em comunicado.

O líder da oposição israelense, Yair Lapid, reagiu na rede social X dizendo que o governo "enlouqueceu". "Isto não é a Al Jazeera, é um meio de comunicação americano que ganhou 53 prêmios Pulitzer", escreveu.

    AFP

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