Veículos incendiados do lado de fora de uma concessionária de automóveis em 14 de maio de 2024 em Noumea, Nova Caledônia
Theo Rouby
Veículos incendiados do lado de fora de uma concessionária de automóveis em 14 de maio de 2024 em Noumea, Nova Caledônia
Theo Rouby

A França mobilizou seu Exército, nesta quinta-feira (16), na Nova Caledônia, um território do Pacífico em estado de emergência após quatro dias de distúrbios que deixaram centenas de feridos e quatro mortos, além da morte acidental de um membro da força de segurança.

Os protestos eclodiram em resposta a uma reforma do censo eleitoral promovida pelo governo francês que, segundo os líderes do povo indígena kanak, diluirá sua influência nas instituições do território.

Desde segunda-feira, o arquipélago tem sido palco de confrontos entre manifestantes e policiais, saques de comércios, incêndios de prédios públicos e de escolas e tiroteios.

A noite de quarta-feira foi "menos violenta" que as duas anteriores, embora tenham ocorrido "confrontos muito importantes", segundo Louis Le Franc, representante do Estado nesse território colonizado pela França em meados do século XIX.

A situação levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a impor um regime de exceção que entrou em vigor às 5h de quinta-feira (15h de quarta-feira) e que permite restringir a liberdade de circulação e de reunião.

Por sua vez, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou o envio do Exército "para proteger os portos e o aeroporto da Nova Caledônia", a aplicação de um toque de recolher e a proibição do TikTok, que, segundo ele, está sendo usado pelos manifestantes.

As autoridades francesas indicaram que quatro pessoas morreram, entre elas um gendarme de 22 anos baleado, e "centenas" ficaram feridas, incluindo 64 agentes das forças de segurança.

Nesta quinta, morreu outro gendarme, atingido por um "tiro acidental" de um companheiro, informaram as autoridades, que indicaram que mais de 206 pessoas foram presas no arquipélago de 270.000 habitantes.

Emmanuel Macron denunciou a violência, mas defendeu "retomar o diálogo político", e propôs aos deputados do território uma reunião por videoconferência nesta quinta para abordar a situação.

No entanto, Attal condicionou esse diálogo ao restabelecimento da ordem no território.

- "Não considero isso um saque" -

Os tiros ainda estavam soando na capital do arquipélago, Noumea, na manhã desta quinta-feira. Em um bairro carente no norte da cidade, um grande número de lojas havia sido destruído, disse um repórter da AFP.

"Viemos buscar o que havia nas lojas para comer. Depois, não teremos mais nenhuma loja. Precisamos de leite para as crianças. Não considero isso um saque", disse à AFP um vizinho que pediu anonimato.

Os protestos começaram na segunda-feira, quando a Assembleia Nacional em Paris começou a debater a reforma da lista eleitoral.

A proposta recebeu o sinal verde dos deputados na quarta-feira, pouco depois da meia-noite, mas ainda precisa ser aprovada pelo Senado para entrar em vigor.

Atualmente, apenas os eleitores registrados em 1998 e seus descendentes podem participar das eleições regionais no arquipélago, localizado a cerca de 1.200 quilômetros a leste da costa da Austrália. A reforma pretende incluir pessoas que moram no local há dez anos.

Os defensores da independência acreditam que a expansão do censo reduzirá a influência proporcional da população canaca original nas instituições.

    AFP

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