Os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza deixaram mais de 80 mortos nas últimas 24 horas, anunciou o Hamas nesta terça-feira (14), enquanto o governo dos Estados Unidos tenta dissuadir Israel de iniciar uma grande ofensiva em Rafah.
A guerra, que começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes em território israelense do movimento islamista palestino, já tem mais de sete meses.
No pequeno território palestino cercado e devastado por bombardeios e combates entre soldados israelenses e integrantes do Hamas, a população civil, forçada a diversos deslocamentos desde o início da guerra, retorna às estradas para tentar encontrar refúgio, embora a ONU afirme que "não há lugar seguro em Gaza".
Na madrugada desta terça-feira, testemunhas e correspondentes da AFP observaram ataques em vários setores da Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Rafah, no extremo sul, onde estão reunidos quase 1,4 milhão de palestinos, a grande maioria deslocados.
Nas últimas 24 horas, ao menos 82 palestinos morreram em Gaza, o que eleva a 35.173 o número de mortos, a maioria civis, desde o início da guerra, informou o Ministério da Saúde do Hamas.
Combates acontecem no leste de Rafah, onde as tropas israelenses entraram com tanques no dia 7 de maio, tomaram a passagem de fronteira de mesmo nome e bloquearam esta entrada crucial para os comboios humanitários que transportam ajuda para uma população ameaçada pela fome em Gaza, segundo a ONU.
O Exército ordenou a saída dos civis desta área no dia 6 de maio e, segundo a ONU, quase 450.000 pessoas sofreram um deslocamento forçado.
Os bombardeios também atingem o oeste de Rafah, uma cidade constantemente sobrevoada por caças israelenses, segundo testemunhas.
"Os bombardeios e ataques aéreos são contínuos. É muito assustador. Tenho medo pelos meus filhos", declarou à AFP Hadil Radwane, 32 anos, deslocado do oeste de Rafah.
No norte da Faixa, os palestinos também receberam ordens para abandonar algumas áreas após o recomeço dos combates, em particular em Jabalya e na Cidade de Gaza, onde, segundo o Exército, o Hamas tenta "recuperar suas capacidades militares".
- Dúvidas dos Estados Unidos -
Após o ataque de 7 de outubro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007 e que ele considera uma organização terrorista, mesma classificação atribuída ao grupo por Estados Unidos e União Europeia.
Para concretizar seu objetivo, Netanyahu está determinado a iniciar uma grande operação em Rafah, onde, segundo ele, estão entrincheirados os últimos batalhões do grupo islamista.
O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, duvida que uma operação em Rafah consiga eliminar o movimento palestino.
Segundo o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, "seria um erro iniciar uma grande operação militar no coração de Rafah, que colocaria em perigo um grande número de civis sem um benefício estratégico claro".
O ataque de 7 de outubro de milicianos do Hamas, que invadiram o sul de Israel procedentes de Gaza, matou mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em informações oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas durante o ataque e 128 permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 36 teriam sido mortas, segundo o Exército.
Nesta terça-feira, Israel celebra o aniversário da sua criação, em 14 de maio de 1948, uma data marcada este ano pela ausência dos reféns e pelas atrocidades cometidas no dia 7 de outubro.
Segundo a ONU, a entrega de ajuda a Gaza está praticamente bloqueada desde o fechamento da passagem de fronteira de Rafah.
O governo do Catar afirmou que nenhuma ajuda humanitária conseguiu entrar na Faixa de Gaza desde 9 de maio e denunciou uma "catástrofe humanitária".
Em Israel, a polícia iniciou uma investigação depois que um grupo de ativistas bloqueou e destruiu pelo menos sete caminhões de ajuda humanitária destinados à Faixa de Gaza.
"Temos reféns em Gaza e não se deve entregar ajuda humanitária até que os nossos reféns retornem para casa em segurança", disse Hana Giat, uma das ativistas, à AFP.