O jornalista José Zamora, detido na Guatemala desde 2022, será reconhecido com o Prêmio Gabo na Colômbia "em virtude de suas mais de três décadas de trabalho profissional tenaz e corajoso", anunciaram os organizadores do concurso nesta terça-feira (14).
Zamora, de 67 anos, "está preso desde 29 de julho de 2022 sob falsas acusações de lavagem de dinheiro" e será homenageado durante o Festival Gabo, que acontecerá entre 5 e 7 de julho em Bogotá, indicaram os jurados do evento de jornalismo.
O guatemalteco é "o paradigma do jornalista investigativo e possivelmente o maior símbolo da luta contra a corrupção no jornalismo latino-americano", acrescentaram. Os processos contra Zamora foram apontados pela imprensa internacional como uma tentativa de silenciá-lo.
Os promotores do Ministério Público e o juiz responsável pelo caso são considerados "corruptos" pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
- "Parte de seu trabalho" -
O filho do jornalista, José Carlos Zamora, afirmou em Londres, onde participa de uma conferência de jornalismo, que seu pai vê a prisão "como parte de seu trabalho".
"Ele disse isso em algum momento durante os últimos 655 dias em que esteve preso. Ele vê a prisão como parte de seu trabalho e ajudou a expor os abusos de poder na Guatemala", declarou o filho do jornalista, que mora em Miami com sua mãe e irmão desde a prisão de seu pai.
"É um reconhecimento à sua carreira", acrescentou José Carlos.
Zamora, fundador do extinto jornal El Periódico, defende sua inocência e sustenta que a acusação é uma retaliação por suas publicações sobre corrupção no governo do então presidente de direita Alejandro Giammattei (2020-2024).
O El Periódico, que foi fundado em 1996 e deixou de ser publicado em maio de 2023, quando Zamora já estava há quase dez meses preso, recebeu várias honrarias, incluindo de Melhor Mídia no Prêmio Rei de Espanha de Jornalismo Internacional de 2021.
"Durante os primeiros 17 meses (de prisão), esteve submetido a condições desumanas", denunciaram os jurados do Prêmio Gabo, entre os quais estão os argentinos Martín Caparrós e Leila Guerriero, o americano Jon Lee Anderson e o nicaraguense Sergio Ramírez.
Em 14 de junho de 2023, em um polêmico julgamento criticado pela comunidade internacional, Zamora foi absolvido das acusações de tráfico de influência e chantagem, mas acabou condenado a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro.
A sentença foi anulada quatro meses depois por um tribunal de apelações, que ordenou a repetição do julgamento.
No entanto, ainda não há data devido a recursos pendentes.
Zamora denunciou em fevereiro que foi vítima de "tortura" na prisão, embora tenha dito que as suas condições melhoraram depois que o presidente social-democrata Bernardo Arévalo assumiu o poder no início deste ano.