O presidente Joe Biden alertou, nesta quarta-feira (8), que deixará de fornecer a Israel "projéteis de artilharia" e outras armas se uma grande ofensiva for lançada contra a cidade palestina de Rafah, em um aviso sem precedentes de Washington.
"Se entrarem em Rafah - ainda não entraram em Rafah -, se entrarem em Rafah, não fornecerei as armas que têm sido utilizadas [...] contra as cidades", disse Biden em entrevista à CNN.
"Não vamos fornecer as armas e projéteis de artilharia que têm sido utilizados" na guerra de Israel contra o grupo islamista Hamas na Faixa de Gaza, afirmou.
"Houve civis mortos em Gaza como resultado destas bombas" e isso "está errado", respondeu quando perguntado pela rede sobre a suspensão na semana passada da entrega de um carregamento de bombas a Israel.
Esta é a primeira vez que o democrata de 81 anos impõe publicamente condições ao apoio militar dos Estados Unidos a Israel, um aliado-chave no Oriente Médio.
No entanto, ele assegurou que os Estados Unidos continuarão "garantindo que Israel esteja protegido pela Cúpula de Ferro", seu escudo de defesa antiaérea.
Perguntado sobre a operação militar que Israel lançou em Rafah, cidade no sul da Faixa onde mais de um milhão de palestinos se refugiaram, Biden disse que não afetava "centros de população", sugerindo assim que não se tratava de uma ofensiva de grande escala que exigisse uma reação de sua parte.
"Deixei claro para 'Bibi' e para o gabinete de guerra: Vocês não contarão com nosso apoio se de fato atacarem esses centros de população", afirmou o presidente americano, referindo-se ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por seu apelido.
Em declarações a um comitê do Congresso, o secretário de Defesa, Lloyd Austin, confirmou que na semana passada foi congelado o envio de 1.800 bombas de 907 kg e outras 1.700 de 226 kg.
- 'Pressão americana' -
Biden assumiu o papel de defensor de Israel após o ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, mas sua relação com Netanyahu se deteriorou.
Naquele dia, membros do grupo islamista mataram 1.170 pessoas, na maioria civis, e sequestraram cerca de 250, segundo autoridades israelenses.
Israel estima que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos em novembro, 128 pessoas permanecem detidas em Gaza, das quais 36 teriam morrido.
Israel lançou uma ofensiva de retaliação que já deixou 34.844 mortos em Gaza, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007.
Resta ver qual será o efeito do aviso dos Estados Unidos.
Jon Alterman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) em Washington, estima que o descontentamento americano certamente influencia, mas "os israelenses também estão fazendo seus próprios cálculos".
Outro especialista, Raphael Cohen, do centro de pesquisa RAND, acredita que "apesar da retórica de Netanyahu, Israel está levando muito a sério a pressão americana". Ele cita como exemplo a abertura de vários postos fronteiriços na Faixa de Gaza sob pressão de Washington, o último deles em Kerem Shalom.
"Isso dito, acho que será difícil para Netanyahu abandonar completamente a operação em Rafah", acrescenta.