A reunião no Cairo para chegar a uma trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza terminou neste domingo (5) sem progressos concretos, devido às posições inflexíveis de ambos os lados após sete meses de guerra.
Um alto funcionário do Hamas disse à AFP que a delegação do grupo islamista partiu para o Catar depois que as divergências se intensificaram sobre os termos de um acordo que, além de uma trégua, inclui a libertação de reféns.
No entanto, um grupo retornará na terça-feira à capital egípcia "para concluir as negociações indiretas" com Israel, informou o veículo de comunicação egípcio Al Qahera News, próximo dos serviços de inteligência, citando uma "fonte bem informada".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que aceitar as "exigências" do Hamas para acabar com a guerra em Gaza seria "uma derrota terrível para o Estado de Israel" e equivaleria à "capitulação".
Em resposta, o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahu de "sabotar os esforços dos mediadores" para obter uma trégua no território palestino, devastado após quase sete meses de conflito.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, após a incursão de comandos islamistas no sul de Israel, na qual mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250, segundo um balanço baseado em dados israelenses.
As autoridades israelenses estimam que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos em novembro, 128 pessoas permanecem cativas em Gaza e que 35 morreram até agora.
A ofensiva lançada por Israel em resposta ao ataque já deixou 34.683 mortos em Gaza, a maioria também civis, segundo o Ministério da Saúde.
O líder israelense também anunciou o fechamento da rede de notícias catari Al Jazeera no país por sua cobertura da guerra em Gaza.
O canal chamou a decisão de "criminosa" e anunciou que "recorreria a todas as vias legais disponíveis" para reverter a situação.
- Reunião 'de emergência' -
A última proposta de trégua que os mediadores internacionais – Catar, Egito, Estados Unidos – apresentaram ao Hamas no final de abril prevê uma interrupção dos combates durante 40 dias e uma troca de reféns israelenses detidos em Gaza desde 7 de outubro em troca de palestinos presos em Israel.
Poucas horas antes da retomada do segundo dia de negociações, neste domingo na capital egípcia, um líder do Hamas afirmou que o movimento islamista não aceitaria "em nenhuma circunstância" um acordo que não inclua explicitamente o fim da guerra.
Netanyahu reiterou durante uma reunião de gabinete que "Israel não pode aceitar" as "posições extremistas" do movimento islamista.
O Fórum de Famílias de Reféns pediu a Netanyahu para "ignorar a pressão política" e aceitar um acordo que permitiria a libertação dos reféns.
Israel não esteve presente nas negociações do Cairo.
O chefe da CIA, William Burns, participou na reunião na capital egípcia, segundo a imprensa americana. Segundo uma fonte, ele viajará agora ao Catar para uma "reunião de emergência" com o primeiro-ministro Mohamed bin Abdulrahman al Thani "diante da ausência de avanços".
- Ataque contra passagem fronteiriça -
Israel, que assim como os Estados Unidos e a União Europeia, classifica o Hamas como organização terrorista, opõe-se ao cessar-fogo definitivo e insiste em lançar uma ofensiva terrestre contra Rafah, por considerá-la o último reduto dos comandos islamistas.
Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, opõem-se a uma invasão dessa cidade palestina no extremo sul da Faixa de Gaza, onde 1,2 milhão de pessoas estão aglomeradas, a maioria delas deslocadas pela guerra.
Uma operação terrestre em Rafah também comprometeria a ajuda humanitária que entra na Faixa, principalmente através desta cidade na fronteira com o Egito, e que já é insuficiente para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
"Queremos um cessar-fogo e que Gaza volte a ser como era, ou até melhor", disse Umm Jami al Ghussein, uma mulher deslocada da cidade.
O Exército israelense anunciou neste domingo o fechamento da passagem de Kerem Shalom que dá acesso à Faixa de Gaza – e por onde entra a ajuda humanitária – após um ataque com foguetes, reivindicado pelo braço armado do Hamas, as Brigadas Ezedin al Qasam.
As forças israelenses indicaram que três de seus soldados morreram no ataque e outros 12 ficaram feridos, três deles com gravidade.
E em plena crise humanitária, as relações entre Israel e a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) seguem deterioradas desde que Israel acusou uma dúzia de seus funcionários de ter participado no ataque de outubro.
O diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, denunciou neste domingo que as autoridades israelenses lhe "negaram, pela segunda vez [desde o início da guerra], entrada em Gaza".
"Apenas nas últimas duas semanas, registramos 10 incidentes com tiros contra comboios, detenções de pessoal da ONU que incluem intimidação, desnudamento, ameaças com armas e longos atrasos nos postos de controle que obrigam os comboios a se deslocarem na escuridão ou a abortar", afirmou.
O Exército israelense anunciou que bombardeou um "centro de comando" do Hamas em Gaza, que o movimento palestino havia instalado "deliberadamente" perto de um centro ativo da UNRWA.