O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou nesta quarta-feira (1º) que seu país está "decidido" a obter logo uma trégua entre Israel e Hamas, apelando ao movimento palestino que aceite a última proposta, e reiterando ao governo israelense sua oposição a uma invasão de Rafah.
Blinken está em Israel e busca pressionar o movimento palestino para que aceite a proposta de cessar-fogo e ao governo israelense para que se abstenha de invadir Rafah, em Gaza, depois de quase sete meses de uma guerra que deixou ao menos 33 mortos nas últimas 24 horas no território palestino, segundo as autoridades de saúde do governo do Hamas.
"Inclusive nestes tempos tão difíceis estamos decididos a conseguir um cessar-fogo que traga os reféns para casa, e temos que conseguir já", declarou Blinken ao se reunir em Tel Aviv com o presidente israelense, Isaac Herzog. "A única razão pela qual isto não seria possível chama-se Hamas."
Em seguida, Blinken se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e reiterou sua rejeição a uma operação terrestre contra Rafah, no sul de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos se refugiam, a maioria deslocados do conflito.
Blinken "reiterou a clara posição dos Estados Unidos sobre Rafah", informou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
Horas antes de Blinken aterrissar em Israel, Netanyahu reafirmou sua promessa de invadir Rafah.
"Entraremos em Rafah e eliminaremos os batalhões do Hamas, com ou sem acordo [de trégua], para conseguir a vitória total", declarou.
Uma delegação do Hamas esteve na segunda na capital egípcia e retornou ao Catar para estudar a nova proposta de trégua, segundo uma fonte próxima do movimento.
O Hamas responderá à proposta "muito em breve", afirmou nesta quarta à AFP Suhail al Hindi, alto dirigente do movimento palestino que enfatizou que o cessar-fogo deve ser permanente.
Segundo um alto funcionário israelense, o governo vai esperar o Hamas até a noite desta quarta, antes de decidir se envia uma delegação ao Egito com vistas a um possível acordo.
- 'Hamas tem que dizer sim' -
Egito, Catar e Estados Unidos, os países mediadores, trabalham para um acordo de trégua, após meses de estagnação nas negociações.
A oferta inclui uma trégua de 40 dias e a libertação de reféns retidos em Gaza em troca de palestinos detidos em prisões israelenses.
Blinken afirmou que a proposta é "extraordinariamente generosa de parte de Israel"
"O Hamas tem que dizer sim", insistiu Blinken, cujo governo está pressionado por uma onda de protestos pró-palestinos nas universidades americanas que terminaram em enfrentamentos na UCLA, em Los Angeles, durante a madrugada, depois que a tropa de choque da polícia desmantelou uma ocupação na noite de terça em Columbia, Nova York.
- Enfrentamentos continuam em Gaza -
Durante a madrugada, o Exército israelense bombardeou o norte e o centro da Faixa, incluindo o acampamento de refugiados de Nuseirat, onde várias testemunhas reportaram que houve enfrentamentos entre combatentes palestinos e soldados israelenses.
A ajuda externa, controlada estritamente por Israel, chega a conta-gotas principalmente do Egito, mas é insuficiente.
Os Estados Unidos pressionam Israel para que facilite a entrada de ajuda por estrada e começou a construção de um cais flutuante no litoral de Gaza para receber insumos, que deve estar em operação na quinta-feira.
Em Rafah, os deslocados que sofreram com o frio durante o inverno estão expostos agora à propagação de doenças e de fome com o aumento das temperaturas.
O conflito começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em estatísticas israelenses.
As autoridades israelenses estimam que 129 pessoas permanecem retidas em Gaza, das quais 34 teriam morrido.
Israel lançou uma ofensiva de represálias contra o Hamas, que já deixou 34.568 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
O jornal The New York Times reportou que altos funcionários israelenses esperam que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emita ordens de prisão contra membros do governo e que Netanyahu pode estar entre eles.
"Tentar usar o Tribunal Penal Internacional contra Israel, que combate o terrorismo, representa um claro e imediato perigo para as democracias e as nações livres e amantes da paz que respeitam as regras do direito internacional", afirmou Herzog durante seu encontro com Blinken.
Segundo o jornal americano, autoridades do Hamas também poderiam ser acusadas pelo tribunal de Haia.