A estação de Lyman, atingida pelo bombardeio russo, no leste da Ucrânia, no dia 13 de abril de 2024
Anatolii STEPANOV
A estação de Lyman, atingida pelo bombardeio russo, no leste da Ucrânia, no dia 13 de abril de 2024
Anatolii Stepanov

A Rússia intensifica os bombardeios à rede ferroviária ucraniana para "paralisar" o envio de remessas ocidentais antes de lançar uma nova ofensiva, disse à AFP um funcionário do alto escalão dos serviços de segurança da ex-república soviética nesta sexta-feira (26).

Na quinta-feira, Moscou bombardeou infraestruturas ferroviárias nas regiões de Donetsk, no leste, em Kharkiv, no nordeste, e Cherkasy, no centro do país.

"São manobras típicas antes de uma ofensiva", afirmou a fonte, que falou sob a condição de anonimato. O objetivo é "interromper as entregas, o transporte de carga militar", acrescentou.

Na sexta-feira, o Exército russo reivindicou o bombardeio a um trem que transportava armas ocidentais na localidade de Udachne, na região de Donetsk, bem como "tropas e equipamentos" militares em Balakliya, em Kharkiv.

A Forças Armadas russas não informaram sobre a data dos ataques, mas parecem corresponder aos incidentes de quinta-feira mencionados pelas autoridades ucranianas.

A Rússia multiplicou seus bombardeios contra infraestruturas ucranianas desde março, sobretudo usinas energéticas e a rede ferroviária do país — fundamental para o transporte militar, uma vez que o tráfego aéreo civil ficou paralisado com o início da invasão russa em fevereiro de 2022.

Estes ataques ocorrem no momento em que é anunciada a ajuda militar americana à Ucrânia, após meses de bloqueio no Congresso dos Estados Unidos por rivalidades políticas internas.

- "Ataques indiscriminados" -

As armas ocidentais fornecidas a Kiev, especialmente as munições de artilharia e defesa antiaérea, são entregues de forma sigilosa através de países vizinhos como a Polônia.

Há "um aumento dos ataques contra a infraestrutura ferroviária", alertou na quinta-feira Olesksandr Pertsovsky, diretor-executivo da Ukrzaliznytsia, a companhia ferroviária ucraniana.

"Estamos vendo que os ataques são dirigidos à logística ferroviária e afetam principalmente locais civis", declarou, acrescentando que "estão sendo realizados ataques indiscriminados contra estações ferroviárias, o que é uma forma muito primitiva de fazer as coisas".

As ferrovias ucranianas já haviam sido alvo de bombardeios nos últimos anos, como em Kramatorsk, no leste, onde um ataque russo deixou dezenas de mortos em abril de 2022.

No dia 19 do mesmo mês, um ataque com bombas matou uma funcionária da Ukrzaliznytsia e deixou outros sete feridos na região de Dnipro. Uma semana antes, a estação Sumy, no norte do país, foi atacada.

As forças ucranianas, enfraquecidas por uma contraofensiva mal-sucedida no verão (hemisfério norte) de 2023 e a paralisação da ajuda militar americana, enfrentam uma escassez de militares e munições, o que aumentou a pressão em grande parte do front.

"Enquanto esperávamos por uma decisão sobre o apoio americano, o Exército russo conseguiu tomar a iniciativa no campo de batalha", reconheceu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em reunião por videoconferência com dezenas de aliados internacionais.

"Agora ainda podemos não só estabilizar a frente, mas também avançar, alcançando nossos objetivos na guerra", acrescentou, após o presidente dos EUA, Joe Biden, ter assinado na quarta-feira a lei, aprovada após seis meses de debates, que prevê 61 bilhões de dólares (R$ 321 bilhões na cotação atual) de ajuda militar e econômica a Kiev.

A Espanha anunciou nesta sexta-feira que enviará mísseis para sistemas antiaéreos Patriot à Ucrânia.

- Prenúncio de dias difíceis -

O diretor do Serviço Ucraniano de Inteligência (GUR), Kirilo Budanov, alertou na segunda-feira que a situação no front pioraria em meados de março e junho. Será um "período difícil" para a Ucrânia, insistiu.

Uma análise compartilhada por funcionários de alto escalão ocidentais avalia que os próximos três meses serão "muito difíceis" para Kiev.

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, disse na sexta que casos "inaceitáveis" de espionagem pró-Rússia na Alemanha e no Reino Unido não impedirão a aliança militar de apoiar a Ucrânia.

No mesmo dia, disparos de artilharia russa mataram duas mulheres na região de Sumy, na fronteira com a Rússia, informou o Ministério do Interior da Ucrânia.

Outras três pessoas morreram em bombardeios ucranianos nas regiões russas de Kursk, Briansk e Luhansk, quase inteiramente ocupada por Moscou, segundo autoridades russas.

Nesta sexta, a Prefeitura de Kiev anunciou a evacuação de dois hospitais da capital ucraniana, incluindo um pediátrico, pelo temor de bombardeios russos, após a divulgação de um vídeo que anunciava "um ataque inimigo contra estas instalações".

    AFP

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