Aluna de escola de arte pinta o rosto e convoca a população a votar, em Mumbai
AFP
Aluna de escola de arte pinta o rosto e convoca a população a votar, em Mumbai

A Índia iniciou nesta sexta-feira (19) eleições  de seis semanas que têm o primeiro-ministro nacionalista Narendra Modi como favorito, diante de uma oposição enfraquecida e relegada ao segundo plano.

Quase 970 milhões de pessoas estão habilitadas a votar nas maiores eleições do mundo, que acontecem no país que desbancou a China como o mais populoso do planeta.

A votação para renovar os 543 membros da Câmara baixa acontecerá em sete etapas, até 1º de junho. A apuração está prevista para o dia 4 daquele mês, quando os resultados serão divulgados.

Correspondentes da AFP acompanharam o começo da votação na cidade sagrada hindu de Haridwar, no norte do país, às margens do rio Ganges.

Modi pediu aos eleitores que "exerçam o seu direito de voto em número recorde". "Cada voto conta e cada voz importa", afirmou na rede social X.

O primeiro-ministro, 73 anos, goza de grande popularidade após uma década no cargo, durante a qual a Índia emergiu como potência econômica e aumentou sua influência diplomática. Seu mandato, pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), também se caracterizou por uma tentativa de alinhar a política do governo com a religião maioritária do país, o hinduísmo.

A popularidade de Modi entre os fiéis hindus resultou em grandes vitórias do BJP nas eleições de 2014 e 2019.

Embora a Índia seja constitucionalmente secular, os 220 milhões de muçulmanos e outras minorias do país se sentem ameaçados pelo fervor nacionalista hindu.

Um exemplo dessa política foi a presença de Modi neste ano na inauguração de um grande templo ao deus hindu Ram construído sobre as ruínas de uma mesquita histórica destruída por fanáticos hindus. "A nação está criando a gênese de uma nova história", disse Modi às milhares de pessoas que compareceram à cerimônia transmitida pela televisão nacional.

'Padrão de repressão'

Analistas preveem uma vitória clara de Modi contra uma aliança fragmentada de mais de duas dezenas de partidos que ainda não nomeou um candidato a primeiro-ministro. Suas chances aumentaram após vários processos criminais contra seus rivais e uma investigação fiscal que congelou as contas bancárias do maior partido de oposição, o partido do Congresso.

Líderes da oposição e organizações de defesa dos direitos humanos acusam o governo Modi de ter armado esses casos para enfraquecer os rivais. "Não temos dinheiro para fazer campanha, não podemos apoiar nossos candidatos", disse no mês passado Rahul Gandhi, líder do Partido do Congresso.

Em uma mensagem na plataforma X, o partido opositor fez um apelo aos cidadãos para que "acabem com a inflação, o desemprego, o ódio e a injustiça" com o seu voto.

Mas a mensagem deste partido e do seu líder – filho, neto e bisneto de primeiros-ministros – não parece ter apoio entre a população, que deve conceder um terceiro mandato a Modi.

As pesquisas de opinião são raras na Índia, mas uma sondagem do instituto Pew divulgada no ano passado mostrou que quase 80% da população tem uma opinião favorável do primeiro-ministro.

Cortejo diplomático

Sob a liderança de Modi, a Índia ultrapassou o Reino Unido, antiga potência colonial, como quinta potência econômica mundial.

Porém, muitos não foram beneficiados pelo progresso, recorda Gabbar Thakur, um eleitor de Haridwar "decepcionado com o governo".

"O chamado desenvolvimento não chegou onde moro", disse o homem que ganha a vida fotografando turistas no Ganges.

No atual cenário, o gigante do sul da Ásia também é cortejado por nações ocidentais como possível aliado diplomático e econômico contra a China, seu rival regional.

Essa aproximação ignora com frequência as restrições recentes à imprensa e aos direitos civis que levaram grupos como a Anistia Internacional a reduzir suas operações na Índia.

Durante o mandato de Modi, observou-se "um padrão de repressão para minar a democracia e o espaço cívico", denunciou o grupo Civicus em relatório divulgado na quarta-feira.

"Modi prendeu alguns líderes da oposição e não gosto disso", afirmou Birong Karma, um agricultor de 35 anos do distrito de Bastar, no coração florestal da Índia.

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