
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira (23) um novo lote de arquivos do caso Jeffrey Epstein, em meio à pressão política por transparência.
Mesmo com o aumento do acervo público, Ghislaine Maxwe ll permanece como a única pessoa condenada criminalmente como cúmplice do financista, morto em 2019 enquanto aguardava julgamento.
A permanência desse “vazio” de responsabilização de terceiros é explicada por uma combinação de fatores: a morte do principal acusado, acordos anteriores que limitaram o alcance de investigações, dificuldades de prova para imputar crimes a outras pessoas e decisões de promotores de não apresentar novas denúncias sem evidências robustas.
Por que só Maxwell virou ré e foi condenada
Maxwell foi julgada e condenada em 2021 por crimes federais ligados ao recrutamento e aliciamento de adolescentes para abuso sexual associado a Epstein. Em 2022, recebeu pena de 20 anos.
O Departamento de Justiça afirmou que ela “assistiu, facilitou e participou” do esquema ao longo de anos, o que sustentou a acusação e o veredito no tribunal federal de Nova York.
Já a responsabilização criminal de outras pessoas depende de um padrão probatório mais alto do que o necessário em ações civis, comuns no caso.
Nomes podem aparecer em registros, agendas, e-mails ou relatos, mas isso não basta, por si só, para uma denúncia: promotores precisam demonstrar nexo, autoria e elementos específicos do crime em cada jurisdição.
Além disso, parte do debate público envolve documentos que não são conclusivos.
Nesta semana, por exemplo, o próprio Departamento de Justiça reconheceu que alguns itens divulgados incluem alegações não verificadas, e que um material atribuído a Epstein era falso, segundo o FBI.
“O simples fato de um documento ser divulgado (…) não torna as alegações verdadeiras”, disse o órgão ao tratar do episódio.
O efeito Epstein: morte, acordos e limites da investigação
A morte de Epstein em uma cela federal, em agosto de 2019, encerrou o processo criminal contra ele e reduziu a possibilidade de cooperação formal do principal réu, um instrumento frequentemente usado para aumentar investigações sobre redes e eventuais cúmplices.
A conclusão oficial do Instituto Médico-Legal de Nova York apontou suicídio, embora o caso tenha seguido cercado de questionamentos públicos.
Outro ponto sensível é o acordo de 2007–2008 na Flórida, que resultou em punição mais branda para Epstein e incluiu cláusulas debatidas por preverem proteção a “coconspiradores” não identificados.
O tema foi revisitado em apurações e relatórios internos do próprio Departamento de Justiça.
Em 2025, Maxwell voltou ao centro da cena ao ser ouvida pelo número dois do Departamento de Justiça, Todd Blanche, em entrevistas registradas em documento oficial.
Segundo o advogado dela, David Oscar Markus, Maxwell foi questionada sobre cerca de 100 pessoas e respondeu “todas as perguntas”.
A iniciativa também motivou movimentação no Congresso, com intimação para depoimento na prisão na Flórida.