
O Papa Francisco , de 87 anos, apresenta um "quadro clínico complexo" e precisará continuar internado para um tratamento adequado, segundo comunicado oficial do Vaticano .O pontífice, que já vinha enfrentando dificuldades respiratórias, foi hospitalizado na última sexta-feira (14) no hospital Agostino Gemelli, em Roma.
Nesta segunda-feira (17), o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, informou que exames recentes detectaram uma infecção polimicrobiana nas vias respiratórias. Mas o que significa esse diagnóstico e quais os impactos para a saúde do Papa? Alexandre Naime Barbosa , Chefe de Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, detalhou, em entrevista ao Portal iG , os perigos que a infecção pode trazer à saúde do pontífice.
O que é uma infecção polimicrobiana?
"Uma infecção polimicrobiana das vias respiratórias ocorre quando mais de um micro-organismo, como vírus, bactérias ou fungos, acomete simultaneamente o sistema respiratório, levando a um quadro clínico mais complexo. No final da semana passada, o Vaticano divulgou que o paciente estava com um quadro de bronquite. Em situações como essa, é possível que uma infecção viral inicial tenha evoluído com uma superinfecção bacteriana, agravando o estado de saúde", iniciou Alexandre Naime.

"Esse fenômeno ocorre porque as infecções virais podem comprometer os mecanismos de defesa do trato respiratório, facilitando a proliferação de bactérias oportunistas. Esse processo é especialmente comum em pacientes idosos e naqueles com doenças pulmonares prévias, pois sua capacidade de resposta imunológica pode estar reduzida. Nesses casos, a evolução para um quadro mais grave, como pneumonia bacteriana, torna-se uma preocupação clínica relevante", acrescentou.
A infecção polimicrobiana pode ser letal?
Segundo Alexandre Naime, infecções respiratórias que poderiam ser brandas em pessoas mais jovens tendem a evoluir para quadros mais graves na população idosa. Isso ocorre porque o desgaste natural dos pulmões dificulta a eliminação de secreções, favorecendo a proliferação de micro-organismos. Além disso, doenças crônicas preexistentes, como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca, podem agravar ainda mais o quadro, tornando a recuperação mais difícil.
Nos casos mais severos, há risco de insuficiência respiratória, situação em que os pulmões inflamados não conseguem absorver oxigênio de maneira eficiente. Nessas condições, a necessidade de suporte ventilatório e internação prolongada aumenta, especialmente se a infecção atingir a corrente sanguínea e desencadear uma sepse – um quadro grave que pode comprometer órgãos vitais.
Ainda segundo Alexandre Naime, alguns estudos indicam que infecções respiratórias em idosos hospitalizados apresentam altas taxas de complicação e mortalidade. Pneumonias adquiridas na comunidade, por exemplo, podem ter uma taxa de letalidade entre 10% e 30%, dependendo da gravidade e da presença de outras doenças. Se houver necessidade de ventilação mecânica, os riscos aumentam significativamente. No caso do Papa Francisco, sua idade e histórico médico fazem com que a internação e o tratamento imediato sejam essenciais para evitar complicações.