Por Rav Sany* (Rabino Sany Sonnenreich)
Tive a imensa alegria e honra de conhecer o brilhante executivo e ser humano Senor Abravanel e, ao mesmo tempo, o mito eterno, Silvio Santos. O abençoado encontro foi de um magnetismo e de uma sabedoria ímpares. Logo, desde o início de nossa conversa, consegui sentir nele que seus valores judaicos estavam enraizados em seu ser.
Seu senso de humanidade, de respeito, de altruísmo, empatia e benemerência eram latentes em sua potente luz que emanava em nosso encontro. Essa energia poderosa mostrava que ele estava, sempre, conectado a D´us.
Naquele afortunado dia, ele, mesmo com a idade avançada, havia comandado, antes de nosso encontro, seu programa por oito horas consecutivas, de pé, com energia de jovem e, depois de nossa conversa, teria reunião de diretoria. Que exemplo!
Não foram poucas as vezes que falou de seu judaísmo, com orgulho, e discorreu sobre seu principal ancestral, Dom Isaac Abravanel, uma pessoa destacada na Espanha da Idade Média que, apesar do prestígio que tinha junto aos reis locais, não abandonou seu povo quando este foi expulso de lá. Em todo Yom Kipur, Dia do Perdão, sua presença na sinagoga era aguardada e prestigiada.
E, por este modus vivendi, por este seu comportamento discreto, baseado no judaísmo, é que pediu que seu sepultamento seguisse estritamente o rito judaico, o qual explico a seguir.
O rito de enterro no judaísmo
O corpo volta ao pó e a alma, ao criador!
Na sociedade ocidental, é comum que funerais sejam adiados por dias, ou até semanas, visando a conveniência dos enlutados e de seus convidados. No entanto, segundo a tradição judaica, o sepultamento deve ocorrer o mais rápido possível. Isso se dá porque, entre a morte e o enterro, a alma do falecido se encontra em um estado de transição entre dois mundos, não estando plenamente na Terra, nem preparada para ser admitida no Céu.
Acredita-se que a alma não habita mais o corpo após a morte, mas, enquanto o corpo não é enterrado, ela não pode se afastar completamente. Nesse intervalo, a alma paira ao redor do corpo, desorientada, devido à súbita separação da matéria que a abrigou durante toda a vida.
Uma vez que o corpo retorna ao pó...
Como está escrito em Bereshit (Gênesis 3 : 19): “Da terra viestes, para terra voltarás”
Assim a alma pode finalmente regressar ao Céu, de onde veio. Apenas após o enterro, a alma inicia sua jornada gradual rumo aos reinos espirituais mais elevados.
Nas comunidades judaicas fora de Israel, é costume enterrar os mortos em caixões simples de madeira, que se decompõem rapidamente, permitindo que o corpo se reintegre à terra de forma natural. Em Israel, essa prática é levada ainda mais a sério: o costume predominante é que os mortos sejam enterrados diretamente no solo, envoltos apenas em suas mortalhas, sem caixão, para que o retorno à terra seja ainda mais direto.
Há também uma tradição entre os homens judeus de serem enterrados envoltos no talit, o manto de oração utilizado durante a vida, como símbolo de sua ligação com a espiritualidade e a fé.
E foi exatamente o que foi feito com o nosso eternamente amado Silvio Santos: uma cerimônia discreta, célere, simples, judaica, digna da sua imensa magnitude.
Que sua alma descanse junto ao Criador e aos justos, e que seu exemplo possa inspirar a imensa legião de fãs e admiradores, como eu, que, eternamente o terão em nossos corações.
Baruch Dayan Haemet – BDH – Bendito seja o Verdadeiro Juiz.