Líder indígena Guarani Elson Silva Mirim
Arquivo pessoal
Líder indígena Guarani Elson Silva Mirim

Por Amorozzo Jorge*

O evento indígena esportivo já acontece há alguns anos na Tekoa Guyrapa-Ju do Território Tenondé Porã, localizada no Povoado Santa Cruz, em São Bernardo do Campo (SP). No local, vivem mais de 60 indígenas sob a liderança de Elson da Silva Mirim, que é o organizador do campeonato de futebol e também das festividades comemorativas do 11º aniversário da Tekoa (aldeia) Guyrapa-Ju.

O grandioso evento festivo acontecerá no próximo dia 15 de julho, a partir das 8h até às 18h, na Aldeia Guyrapa-Ju, e além do Torneio de Futebol entre Aldeias do Território Tenondé Porã, onde 20 times masculinos e 10 femininos da linhagem indígena Guarani, disputarão as três primeiras posições em cada categoria. Haverá também atração musical regional, ritual de pintura corporal e outras atividades tradicionais dos povos indígenas, além de jogos de futebol com times mistos entre homens e mulheres das instituições apoiadoras do evento e dos povos indígenas aldeados ou em contexto urbano: a Fundação Volkswagen, o Instituto Cultural do Brasil e o Coletivo Rosanegra Ação Direta e Futebol.

Assim como toda coletividade em qualquer lugar do planeta que se mobiliza para realizar ações em prol da sua comunidade, objetivando assegurar a própria  existência e reconhecimento dos valores culturais do seu povo, enfrenta adversidades pelo caminho; os povos indígenas, especialmente do Território Tenondé Porã, em São Paulo, precisam invocar as forças ancestrais e sabedoria dos líderes das tekoas para abrir caminhos entre as selvas de pedras que persistem em soterrar  as tradições desses guerreiros indígenas. Aliás, este é um perverso fenômeno mundial.

Para este evento, por exemplo, que representa uma forte ação de resistência e preservação das tradições indígenas, cada time que disputará o campeonato no próximo dia 15 de julho, pagará uma taxa à organização e a receita geral será distribuída como prêmio para os três times primeiros colocados em cada categoria.

O evento acontece há 11 anos
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O evento acontece há 11 anos

No entanto, instituições valorosas que acreditam na capacidade humana de criar alternativas a fim de garantir a própria existência através da preservação da cultura do seu povo, como o Instituto Cultural Brasil que recebe o apoio da Fundação Volkswagen e outros parceiros, e o transforma em ações solidárias junto aos povos indígenas do Território Tenondé Porã, atenuando os impactos das adversidades da guerra diária por sobrevivência e reconhecimento, com a doação de alimentos, vestimentas e artigos esportivos, além de agasalhos, meias e cobertores para as estações frias.

De igual forma, a Fundação Volkswagen, acolhe os povos periféricos e originários de forma extraordinariamente humanitária, destinando recursos às instituições sem fins lucrativos que desenvolvem ou apoiam projetos sociais, confirmando assim seu compromisso com a promoção dos Direitos Humanos, e a valorização da Arte, Cultura e Educação, por meio de ações permanentes.

A Associação Paulista de Imprensa, que completou 90 anos em defesa das Liberdades de Expressão, Informação e Comunicação Social, também reforça o seleto grupo de instituições que desempenham importantes ações humanitárias no Brasil e reconhece nos povos indígenas a origem da essência que nos torna um povo guerreiro por natureza.

Para o Dr. Sérgio de Azevedo Redó, Presidente da Associação Paulista de Imprensa, os povos originários são nossos irmãos e cumprem imprescindível papel para a evolução da humanidade desde os idos de 1500.

O líder da tekoa Guyrapa-Ju, Elson Silva Mirim, afirma que o Centro de Referência de Assistência Social-CRAS da Prefeitura de São Bernardo do Campo, no povoado Riacho Grande e o Comitê Intersetorial dos Indígenas de São Bernardo do Campo - composto por representantes da sociedade civil e instituições públicas  -, assim como a Associação dos Nordestinos em São Paulo, também desenvolvem importantes ações junto às comunidades indígenas do município.

Para a Socióloga Isabel Rocha Souza, "esse fenômeno é compreendido como um movimento eterno de transformação da cultura, de acordo com os novos elementos de outras culturas que um determinado povo entra em contato. Neste caso, o futebol, que é parte da identidade do povo brasileiro. O que as Ciências Sociais denominam de ressignificação de certos elementos da Cultura Indígena, mas que não implica em descaracterização cultural".

O Território Indígena Tenondé Porã, onde habitam mais de 3 mil Guaranis distribuídos em 14 tekoas, tem uma extensão com mais de 15 mil hectares situado no extremo Sul da Cidade de São Paulo, abrangendo partes dos municípios Mongaguá, São Bernardo do Campo e São Vicente, até o litoral Paulista, além de alguns trechos com unidades de conservação, como a Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos, do Município de São Paulo e o Parque Estadual da Serra do Mar.

Fábio Féter, presidente do Instituto Cultural Brasil, destaca que vem desenvolvendo ações contínuas já há algum tempo em todas as aldeias do Território Indígena Tenondé Porã, e além da participação efetiva no evento do próximo dia 15 de julho na tekoa Guyrapa-Ju, onde distribuirá artigos esportivos e alimentos, além de promover a partida de futebol de abertura conjuntamente com a Fundação Volkswagen e o Coletivo Rosanegra Ação Direta e Futebol; também realizará no dia 20 de julho a tradicional Campanha de Inverno na comunidade indígena com os colaboradores do Grupo Volkswagen, na Aldeia Guarani, no Povoado Riacho Grande, no horário das 10h às 13h.

As atividades da Campanha de Inverno que acontecem entre os meses de junho e julho, segundo Fábio Féter, envolve visita monitorada na Aldeia Guarani, pinturas corporais, e diálogos sobre cidadania e floresta com a temática: “Indígenas Guaranis, uma das mais representativas etnias das Américas, e um panorama dos povos indígenas do ABC Paulista, aldeados e em contexto urbano”, com a participação da Coordenadora dos Povos Indígenas do Sudeste, Avani Florentino de Oliveira, indígena Fulni-ô; o Conselheiro dos Povos Indígenas de São Paulo, Elson Silva Mirin e o Coordenador da Rede Nacional de Articulação Indígena em Contexto Urbano, Marcos Aguiar.

* Amorozzo Jorge é jornalista e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa.

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